Logo O POVO+
Na era dos bancos digitais, pix vira alvo do crime e quadrilhas usam apps para limpar contas
Economia

Na era dos bancos digitais, pix vira alvo do crime e quadrilhas usam apps para limpar contas

Mesmo com barreiras de segurança como reconhecimento facial e biometria, criminosos conseguem acessar aparelhos e fazer limpa por aplicativos de banco em questão de minutos
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Pix e outros meios de pagamento digital precisam de cuidados com a segurança; veja dicas para evitar golpes e outros crimes (Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil)
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil Pix e outros meios de pagamento digital precisam de cuidados com a segurança; veja dicas para evitar golpes e outros crimes

Se antes era preciso enfrentar filas ou esperar durante dias por uma transferência, hoje as pessoas têm uma agência bancária nas mãos, a apenas alguns toques de distância. Da mesma forma, se antes era preciso explodir caixas eletrônicos ou cavar túneis para acessar agências bancárias e subtrair altas quantias em dinheiro, hoje os criminosos contam com essa mesma facilidade e as práticas delituosas possuem um alvo principal: o Pix, ferramenta de pagamentos instantâneos criada em 2020 pelo Banco Central.

O principal modo de operação das quadrilhas especializadas nesse tipo de roubo, segundo a Polícia Civil, é tirar o celular das mãos da vítima enquanto ele está em uso – seja na rua, pela janela do ônibus ou do carro – e manter o aparelho ativo, sem permitir que a tela seja bloqueada.

Assim, é possível acessar e movimentar os aplicativos existentes, alterar senhas, extrair dados e utilizar artifícios da tecnologia para burlar os sistemas de segurança que permitem a movimentação dos apps de bancos.

Um celular é roubado a cada cinco minutos apenas na cidade de São Paulo, segundo levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). A capital paulista registrou 17.044 casos do tipo nos meses de janeiro e fevereiro de 2022, uma alta de 4,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. 

O POVO solicitou dados sobre furtos e roubos de celulares no Ceará para a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS), mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.

Com a chegada das transações bancárias na era digital, hackers e golpistas encontraram um novo espaço para cometer crimes no Brasil – seja para comprovar a vulnerabilidade de sistemas, seja para exposição de informações pessoais ou utilização indevida de dados na internet –, os quais recebem o nome de crimes cibernéticos.

Apesar de ser uma modalidade vasta e que tem, em sua grande maioria, idosos, crianças e adolescentes como vítimas mais comuns, os crimes virtuais também ganham destaque com a prática de fraudes e estelionato contra jovens e adultos – o que obteve uma ampliação, inclusive, com a crescente demanda do e-commerce (o comércio eletrônico) durante a pandemia.

O avanço tecnológico é acompanhado de um debate sobre a privacidade dos dados pessoais, com foco nos aplicativos de uso financeiro, que ficam vulneráveis em meio à adaptação do crime para o ambiente virtual, com destaque para dispositivos móveis. Uma pesquisa da empresa de segurança PSafe apontou que, em fevereiro deste ano, o Brasil registrou 36 mil bloqueios de aparelhos por dia por conta de tentativas de golpes financeiros.

“A preocupação com segurança é algo relativamente novo e que exige uma mudança de mentalidade muito radical, por vezes, por parte das empresas, desenvolvedores de tecnologia e da sociedade. Por muito tempo as medidas de segurança foram vistas como entraves para a entrega, de forma rápida, de tecnologia ao mercado”, avalia o especialista em segurança da informação Pedro Leite.

“E com o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais complexas e presentes no dia a dia das pessoas, mais brechas surgem. Tudo isso torna mais fácil vitimar as pessoas, que ainda não sabem lidar com boas práticas de segurança”, complementa.

Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que está atenta aos problemas de segurança pública e seus reflexos nas transações bancárias, especialmente com o uso do Pix, e que “tem atuado proativamente junto ao Banco Central e debatido constantes aprimoramentos para o Pix, com o objetivo de propiciar a segurança das transações e clientes e garantir o avanço dessa solução de pagamento no mercado brasileiro.”

