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Inflação dos Alimentos: o preço que não cede e pesa no bolso
Economia

Inflação dos Alimentos: o preço que não cede e pesa no bolso

Apesar do Brasil ter registrado deflação nos últimos três meses, apenas em setembro houve de fato um leve recuo nos preços dos alimentos (-0,42%). Ainda assim, a tendência já começa a ser revertida em outubro. Cenário internacional, condições climáticas adversas e
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Alimentos é o grupo de consumo que mais pesa nas finanças das famílias (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Alimentos é o grupo de consumo que mais pesa nas finanças das famílias

O termo inflação é algo que está comumente inserido em nossa rotina, seja em noticiários ou na ida ao mercantil. É o indicador que mede o aumento geral nos preços de bens e serviços em uma economia e tem relação direta com o poder de compra da população.

Ou seja, quanto mais inflação, menos as famílias conseguem comprar. Quando falamos das famílias de baixa renda, isso significa menos comida na mesa.

No Brasil, apesar da deflação registrada nos últimos três meses, por conta da redução dos preços dos combustíveis, do setor de energia e de telecomunicações - feita por meio de retirada de tributos -, os alimentos têm mostrado um comportamento diferente e pesado muito no bolso dos mais pobres.

Em setembro, por exemplo, foi o primeiro mês de variação negativa dos preços dos alimentos na Grande Fortaleza, ainda assim de apenas 0,42%. Abaixo da média brasileira (0,51%). 

Além disso, nem bem o consumidor começou a sentir efetivamente esse alívio no bolso e a tendência já começou a ser revertida. A prévia da inflação (IPCA-15), divulgada na última terça-feira, 25, aponta para uma alta de 0,21% dos preços de alimentação e bebidas em outubro. Na Grande Fortaleza, o indicador ficou em 0,04%.

Concentração

Mas, afinal, se a inflação caiu no País, por que o preço dos alimentos não cedeu no mesmo ritmo? O economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, explica que isso ocorre porque a deflação está concentrada, principalmente, em itens como a gasolina. Para se ter uma ideia, enquanto o preço da gasolina caiu 27,35% neste ano na Grande Fortaleza, o preço dos alimentos subiu, em média, 8,04%.  

"E o preço do diesel, que é o combustível usado para o transporte desses alimentos, não sofreu uma redução considerável que pudesse modificar o valor da cadeia produtiva, assim como a energia."

Além disso, fatores como condições climáticas adversas de safra, questões logísticas e a crise econômica internacional também influenciam no encarecimento dos alimentos. A Guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, afetou consideravelmente o preço do trigo mundialmente.

"Essa é uma realidade que deve permanecer neste final de ano e no ano que vem, já que é projetado um crescimento baixo das economias internacionais, como Estados Unidos, Europa e China", comenta.

Hábitos de consumo

Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e presidente da Academia Cearense de Economia, ressalta também que a percepção sobre inflação e o peso que ela exerce sobre o orçamento familiar pode ser sentido de maneira diferente a depender dos hábitos de consumo das famílias.

“Assim, a deflação não é uma mentira, porém, um dos itens que é muito importante no orçamento, que é a alimentação, está tendo um crescimento inflacionário.”

No Ceará, ele pondera que esse aumento no preço dos alimentos é muito sentido, já que a “grande maioria da população é composta por famílias de baixa renda”. Situação que se torna ainda mais dramática, considerando que dicas e substituições na hora de comprar, servem para classes mais altas, que possuem o benefício da escolha.

“A família de baixa renda já está bastante estrangulada. Não tem como substituir o que já come. Isso causa uma deficiência alimentar, porque com o aumento dos preços, acabam tirando o mínimo, já que já estavam consumindo aquilo que tinha de mais em conta”, explica o economista.

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Dicas para economizar na hora das compras

Com o comportamento do preço dos alimentos e a inflação desses produtos, na casa dos dois dígitos (apresentando valores que são o dobro da inflação total) a ida ao mercantil acaba comprometendo grande parte do orçamento doméstico do mês. Assim, fique atento a algumas dicas para tentar economizar:

1Não faça estoque. Vá ao supermercado com a lista definida de compras e busque os melhores preços apenas destes itens.

