Mais 7,04% e 9,15% de reajustes nos preços dos litros de gasolina e diesel, respectivamente, feitos pela Petrobras ontem, 25, devem gerar mais desorganização nas cadeias econômicas do Ceará - uma vez que os combustíveis vêm ditando o ritmo dos aumentos no Estado. No ano, o preço médio do litro da gasolina comum já teve reajuste de 33,59% nas bombas e o litro do diesel, 35,01%, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para o Ceará.
 Isso porque, segundo explica o engenheiro e consultor Ricardo Pinheiro, a política de preços da Petrobras visa a paridade entre o mercado interno e o internacional e, hoje, a defasagem do preço cobrado no Brasil para o exterior chega a 19% no caso gasolina e 21% para o diesel.
Essa perspectiva de alta, além de trazer mais tensão ao debate sobre a responsabilidade pelos aumentos e as alternativas para amortizar essa variação, impacta diretamente em diversos segmentos que pressionam a inflação.
Procurado, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE) afirmou que "os postos são repassadores de preços." Já sobre o percentual levado à bomba superar o da Petrobras, Antonio José Costa, assessor econômico do Sindipostos, voltou a dizer que "o mercado é livre" para ajustar os valores e disse não saber "se a distribuidora vem com mais ou menos" do que o percentual operado pela Petrobras.
"A variação dos preços dos combustíveis são muito rápidos, mas todas as outras energias tendem a subir. Tintas, material plástico, pneu... Tudo que vier derivado do petróleo vai ficar mais caro. Asfalto tem subido de preço estrondosamente, mas não é tão visto. Mas, em algum momento, isso vai gerar inflação e bater diretamente na porta do cidadão", avalia Pinheiro.
Energia, segundo ele, deve ser elevada porque 25% da produção do País tem o diesel e o gás natural como insumo. "O próprio carvão também sofre aumento. Afinal, os produtores de carvão também sobem porque vêem margem de ganho. É uma questão de oportunidade de mercado", analisa.
Outro segmento que é apenado pela situação e vem ameaçando greve é o dos caminhoneiros autônomos. O consultor, no entanto, diz não acreditar na força da categoria hoje, uma vez que parte da base de apoio da greve de 2018 continua apoiando o governo.
Mais presentes na realidade do consumidor cearense e opção de trabalho para muitas pessoas que perderam o emprego com a crise deflagrada nos últimos anos pela pandemia, os motoristas de aplicativos devem "sumir das ruas", segundo Pinheiro.
"A margem deles não se paga com os preços que estão aí. Se o carro der um defeito ou receber uma multa, por exemplo, eles entram num prejuízo rapidamente porque trabalham com uma margem muito estreita que qualquer adversidade compromete a atividade", diz.
O câmbio é mais um elemento que deve agravar toda a desorganização, de acordo com ele. A fragilidade do real ante a moeda americana tem sido observada no mercado financeiro na última semana e tem reflexos imediatos sobre os combustíveis.