O brasileiro nunca ingeriu tão pouca carne bovina como em 2022. A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que o consumo médio por habitante esteja em torno de 24,8 kg, o menor nível desde o início da série histórica iniciada em 1996. Essa quantidade é 18,25% menor que a verificada em 2019, ano anterior à chegada da pandemia de Covid-19 ao País.
Dentre as razões para esse fenômeno, está a alta dos preços da carne bovina no mercado interno e o crescimento das exportações, que foi de 16,6% nesse período.
A redução no consumo da proteína após a eclosão da crise sanitária representa quase metade da verificada em um período de 10 anos, que foi de 35,2%, quando esse consumo era de 38,3 kg por habitante. No mesmo intervalo de tempo, por outro lado, as exportações subiram 40%.
Outro levantamento, desta vez do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dá a dimensão do peso dos preços do produto sobre o orçamento das famílias. Desde março de 2020 a abril deste ano, o preço médio das carnes aumentou 42,6%.
Nem mesmo a desaceleração do processo inflacionário registrada nos últimos 12 meses, quando o preço médio das carnes subiu 3,92%, abaixo da inflação geral, que foi de 11,89%, reverteu essa tendência.
Para o supervisor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Ceará, Reginaldo Aguiar, a relação entre inflação e redução no consumo de carne bovina é direta.
“Nós já vínhamos de um problema de elevação no preço dessa proteína desde o fim de 2019, mesmo antes da pandemia, mas como o mesmo não ocorria com outros produtos o impacto para o consumidor era menor. Veio 2020 e, além da pandemia, a China passou a enfrentar um problema com relação à carne suína, por conta de uma doença que contaminou o rebanho daquele país, e passou a exportar mais, inclusive do Brasil. Isso fez disparar não só o preço internacional da carne de porco, mas também a de boi”, explica.
Ele prossegue argumentando que o aumento do preço do produto no mercado internacional associado à desvalorização do real frente ao dólar, que se acentuou durante a crise sanitária, levou a um aumento das exportações, paralelamente.
“Muitos produtores passaram a vender para fora do País porque o preço disparou e isso acabou levando à queda da oferta no mercado interno. Então, o valor da carne bovina passou a subir ainda mais. Em resumo, houve três fatores importantíssimos para esse aumento nas exportações: demanda internacional em alta, preço elevado no mercado doméstico e a nossa moeda em queda”, complementa.
Para o presidente do Sindicato Varejista de Carnes Frescas e Congeladas de Fortaleza (Sindicarnes), Everton da Silva, o período da pandemia também foi marcado por outros dois fenômenos que ajudam a explicar a queda no consumo da proteína bovina: a falta de emprego e a queda na renda do trabalhador.
“Nesse período, o consumo caiu e o preço subiu fora do padrão normal porque nós chegamos a ter taxa de desemprego na casa dos dois dígitos”, lembra.
Ele projeta, contudo, uma recuperação do consumo já a partir desse mês, com a redução das taxas de desemprego, que ficaram em 9,3% em junho, segundo o IBGE. “Agora, quem estava desempregado e não estava consumido carne bovina voltará a consumir, mesmo que em quantidade pequena. E o setor espera uma cenário diferente e mais positivo de agosto a dezembro”, avalia.