2Não tenha preguiça e compare preços. Pesquise e aproveite sempre os dias de promoção de cada local de compra para adquirir o que está precisando.

3Experimente novas marcas, e faça substituições de proteínas. Ao invés de só comprar carne vermelha, por exemplo, opte por parte da compra ser de carne branca e ovos.

4Não faça compras grandes em mercados de bairro. Os preços costumam ser mais altos nos mercadinhos, sendo ideal para compras de emergência.

5Não faça compras grandes para o mês. Aproveite as promoções que são feitas durante o período. Muitos produtos entram em oferta por estarem próximos à data de validade ou estarem na safra, como é o caso de frutas e verduras.

6Muitas famílias estão usando o cartão de crédito para comprar comida e acabam se endividando. Opte por fazer pequenas compras no débito e se precisar usar o crédito, faça com sabedoria e não parcele, para evitar o acúmulo de prestações.

Todos da família devem saber a realidade financeira e ajudar. Mesmo sendo você a pessoa responsável pelas compras em casa, é dever de todos economizar e aceitar a busca por produtos mais baratos para compor a cesta básica.

Entenda o que está por trás do sobe e desce dos preços na Grande Fortaleza

ITENS

EM ALTA

Cebola

Em 2022, a cebola tem sido o principal vilão da inflação na Grande Fortaleza, com alta de 50,25% no acumulado do ano até setembro, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE.

De acordo com Odálio Girão, analista de mercado da Ceasa, isso ocorreu, dentre outras razões, porque a safra da região do Vale do São Francisco, principal fornecedora do produto para o Estado, sofreu uma redução da colheita. Para suprir a demanda cearense, a cebola está sendo importada do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Argentina.

Atualmente, mesmo nos grandes centros de distribuição, o produto permanece com o custo elevado. Seja do tipo pera ou roxa, a hortaliça não está saindo por menos de R$ 5,00 ou R$ 5,50 dos expositores.

Leite

Longa Vida

O leite longa vida desponta como outro produto cujo preço disparou. No acumulado do ano até setembro, a alta chegou a 45,26%, o que faz com que o alimento seja um dos itens mais caros nas prateleiras.

No contexto nacional, o custo do leite longa vida aumentou 50,73%, segundo o IPCA. Além do período seco de inverno, que tradicionalmente eleva o valor do laticínio, o aumento no preço dos combustíveis e fertilizantes, devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, também acentuaram a alta no alimento.

Conforme pontua o analista, o preço elevado resulta de uma forte oferta na região sudeste. Neste cenário, nota-se uma redução dos leites Betânia, Jaguaribe e Maranguape, marcas mais procuradas no Estado. Como não há insumos em grande escala, os produtos estão chegando de outras regiões para abastecer o mercado da capital. Estima-se que o custo alto permaneça até dezembro.

Manga

A manga aparece como a fruta mais cara nos supermercados de Fortaleza. Com alta de 43,73%, no acumulado até setembro, o produto ficou de fora de muitos carrinhos que substituíram o item por outro mais acessível.

Até a queda no segundo semestre, em virtude do período de colheitas, a manga ocupou o terceiro lugar nas listas dos alimentos mais caros na capital e no país.

As mangas regionais, cultivadas nos municípios de Baturité, Cascavel e região litorânea, e as mangas de irrigação, voltaram à mesa dos cearenses neste mês. Devido ao período de safra sazonal, que pode se estender até março de 2023, o produto entra no mercado com uma queda de até 30% no preço, informa Odálio. O declínio no custeio deve permanecer até novembro.

Mamão

O preço do mamão também está pesando no bolso dos consumidores. Em decorrência da alta de 42,87%, no acumulado do ano até setembro, o item também esteve de fora da lista de compras dos fortalezenses.

Cultivado na microrregião do Baixo Jaguaribe, os produtores estão se recuperando de uma praga que dificultou a comercialização do alimento, explica Odálio. Produzido em menor escala, o mamão formosa, também chamado de mamão garrafa devido ao tamanho, deveria valer, no máximo, R$ 2,80. No entanto, o alimento está saindo, atualmente, por R$ 4.

