As tuneladoras usadas para perfurar a Linha Leste do Metrô de Fortaleza (Metrofor) perfuraram apenas 1,8 km dos 7,3 km previstos no projeto, que é tocado pelo atual consórcio desde 2018 e não tem data exata para conclusão.
Também conhecidos como "tatuzões", os equipamentos devem voltar a funcionar no segundo semestre deste ano. A informação foi dada pelo secretário de Infraestrutura do Ceará, Antônio Nei de Sousa.
No entanto, conforme O POVO apurou, os planos devem incluir a contratação de uma nova empresa capaz de fazer a manutenção dos equipamentos, já que o contrato com a empresa que vendeu os equipamentos expirou.
Dinalvo Diniz, presidente do Sindicato da Indústria e da Construção Pesada do Ceará (Sinconpe-CE), destaca que foi aberto um canal de negociação entre empresa e Seinfra sobre o que estaria pendente para retomada da obra e, com essa conversa, a empresa se propõe a mobilizar pessoal para dar ritmo de retorno às obras.
"Quanto às tuneladoras o problema é outro porque depende de manutenção. O contrato com a empresa que vendeu as tuneladoras não existe mais. Não sei como o Estado vai enfrentar essa condição e ter condição de colocar essas tuneladoras para rodas novamente", explica.
O presidente do Sinconpe relata que os equipamentos, também conhecidos como "tatuzões", estão parados, em túnel abaixo da terra, na região próxima da Catedral Metropolitana de Fortaleza. "Já estão paradas há algum tempo" precisando de manutenção, destaca.
Apesar do cenário adverso, a ideia do Governo do Estado é contratar uma empresa especializada para realizar a manutenção e reparos, caso sejam necessários.
"As máquinas ficaram paradas algum tempo. Vamos fazer um pregão, para fazer a manutenção e nesse espaço de 90 a 120 dias, elas estariam já reiniciando as obras, para a gente chegar a estação do Colégio Militar", disse o secretário em visita ao Grupo de Comunicação O POVO.
Sousa explica que o impasse entre o Governo do Estado e o consórcio da Linha Leste foi resolvido. "Reiniciamos uma conversa com o consórcio e eles estão elencando aquilo que estava faltando por parte do Estado.
O Estado, por sua vez, também está fazendo as exigências necessárias para a recondução da obra e estamos na expectativa de fecharmos um acordo. Inclusive, já reiniciamos, timidamente ainda, mas já reiniciamos, as obras em alguns pontos do metrô."
Neste início de ano, a Secretaria de Infraestrutura do Ceará (Seinfra) já tinha se manifestado a respeito da obra, afirmando por meio de nota que “por se tratar de uma obra de grande complexidade, visto que a nova linha será inteiramente subterrânea, e com o início da nova gestão, o planejamento de execução está sendo revisto para que novos prazos sejam estabelecidos”.
“O consórcio executor do empreendimento está, no momento, em processo de contratação de pessoal para recomeçar os trabalhos nos outros canteiros de obras existentes. Também está em andamento a manutenção das máquinas tuneladoras”, conclui a nota.
Sobre o ramal do veículo leve sobre trilhos (VLT) do Aeroporto, o secretário Sousa destacou que 92% da obra está concluída. "Esperamos concluir entre setembro e outubro a obra."
O POVO tentou contato com a empresa que lidera o consórcio que toca as obras da Linha Leste do Metrofor, a Ferreira Guedes, mas não conseguiu, já que a empresa está sem representação em Fortaleza e não foram localizá-los até o fechamento da matéria.
As tuneladoras foram adquiridas por mais de R$ 130 milhões, na época do governo Cid Gomes. A informação mais recente da Seinfra sobre o paradeiro das máquinas é que estão a 34 metros de profundidade, no Centro - uma na altura da Catedral de Fortaleza e outra próximo ao Paço Municipal.
Planejado há décadas, o Metrô de Fortaleza teve o principal impulso com a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. No entanto, as obras só tiveram início em 2013. De lá para cá, foram diversas paralisações. Para se ter uma ideia, até 2016, apenas 1% da obra havia sido executada.
O projeto também sofreu mudanças ao longo dos anos. A Linha Sul foi concluída, assim como a Oeste foi revitalizada, após a troca dos consórcios - do primeiro, Cetenco-Acciona, para o atual, FTS, em 2018.
A ideia do Governo do Ceará é que a Linha Leste do Metrô de Fortaleza tenha 7,3 quilômetros de extensão, entre o Centro de Fortaleza até o Papicu.
Em visita às obras da Linha Leste, em agosto de 2021, o então ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, afirmou que as obras para os 7,3 km de extensão ligando o Moura Brasil ao Papicu, passando pela Aldeota, receberia repasse de R$ 673 milhões.
