Depois de ser considerado um dos grandes vilões da inflação dos últimos meses, o preço do leite começa a dar sinais de trégua nas prateleiras dos supermercados de Fortaleza neste mês de agosto. A queda varia entre 3% e 5%, segundo estimativas da Associação Cearense de Supermercados (Acesu).
Porém, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Em julho, o preço do leite longa vida em Fortaleza acumulava alta de 43,62% no comparativo de 12 meses, segundo dados do Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE).
No País, o percentual é ainda mais expressivo, de 66,46%. Bem acima da inflação oficial no período (10,07%).
Esta mudança de tendência neste mês de agosto reflete a própria demanda pelo produto por parte do consumidor, explica o presidente da Acesu, Nidovando Pinheiro.
"Temos sentido uma queda no percentual até porque caiu o consumo. Desta forma o preço cai, a gente já está vendo isso aí em alguns supermercados. Esse é o curso, o preço ir baixando levemente."
O economista Alex Araújo também acredita numa redução nos próximos meses. "Sim, teremos. O leite está no período de sazonalidade e a produção foi afetada pelo clima. Estamos saindo da entressafra e a produção tende a se regularizar."
Porém, ele alerta que não dá para estimar quanto deve cair mais. "Pois têm outros fatores, como aumento dos insumos e qualidade do pasto, que são difíceis de avaliar com antecipação."
Dentre as variáveis que mais pesaram para alta no preço do produto nos últimos meses está o pico da entressafra, quando as condições climáticas estão desfavoráveis para a produção. E que, neste ano, foram mais intensas em razão do fenômeno La Nina.
Mas também pela disparada no preço dos insumos por conta da pandemia e, mais recentemente, pela guerra entre Rússia e Ucrânia, grandes produtores mundiais de grãos, como milho e soja, que são usados para alimentar o gado.
Na prática, ficou mais caro para indústria produzir e, consequentemente, o preço de venda pelo varejo. Para se ter uma ideia do impacto desta alta sobre a renda, o preço da cesta básica em Fortaleza subiu de R$ 562,82, em julho de 2021, para R$ 641,46, em julho deste ano, segundo dados do Departamento Intersindical Estatística Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Porém, o gasto necessário para que uma família consuma uma média de seis litros de leite no mês saltou 55,9% nesta mesma base de comparação, chegando a R$ 45,18, em julho deste ano.
O supervisor técnico do Dieese, Reginaldo Aguiar, diz que o mesmo não foi observado em outros produtos derivados de leite. "Os derivados também deveriam apresentar uma disparada, mas não aconteceu. Para o consumidor o preço aumenta, mas para os fornecedores não", provoca Aguiar.
A percepção do especialista é que, talvez, o valor estabilize, mas tendo como base as últimas semanas. Ou seja, ainda em patamar alto.
“Porque até para subir tem limite, a exemplo da carne. Chega um momento que as pessoas não podem comprar mais."
Com isso, as pessoas de renda baixa são as mais prejudicadas, “por conta da dependência de itens básicos na cesta de alimentação. De outro lado, a renda média e a renda alta perceberá melhor os efeitos da redução da inflação nos últimos meses, com a queda do indicador geral que foi muito influenciada por combustíveis e energia”, afirma Alex Araújo.
Cepea
Desde o início de agosto até a última terça-feira, a cotação média do litro de leite no atacado já caiu quase 17%, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)