O tipo papaia, conhecido ainda como mamão havaí, custa, no momento, R$5,50. Por ser uma fruta bastante consumida em hotéis e pousadas, em razão do sabor doce, o preço pode chegar a R$ 6 até o fim da alta estação. A tendência é de que o custo permaneça alto.

Pão

O valor do pão francês também aumentou. No acumulado do ano até setembro, o alimento ficou 25,49% mais caro.

Em razão da guerra entre Ucrânia e Rússia, detentoras de 30% do total de exportações do trigo, o valor do pão subiu. Visto que a produção nacional não supre a demanda, o cereal está sendo importado da Argentina e dos Estados Unidos para que não falte no café da manhã dos brasileiros.

De acordo com o analista de mercado, levando em consideração o cenário conflitante na Europa, o preço alto deve continuar até o fim do ano.

ITENS

EM QUEDA

Tomate

Em 2022, o tomate está ocupando o topo da lista dos alimentos com maior redução no preço. Com uma queda de 34,81% no acumulado do ano até setembro, segundo o IPCA, o produto pode ser facilmente encontrado nos centros de distribuição.

Apesar do valor ter subido um pouco na última semana, para suprir o custo da produção no estado, o preço continua atrativo para os consumidores.

O quilo do tomate cajá está saindo, atualmente, por R$2,60. A consistência do alimento faz com que ele seja um dos mais consumidos pelos fortalezenses. Já o tomate longa vida está custando, no momento, R$ 3,20. A grande oferta deve se estender até dezembro.

Laranja pêra

Ainda no hortifruti, a laranja pêra também registrou uma diminuição no preço. No acumulado do ano até setembro, a fruta teve uma queda de 17,6%, o que faz com que ela, assim como a banana, sejam as campeãs de venda no mercado cearense, ressalta Odálio.

A boa safra, vinda de Sergipe, São Paulo e Bahia, coloca a laranja pêra nos expositores por R$ 2 a R$ 2,40. Além dos benefícios para a saúde, o preço convidativo garante que o alimento seja frequentemente incluído na lista de compra dos consumidores.

O analista de mercado confirma que a tendência é de que o preço baixo continue até o fim do ano.

Carne de

carneiro

A carne de carneiro domina a lista de carnes nobres com o menor preço. Com uma baixa na inflação, no acumulado do ano até setembro, nota-se uma queda de 16,84% no custo deste alimento.

O analista destaca que o valor acessível resulta dos abates no interior do Estado, visto que o Ceará aparece como um dos grandes produtores nacionais de caprinos. O quilo está custando, no momento, entre R$ 27 e R$ 28 e estima-se que a baixa no valor permaneça até dezembro.

No Brasil, a carne é um dos alimentos mais caros. Além da alta no custeio da produção, sentida desde o final de 2019, a pandemia de Covid-19, iniciada no primeiro trimestre de 2020, colaborou para que o preço disparasse.

Contrafilé

Outro corte que também sofreu uma baixa no valor foi o contrafilé. Com uma queda de 4,24% no acumulado do ano até setembro, conforme levantamento do IPCA, a peça está sendo vendida a um custo menor nos supermercados.

De acordo com o presidente do Sindicarnes, Everton Silva, o contrafilé é a terceira carne mais cara do mercado, atrás apenas do filé e da maminha. Para ele, a dinâmica dos valores, trata-se de uma oscilação de preço em virtude da lei de oferta e procura.

Com a diminuição do valor das carnes nobres, incluindo a de carneiro, muito procurada devido ao baixo teor de gordura e sabor adocicado, os fortalezenses estão levando para casa alimentos de melhor qualidade.

Segundo Everton, a tendência é de que haja uma estabilização de preços até o fim do ano.

Peixe-

palombeta

Neste segundo semestre, o preço do peixe-palombeta teve uma queda sutil. Ele fecha o acumulado do ano até setembro, com uma baixa de 3,97%. Comum nos mares da região sudeste, o produto também pode ser encontrado nos centros de distribuição da capital cearense.

Odálio alerta que, de modo geral, o pescado está com o valor nas alturas. O aumento de 18% a 20%, resultante da redução da pesca marítima, faz com que haja uma menor oferta no mercado. Exceto por peixes como tilápia, mais acessíveis aos consumidores, os considerados de melhor qualidade continuam com o custo elevado.

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