Quando o DJ Alok subiu ao palco do Aterro da Praia de Iracema, em Fortaleza, nas últimas horas do dia 31 de dezembro de 2019 para se apresentar e fazer a contagem regressiva para o início do ano de 2020, nem ele e nem ninguém, entre as cerca de 1 milhão de pessoas que se reuniram para comemorar o Réveillon no entorno, poderia imaginar que os 731 dias seguintes seriam marcados pela maior pandemia a atingir o mundo em mais de 100 anos.
O público presente à orla da Capital e o cantor Jorge Benjor que se preparava para exaltar o "País Tropical" no primeiro show do novo ano também não imaginavam que assistiriam aos últimos 12 minutos de queima de fogos a ser realizada de forma oficial, já que, no meio tempo entre aquele dia e o fim de ano que se avizinha, o poder público municipal aprovou uma lei proibindo esse tipo de artifício, visando proteger a saúde auditiva de animais, crianças, pessoas com deficiência e idosos.
Ainda há poucas certezas sobre o que vai acontecer em Fortaleza e em outros municípios cearenses na passagem do dia 31 de dezembro de 2021 para o dia 1º de janeiro de 2022, mas o avanço da vacinação no Estado e a projeção de que até 80% da população estará imunizada contra a Covid-19 até lá deixam gestores públicos e representantes das cadeias produtivas envolvidas com as festas de Réveillon bastante otimistas de que elas serão, sim, realizadas, embora em formatos diferentes dos habituais.
A semana que passou foi marcada por, pelo menos quatro reuniões para tratar do tema. Três envolvendo o grupo de trabalho Governo do Estado-Prefeitura de Fortaleza, criado na última segunda-feira, 18, para discutir as celebrações de fim de ano, e uma com o Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia. Nesses encontros, foram apresentados cenários epidemiológicos positivos, bem como discutidos os formatos, protocolos e detalhes para o sinal verde ao Réveillon, além das propostas e reivindicações do setor de eventos, por exemplo.
Segundo o secretário-executivo de Planejamento e Orçamento da Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE), Flávio Ataliba, “houve um entendimento prévio do grupo de trabalho para que possamos organizar as festividades do fim do ano, inclusive, em espaços públicos. Quanto aos estabelecimentos privados, evidentemente, nós estamos estudando a ampliação do público que vá frequentar espaços tais como clubes, casas de shows, hotéis, grandes condomínios, entre outros”.
Ataliba, que também coordena o grupo das celebrações, afirmou que outra ideia surgida do debate com a iniciativa privada e com a Prefeitura de Fortaleza é a de fazer um planejamento com o máximo possível de antecedência, em virtude da necessidade de organização logística. “Essa é uma reivindicação extremamente justa, para dar tempo eles realizarem seus contratos e estabelecerem todo o cronograma de festas”, pontuou o gestor, que destacou ainda a importância das celebrações para o segmento turístico e para os informais.
Ele confirmou que em sendo confirmada a autorização para realizar-se o Réveillon haverá exigência do uso de máscaras e da comprovação da imunização completa para os participantes do evento, o informalmente chamado ‘passaporte da vacina’. A grande preocupação do grupo é com relação às crianças, público que ainda não tem perspectiva de quando será incluído no Plano Nacional de Imunizações (PNI). Atualmente, apenas quem tem mais de 12 anos pode ser vacinado.
Também integrando o grupo de trabalho que discute as alternativas para as celebrações de fim de ano, a Secretaria de Governo (Segov) do município de Fortaleza confirmou a O POVO que a Prefeitura já planeja diferentes cenários para o evento. Entre as possibilidades analisadas estão: o uso de ‘fogos silenciosos’; festas descentralizadas em diferentes pontos da cidade e até a possibilidade de espetáculos audiovisuais, em vez de shows convencionais.
Caso opte por realizar eventos públicos, a Segov destacou, ainda, que para tornar viável a exigência da comprovação de imunização completa será preciso criar espaços com controle de acesso de público. Sobre esse ponto, a secretaria também citou a necessidade de se definir a quantidade de pessoas que poderão acessar esses eventos.
Os participantes precisariam fazer um agendamento prévio, a fim de manter a natureza gratuita das festas de Réveillon realizadas pela Prefeitura de Fortaleza. Ainda não está certo se o Aterro da Praia de Iracema receberá parte dessa programação, como ocorre tradicionalmente.
A única unanimidade entre poder público, iniciativa privada, cidadãos fortalezenses e visitantes é o desejo de que 2022 traga "muito dinheiro no bolso" e, principalmente, "saúde para dar e vender", com a superação da pandemia de Covid-19.
RÉVEILLONS PELO PAÍS
Cidades com comemorações convencionais
Porto Alegre
São Paulo
Rio de Janeiro
Maceió
João Pessoa
Comemoração parcial*
Florianópolis
Comemoração condicionada**:
Manaus
Sem réveillon público***
Curitiba
Goiânia
Em análise
Salvador
Fortaleza
Natal
Campo Grande
Brasília
Sem perspectivas
Belo Horizonte
Vitória
Aracaju
Recife
Teresina
São Luís
Belém
Macapá
Boa Vista
Rio Branco
Porto Velho
Cuiabá
Palmas
*Haverá queima de fogos, mas não shows
** Prefeitura informou que só realizará se atingir 70% de população imunizada
*** Cidades não costumam realizar festas públicas de fim de ano, mas terão festas privadas
PERSPECTIVAS PARA O RÉVEILLON EM FORTALEZA
Eventos públicos
Em fase de estudos, mas a tendência maior é de que sejam realizados com controle de acesso do público, que deve estar completamente imunizado. Ainda não há definição se o Aterro da Praia de Iracema será o principal polo, mas há tendência à descentralização. Ambulantes devem ser contemplados e autorizados a trabalhar, com restrições.
Hotéis, clubes e grandes condomínios
Devem realizar festas privadas, de acordo com a capacidade de público que for permitida para o período e com exigência de imunização completa. Há expectativa de que, pelo menos, uma grande atração nacional, Wesley Safadão, participe da programação de um grande hotel.
Barracas de praia
As da Praia do Futuro devem realizar festas privadas, de acordo com a capacidade de público que for permitida para o período e com exigência de imunização completa. A tendência é de que só haja atrações locais, As da Beira-Mar devem funcionar como ponto de apoio para o evento no Aterro, caso ele ocorra.
PERSPECTIVAS PARA O RÉVEILLON NO INTERIOR
Tendência é que municípios sigam regras autorizadas para Fortaleza. Jijoca de Jericoacoara já anunciou que não realizará festa pública, mas está previsto, pelo menos um grande evento privado em hotel do município.