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Inflação dos alimentos trava retomada de setores mais afetados pela pandemia
Economia

Inflação dos alimentos trava retomada de setores mais afetados pela pandemia

| NO CEARÁ | Alimentação fora do lar, turismo e setor de eventos sofrem com altas de quase 100% em alguns produtos e fazem adaptações para não repassar custos aos consumidores
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Carne foi um dos produtos cujo impacto da inflação foi dos mais severos no Ceará, e isso refletiu diretamente sobre a alimentação fora do lar (Foto: Fernanda Barros)
Foto: Fernanda Barros Carne foi um dos produtos cujo impacto da inflação foi dos mais severos no Ceará, e isso refletiu diretamente sobre a alimentação fora do lar

Quando você pensa em um café da manhã farto, provavelmente deve se lembrar de alguma pousada ou hotel em que se hospedou. Se foi a um aniversário ou casamento no pré-pandemia deve lembrar de algum salgadinho, docinho ou prato delicioso.

 

Já quando você vai a uma churrascaria ou pizzaria não deve conseguir imaginar um cenário diferente de variados cortes de carne bovina, no primeiro caso, e de saborosas pizzas com muito queijo derretido, no segundo, especialmente nos tradicionais rodízios.

Pois bem, os setores de eventos, alimentação fora do lar e turísticos foram duramente atingidos nas duas ondas pandêmicas que atingiram o País. Para se ter uma ideia, em Fortaleza desde março de 2020, os restaurantes ficaram cerca de 5 meses sem poder atender presencialmente. Já os buffets ficaram 11 meses fechados. No restante do período, ambos funcionaram sob restrições. Por sua vez, embora não tenham sido proibidos de funcionar, os meios de hospedagem chegaram a ter taxa de ocupação próxima a zero.

Agora, ainda sem funcionamento a pleno vapor e tentando se recuperar dos prejuízos esses segmentos enfrentam um novo desafio, que é também sentido por quem vai aos supermercados: a alta inflação dos alimentos. Nos 18 meses de pandemia, alguns itens que servem de base para preparação de refeições em buffets, restaurantes, pousadas e hotéis, como o azeite extra virgem, o queijo coalho e o filé mignon, tiveram aumentos de 91,66%, 85,71% e 57,89% respectivamente.

Em linhas gerais, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), dos últimos 12 meses, foi de 11,2% em Fortaleza, somente os itens que compõem a cesta básica subiram 19,5%, no mesmo período. Embora comumente associados ao consumo diário das famílias, esses produtos também estão entre os mais comprados por empresas dos segmentos de alimentação fora do lar e hospedagem. Entre eles, os que mais subiram foram o óleo de soja (62,21%) e o açúcar (41,06%).

Para tentar não amargar a experiência turística de quem visita Fortaleza, a presidente da Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo do Ceará (AMHT), Vera Lúcia da Silva, conta que hotéis e pousadas têm apostado em negociar conjuntamente com fornecedores, a fim de reduzir o impacto da inflação sobre os custos de operação e evitar o repasse aos hóspedes. “A gente tem comprado várias coisas assim, trocado informações e formado uma rede de cooperação”, explica.

Ela lembra que, no início da pandemia, já eram aguardados reflexos da crise sanitária nos preços de alguns itens alimentícios, mas pontua que a intensidade foi superior à esperada. “A gente sente como se a inflação fosse de 100%. Para agravar a situação, a gente não consegue repassar o mínimo para nossas tarifas e nem reduzir nosso consumo, já que o brasileiro é acostumado à fartura quando viaja. Então, o impacto foi monstruoso”, define.

A mesma opinião compartilha o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE), Taiene Righetto. “O impacto da inflação dos alimentos foi tão violento e se soma às altas dos aluguéis e da energia. Uma das medidas que a gente está adotando é mudar o cardápio. Hoje, temos muito mais pratos à base de carne de porco, por exemplo. Quando não dá o jeito é reajustar, como no caso da muçarela usada nas pizzas”, lamenta.

No caso dos buffets, o drama é ainda maior. Além de terem permanecido mais tempo sem poder operar, as empresas do setor costumam trabalhar com longos contratos, que dão pouca margem para reajustes ou mesmo para mudanças no cardápio contratado.

Rodrigo Viriato, sócio do Alice’s Buffet, lembra que “tinha muito evento quitado. Às vezes, o cliente terminou de quitar em agosto e contratou antes da pandemia. Ou seja, a gente está falando não de um, mas de dois anos de inflação acumulada para o setor.”

Confira o último episódio de Economia na Real!

O peso da inflação sobre o preço dos alimentos

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