“Muitos usuários anotam suas senhas de acesso ao banco em blocos de notas, e-mails, mensagens de Whatsapp ou em outros locais do celular. Também há casos de clientes que usam a mesma senha de acesso do banco em outros aplicativos, sites de compras ou serviços na internet, e estes apps, em grande parte dos casos, não contam com sistemas de segurança robustos e a proteção adequada das informações dos usuários”, alerta a instituição.

Em resposta ao O POVO sobre os casos de fraudes no Pix, o Banco Central do Brasil informou que desde o dia 16 de novembro de 2021, entraram em vigor novos mecanismos de segurança do Pix, como o mecanismo especial de devolução, o bloqueio cautelar, a notificação de infração e a ampliação da responsabilização das instituições.

O Bacen orientou, ainda, que “cabe ao prestador de serviço de pagamento a análise do caso de fraude e o eventual ressarcimento, a exemplo do que ocorre hoje em fraudes bancárias. Se a situação não for resolvida, a orientação é procurar o Procon ou o Poder Judiciário do estado. O cidadão também pode registrar uma reclamação no Banco Central contra a instituição em que ele ou o golpista têm conta.”

"Limpa conta": Como agem os criminosos

- As quadrilhas se aproveitam do trânsito parado e da distração das pessoas, seja lendo mensagens ou fazendo uso do GPS, para pegar o celular sem deixar que a tela bloqueie

- Os ladrões levam os telefones rapidamente para pontos estratégicos, onde transferem valores antes que os donos tomem providências de bloqueio de senhas e comunicação do crime

- Há casos em que os golpistas usam softwares para explorar o conteúdo e fazer a extração de dados

- Após as transações serem efetuadas, geralmente o destino dos aparelhos é para fora do Brasil

 

 

Lei

O Brasil tem hoje uma das legislações mais modernas sobre a questão, que é estruturada na Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018)

 

Ranking

Em 2021 o Brasil ocupava a sexta posição entre os países com mais vazamentos de dados, atrás de lugares como Estados Unidos, Irã e Índia, respectivamente

Home office

Especialistas apontam que o crescimento da indústria do cibercrime e a ainda a corrente adaptação das companhias a regimes híbridos ou de home office podem ter sido fatores que facilitam os ataques

Phishing

O golpe do phishing (pescaria) consiste em fazer uma pessoa clicar em um link que instale um programa malicioso no dispositivo, capaz de ler ou extrair dados pessoais, e foi bastante praticado durante a guerra cibernética entre Rússia e Ucrânia.

 

Como aumentar a segurança do seu smartphone e se prevenir de golpes bancários

- A senha do banco deve ser exclusivamente usada para acessar sua instituição financeira; nunca use a mesma senha em outros aplicativos

- Jamais anote senhas de acesso ao banco em blocos de notas, e-mails, mensagens de WhatsApp ou outros locais em seu celular; memorize-a para o uso

- Utilize sempre o procedimento de bloqueio da tela de início do celular;

- Nunca utilize o recurso de "lembrar/salvar senha" em navegadores e sites;

- Ajuste os limites máximos das transações no seu celular através do aplicativo do seu banco, de forma que atenda às suas necessidades.

Celular furtado ou roubado: saiba o que fazer para impedir acesso aos aplicativos

A vítima deve notificar imediatamente o seu banco para que as medidas adicionais de segurança sejam adotadas, especialmente o bloqueio do app do banco e senha de acesso, caso o usuário tenha sido vítima de alguma ação criminosa com seu aparelho celular. É importante anotar o número do protocolo para se resguardar.

Outra medida é o registro do boletim de ocorrência junto à autoridade policial, uma ação fundamental para dar visibilidade ao crime e ajudar nas investigações policiais, permitindo, posteriormente, a identificação e as prisões de quadrilhas de criminosos.

Em caso de um roubo ou furto de um aparelho celular, a vítima também deverá avisar a operadora de telefonia para o bloqueio imediato de sua linha.

Avisar parentes e amigos próximos sobre o crime é outra tarefa importante para quem perdeu ou teve o celular roubado, a fim de evitar que golpes por mensagem ou redes sociais sejam aplicados.

O que você achou desse conteúdo?