Naquele movimento, a obra teria um orçamento total de R$ 1,86 bilhão para conclusão, sendo R$ 1 bilhão em crédito pelo BNDES e mais R$ 200 milhões do Tesouro Estadual, além do aporte da União.
No orçamento estadual para investimentos, em 2022, a maior parcela (R$ 326 milhões) foi separado para obras do metrô de Fortaleza. No entanto, apesar do grosso dos recursos garantidos - via BNDES à medida em que a obra avançasse -, ao fim de 2022 o consórcio FTS mantinha "pouquíssima" gente trabalhando, pois acionou o Estado pedindo um equilíbrio econômico-financeiro do contrato da ordem de R$ 160 milhões.
Por isso, o então secretário de Infraestrutura, Lúcio Gomes, recomendou o fim do contrato da empresa por parte do governo Elmano de Freitas (PT) a partir de 2023. No entanto, a decisão foi de buscar a empresa para dialogar. (Samuel Pimentel)
OUTROS PROJETOS DA SEINFRA PARA 2023
Outro projeto tocado pela Seinfra em 2023 é o investimento em usinas de energia solar, o titular da pasta ressalta o projeto Renda do Sol, que é uma parceria da sua pasta com a Casa Civil e a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA).
"Estamos trabalhando, principalmente naquelas comunidades mais pobres e que são produtivas, para gerar essa energia para ser usada na própria produção deles, como também para que o governo, posteriormente, adquira o excedente dessa energia. Ou seja, serão duas fontes de renda para essas comunidades, através da energia fotovoltaica."
Detalhes da obra do Metrô
QUEM É O CONSÓRCIO RESPONSÁVEL?
O consórcio FTS Linha Leste é formado pelas construtoras Ferreira Guedes e Sacyr Construcción. Eles tocam a obra desde 2018, após rescisão do contrato com o consórcio Cetenco-Acciona, executor original da obra.
O QUE PREVÊ O PROJETO:
A Linha Leste do Metrofor terá 7,3 km de extensão e ligará o Moura Brasil ao Papicu, passando pela Aldeota. Serão cinco estações, sendo uma de superfície (Tirol-Moura Brasil) e quatro subterrâneas (Chico da Silva Leste, Colégio Militar, Nunes Valente e Papicu). O percurso entre o Centro e o Terminal de Integração do Papicu será feito em 15 minutos.
CRONOGRAMAS ALTERADOS
Desde a retomada em 2018, a expectativa do Governo era concluir a obra em dezembro de 2022. O que se observou impossível a partir dos problemas enfrentados na pandemia, com paralisação dos trabalhos.
Na metade de 2022, a Seinfra negociou a ampliação do prazo em mais um ano, ficando para 2024, justificado pelo "impacto da pandemia sobre o consórcio FTS".
Mesmo com a recomendação para que o contrato fosse finalizado e nova empresa contratada, o governo Elmano de Freitas (PT) resolveu apostar no diálogo com o consórcio FTS
Governo atualiza tabela de custos de obras
A Secretaria da Infraestrutura publicou a atualização da tabela de custos das obras a serem realizadas no Ceará. A adequação de valores era um dos pleitos da construção civil pesada e uma das justificativas para obras paradas no Estado e fracasso de licitações.
Com isso, a versão 028 (sem desoneração) e 028.1 (com desoneração) da Tabela de Custos de obras e serviços de engenharia estão disponíveis.
A nova versão conta com 38 serviços inéditos e mais 3.420 novos insumos, além da melhoria dos itens já existentes. Também foram incluídos 22 insumos de mão de obra para serviços de gasodutos de uso exclusivo da Cegás.
A atualização, conforme a Seinfra, é resultado de uma força tarefa realizada em conjunto com a Companhia de Gás do Ceará (Cegás), Superintendência de Obras Públicas (SOP) e Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
Em comunicado, o secretário da Infraestrutura, Antônio Nei, diz que a tabela mantém atualizados os valores dos principais itens existentes, incluindo, quando necessário, novos itens, sempre atendendo aos preceitos legais vigentes.
"A tabela é referencial de preço para a construção civil e conta com a maior quantidade de insumos do Brasil. Isso garante sua confiabilidade e eficácia e a credencia como uma das principais referências de engenharia de custos do País", diz.
Conforme frisou o vice-presidente do Sindicato da Indústria de Construção Pesada no Ceará (Sinconpe), Eduardo Benevides, a paralisação em obras estaduais de infraestrutura ou o atraso no início de novos projetos, tinha como um dos motivos justamente essa defasagem na tabela de custos, bem como o atraso em repasses pagos pelo Governo.
Na entrevista concedida ao programa O POVO no Rádio da O POVO CBN, Benevides citou como exemplo de projetos que sofrem com problemas do tipo, como o próprio Metrofor, o Arco Metropolitano, além do canal do Rio Granjeiro (no Crato) e a rodovia que vai ligar os municípios de Umirim e Pentecoste. (Beatriz Cavalcante)