O aumento de preços dos alimentos em 2022 foi generalizado e ultrapassou fronteiras, segundo atestou o cálculo da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO). Os produtos desse grupo apresentaram patamar recorde de alta no acumulado do ano ao subir 14,3%. No Brasil, apesar da inflação dos alimentos ser menor que o índice internacional, os custos são o dobro do índice geral. A carestia preocupa por causar insegurança alimentar, ou seja, cresce o risco de fome.
De acordo com o IPCA-15, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre janeiro e dezembro, a inflação no País acumulava alta de 5,9%, enquanto a de alimentação de bebidas era de 11,96%. Em Fortaleza, os índices variam entre 5,85% e 9,84%, respectivamente.
Aos consumidores cearenses, as altas que mais fizeram a diferença foram a dos produtos lácteos (+22,12% em 2022) e dos óleos vegetais e gorduras (+10,99%). No caso dos cereais, leguminosos e oleaginosos, a alta foi menor (+4,82%), mas no nacional a variação foi negativa (1,85%). É neste grupo que são incluídos alimentos, como arroz e feijão.
O analista de mercado e executivo das Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa S/A), Odálio Girão, lembra que houve desequilíbrio em termos de produção e exportação de produtos, principalmente de grãos, mas que também impactou as carnes e também os laticínios.
"Temos o compromisso com as exportações, que são atrativas para o nosso agronegócio e ficou uma quantidade menor de produtos para atender o mercado nacional. Outros fatores além das exportações, são os fatores climáticos que promoveram quebras de safra em alguns produtos, como o feijão", ressalta.
Do ponto de vista do efeito dessa carestia no orçamento familiar, esse patamar de alta nos preços dos alimentos e bebidas tem gerado problemas sociais, comprimindo o poder de compra dos brasileiros, avalia Aline Soaper, educadora financeira e fundadora do Instituto Soaper de Treinamentos de Desenvolvimento Profissional e Pessoal (Efinc).
Ela pontua que esse cenário pressiona especialmente o custo de vida das famílias pobres. “A renda dos trabalhadores continua uma das menores já registradas pelo IBGE. Em comparação a 2021, por exemplo, ela caiu 5,1%."
"Ou seja, as projeções mostram que será um ano muito difícil, com a perspectiva de risco fiscal e as incertezas no cenário global, a população brasileira deve se preparar para apertar os “cintos”, do ponto de vista dos gastos", analisa.
Dados da fome no Brasil preocupam. O Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, pelo menos 33 milhões de pessoas não têm o que comer todos os dias e mais de 120 milhões enfrentam algum tipo de insegurança alimentar.
Outro levantamento, produzido pela FGV Social com dados do Instituto Gallup, mostra que a insegurança alimentar atinge 36% da população em 2021, o que é acima da média mundial (35%).
Para Aécio Alves de Oliveira, doutor em Sociologia e professor do Departamento de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará (UFC), o aumento da fome é um efeito prático desse movimento de alta nos preços dos alimentos. Outra situação problemática em meio à carestia é a demanda maior por alimentos de baixo valor calórico, mais baratos.
Para fugir dessa situação, aponta ser necessária uma política pública que movimente o mercado de produção de alimentos. "A minha expectativa é que os novos gestores incentivem a agricultura familiar e a agroecologia, que são voltadas à produção de alimentos. Já que o agronegócio é voltado às exportações. Daí virá uma produção de alimentos mais saudáveis, melhorando a política pública de merenda escolar junto".
ATACADO
Entre os alimentos que ficaram mais caros na Ceasa de Maracanaú, o destaque foi para o tomate cereja ( 80%), a banana ( 47%) e acerola ( 33%)