Logo O POVO+
Hidrogênio verde: Ceará entre os 3 estados com menor custo de produção
Economia

Hidrogênio verde: Ceará entre os 3 estados com menor custo de produção

| Competitividade | Estudo do Instituto Senai de Energias Renováveis aponta Rio Grande do Norte e Bahia como os outros dois de melhores condições para o setor no Brasil
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
INFRAESTRUTURA portuária coloca o Ceará entre os mais competitivos (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE INFRAESTRUTURA portuária coloca o Ceará entre os mais competitivos

O custo estimado da produção de 1 quilo de hidrogênio verde (H2V) entre US$ 2 e US$ 7 para modelos de negócios desenvolvidos no Ceará, no Rio Grande do Norte e na Bahia enquanto a mesma quantidade custa cerca de US$ 10 na Europa coloca os três estados do Nordeste como os mais competitivos do País para a produção do novo combustível.

A constatação vem de dados preliminares divulgados pelo Instituto Senai de Energias Renováveis, com base na Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern).

A variação do preço depende do modelo adotado na geração do H2V. Especificamente, no tipo de contratação da energia, se terá um parque dedicado para a produção ou se será comprada no mercado livre de energia, segundo explica Raniere Rodrigues, pesquisador responsável pelo estudo feito em parceria com a agência alemã de cooperação internacional GIZ e a consultoria Niras.

Ele ressalta ainda a projeção de queda desse valor para US$ 0,50 por 1kg de hidrogênio até 2050 nos três estados nordestinos. Na pesquisa, que deve ser concluída até o fim de abril com mais detalhes, ele diz analisar a cadeia a partir de matrizes eólica, solar, hidráulica e biomassa, mas aponta a geração de energia a partir do vento e do sol como as de maior potencial.

"Como estamos produzindo energias eólica e solar a custo cada vez menor, podemos reduzir o custo de energia e a produção de hidrogênio tem 70% do custo de energia. Se a gente consegue reduzir mais esse custo, consequentemente, a gente consegue produzir hidrogênio mais barato. O Nordeste vem como potencial candidato dessa produção porque, no cenário nacional, alcançou um patamar de produção que se destaca em relação a qualquer outra região do País", avalia.

Potenciais de geração

Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará surgem, exatamente nesta ordem, como os estados brasileiros de maior potencial instalado de geração eólica do Brasil, o que explica a indicação do pesquisador do Instituto Senai. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica comprovam: nas terras baianas existem 270 eólicas em operação, que dotam o território de 7,36 milhões de kilowatts (kW) de potência. Ao mesmo tempo, são 47 usinas solares e outra potência de 1,35 milhão de KW.

O estado potiguar vem em seguida com 243 parques eólicos de 7,57 milhões de KW de potência somada e mais 18 usinas solares de 366,82 mil KW. Já o Ceará contabiliza 100 eólicas em operação com 2,55 milhões de KW e mais 31 usinas solares de 708,95 mil KW.

A entrada em operação de usinas offshore (instaladas no mar) deve, de acordo com Rodrigues, ampliar esse potencial pela capacidade de geração. Exceto pela Bahia, que não possui projetos do tipo, os estados nordestinos apontados no estudo do Instituto Senai Energias Renováveis voltam a figurar em destaque.

Neste comparativo, o Ceará apresenta a maior quantidade de parques offshore em análise pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) de todos os estados, com 22 projetos inscritos até o fim de março de 2023. O Rio Grande do Norte conta com 10.

Infraestrutura portuária

Raniere Ribeiro ressalta Bahia e Ceará como os mais competitivos neste quesito que envolve a infraestrutura portuária, visto a atuação do complexo formado pelos portos de Salvador, Aratu e Malhado, no caso baiano, e pelo Porto do Pecém, em território cearense, considerado o mais próximo da Europa de todo o Brasil.

A relação com os portos existe porque o objetivo inicial da produção de H2V é atender o mercado europeu - interessado em reduzir as emissões de carbono e em crise pela demanda de gás natural da Rússia desde o início da guerra na Ucrânia. Porém, o pesquisador aponta que os navios são a solução também para o envio de cargas verdes, como amônia, aço e outros produtos feitos utilizando o hidrogênio verde como combustível.

Pesquisador Raniere Ribeiro do Instituto Senai de Energias Renováveis do Rio Grande do Norte
Pesquisador Raniere Ribeiro do Instituto Senai de Energias Renováveis do Rio Grande do Norte (Foto: Divulgação)

"Se a gente pensa em atender o mercado europeu, seja diretamente com hidrogênio, com amônia, aço ou qualquer outro tipo de aplicação, a infraestrutura portuária é imprescindível para esse escoamento", reforça.

Perguntado se a parceria entre Pecém e Roterdã para o envio deste tipo de carga aumenta a competitividade do terminal cearense, Ribeiro afirmou que "ter infraestrutura portuária e ter parcerias com outras áreas em outros continentes vai facilitar o processo."

Regulação

Já sobre a regulação do setor, o pesquisador afirma ver uma boa articulação entre os entes federados para a construção desses parâmetros de produção, comercialização e transporte de H2V, derivados e produtos, que deve resultar em algo concreto dentro de dois a três anos.

“A estratégia é se mobilizar de fato. A gente não pode, de novo, deixar a carruagem passar, porque a gente já aprendeu isso com as outras energias. Então, podemos usar essa expertise para poder regulamentar o setor de hidrogênio verde”, alerta.

Mais notícias de Economia

Eletrólise

O pesquisador lembra que a Europa não tem capacidade de produzir toda a quantidade de eletrolisadores que precisam para suprir a demanda por hidrogênio e aponta como oportunidade para empresas como a Hytron, que está ampliando o pátio de produção para atender essa demanda

Articulação

Os governos dos estados tem que estar muito próximo dessas empresas, diz Ribeiro, mostrando que precisam criar estratégias e condições para que esses investimentos possam chegar nos estados do Nordeste

O que você achou desse conteúdo?