Enquanto o consumo de carne bovina cai por conta da elevação de preços, desde 2020, o abate de frangos chegou a 8,5 milhões de cabeças no segundo trimestre de 2022 no Ceará, batendo recorde, no maior resultado desde o início da série histórica, em 1997.
O número representa alta de 7,8% ante igual período do ano passado e de 9,8% ante o primeiro trimestre de 2022.
Os dados são da Estatística da Produção Pecuária, divulgados nesta terça-feira, 6 de setembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa ainda aponta que, apesar da queda de consumo, o abate de bovinos no Estado aumentou 8% em relação ao 2º trimestre de 2021 e 6,7% em relação ao 1º trimestre de 2022.
"A proteína do frango é um substituto em relação à carne bovina, que teve seu consumo reduzido por conta da elevação dos preços, observada desde 2020", frisa a análise do levantamento.
No 2º trimestre, o abate de bovinos totalizou 17,1 mil cabeças sob algum tipo de serviço de inspeção sanitária.
O supervisor de indicadores pecuários do IBGE, Bernardo Viscardi, disse que a proteína suína é um substituto da carne bovina, que teve, desde 2020, o seu consumo reduzido por conta da elevação dos preços.
Para ele, fatores externos ajudam a explicar o porquê de cerca de 81,3% da produção suína brasileira ficarem no mercado interno no período pesquisado.
“Nos últimos anos, as exportações estavam em alta, principalmente para a China. Após o controle da peste suína africana e a reposição do rebanho chinês, as exportações sofreram considerável redução. Outros destinos aumentaram as importações, mas não conseguiram compensar o arrefecimento da demanda chinesa”, explicou.
Esse mudança de hábito de consumo, de troca da carne bovina por frango, tem uma série de fatores na cadeia produtiva que acabou impactando no consumidor final. A principal consequência foi o aumento de preços. Essa é a avaliação do economista Wandemberg Almeida, do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).
Ele entende que desde a pandemia, quando a demanda do mercado internacional aumentou muito e os custos com matéria-prima subiram para o produtor, o consumo interno da carne vermelha se retraiu por conta dos custos. E, com o dólar alto, a demanda por exportações fez com que muitos produtores não ficassem preocupados com a queda da demanda interna.
"A alta do dólar acabou influenciando também o mercado de carnes, com a maioria dos grandes produtores preferindo exportar do que abastecer o mercado interno", observa.
Na avaliação do economista, a busca do consumidor por alternativas à carne vermelha fez com que a demanda por porco aumentasse, num momento em que a oferta de produto não tinha a capacidade para atender o mercado. Até que esse movimento de migração chegou ao frango. "Essa mudança também ocasionou aumento de preços. Então, perceba que acaba sendo um efeito em cadeia", completa. (Colaborou Samuel Pimentel e Agência Estado)