Apesar da inflação persistente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cumpriu o prometido e puxou o freio no ritmo de alta da Selic (a taxa básica de juros). A taxa subiu 0,5 ponto porcentual, passando de 12,75% para 13,25% ao ano.
De junho de 2011 para cá, todos os ajustes feitos pela autoridade monetária foram acima de um ponto percentual. Porém, mesmo com a desaceleração, a Selic atingiu o maior patamar desde novembro de 2016 (13,75%).
Foi a 11ª primeira alta consecutiva neste ciclo de aperto monetário, que já é o mais longo da história do Copom. Desde o primeiro aumento, em março de 2021, quando a Selic estava na mínima de 2%, a taxa já subiu 11,25 pontos porcentuais, o maior choque de juros desde 1999.
No comunicado em que justifica a decisão, o Copom previu, ainda, que um novo ajuste deve ser feito na próxima reunião. De acordo com a cúpula da instituição, a elevação será “de igual ou menor magnitude” que a promovida ontem. Para o comitê, a medida deve ser apropriada para que o ciclo de aperto monetário continue avançando “significativamente em território ainda mais contracionista”, levando em conta suas projeções e o risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos.
Para Renato Aguiar, sócio da CDP Capital, “a elevação da taxa Selic pelo Copom visa combater a inflação pelo lado da demanda, ou seja, encarecendo o crédito e, consequentemente, o consumo de bens e serviços que necessitem de financiamento. Em síntese, a alta deve fazer o cidadão consumidor de produtos e serviços a adiar decisões de consumo, incentivar o investidor a ampliar as aplicações financeiras, o empresário a adiar a implantação de novos projetos, e os trabalhadores a contarem com menos oportunidades de emprego e aumentos reais da renda.”.
O Copom avaliou, contudo, que os dados macroeconômicos apresentaram um fôlego maior do que o esperado, desde a reunião passada em maio. Ao mesmo tempo, reconheceu que os preços continuaram avançando e, mais do que isso, seguiram disseminados. “A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente, tanto em componentes mais voláteis como em itens associados à inflação subjacente", disse o colegiado. O comitê enfatizou, também, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e dependerão da evolução da atividade econômica brasileira.
Por conta dessa percepção, o economista Wandemberg Almeida, que integra o Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), pondera “que diversos segmentos começam a ficar preocupados com essa inflação um pouco desequilibrada, com o poder de compra da população se refletindo em baixo consumo, com o crédito um pouco mais caro. Então, tudo isso preocupa, traz certa insegurança para o cidadão comum e também para as empresas. O crédito mais caro reduz o investimento por parte do empresariado e a população fica cada vez mais com seu orçamento corroído”.
O conselheiro do Corecon-CE acrescenta que, por outro lado, a Selic mais alta tende a tornar os investimentos em renda fixa mais atrativos. “Isso faz com que o investidor comece a olhar mais para papéis como títulos do tesouro, CDBs, além dos papéis atrelados à LCA e à LCI, que ficam mais interessantes e apresentam uma remuneração um pouco maior. A exceção é a poupança que como sempre está sofrendo e vem ficando de lado. Hoje, ela rende entre 6% e 7% ao ano, mas a inflação do nosso País está acima de 12% no acumulado dos últimos 12 meses”, pontua Almeida.
Por sua vez, o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Ceará (Ibef-CE), Ives Castelo Branco, lembra que esse não é o primeiro ciclo de alta de juros no País. “Esse patamar da Selic já existiu no Brasil. Mesmo com o que está previsto de aumento até o fim do ano não teremos exatamente uma novidade. Para 2023, contudo, há uma tendência de queda”, pondera. Vale lembrar que em fevereiro de 2021, a taxa básica de juros estava em 2% até iniciar uma sequência de 11 elevações e subir 11,25% em 15 meses.
Com o novo aumento da Selic, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 8,10% ao ano. Em segundo lugar na lista que considera economias mais relevantes, aparece o México (4,48%), seguido da Colômbia (4,47%). A média dos 40 países avaliados é de -1,70%. (Com agências)