O número de empresas cearenses que tiveram falência decretada saltou 80% em 2023. Entre janeiro e agosto, um total de 18 negócios faliram no Ceará, enquanto no igual período do ano passado foram dez. Impacto negativo da pandemia afeta empresas até hoje.
Os dados fazem parte de um levantamento da Serasa Experian feito com exclusividade a pedido do O POVO. A maior parte das falências (sete) foi decretada em março, ao fim do primeiro trimestre de 2023.
O movimento, ainda assim, não arrefeceu, já que nos meses seguintes, do 2º trimestre, mais cinco falências foram decretadas. E, entre julho e agosto, foram mais seis.
A análise que se tem a partir dos dados é que as falências têm relação com o momento de transição da economia.
O economista Ricardo Coimbra destaca que existem muitas empresas no mercado que ainda enfrentam os efeitos da pandemia, acumularam dívidas e, com o cenário de juros e inflação em alta durante todo 2022, a situação se tornou insustentável logo no início de 2023.
Ricardo ainda menciona o resultado do Produto Interno Bruno cearense no 1º semestre, que mostra o setor industrial em queda, além de que os resultados são bastante relacionados ao setor de turismo. Os dados mostram que a economia cearense cresceu 1,8%, menos da metade do desempenho nacional no semestre, de 3,7%.
Ricardo pontua ainda que os principais segmentos da economia local, de comércio e serviços, saíram muito endividados da pandemia e empresas pequenas são as que mais sofrem.
"No mercado, até a empresa decretar falência há um longo período em que ela passa por dificuldade. E pode estar relacionado com o custo do crédito muito elevado, dificultando até o dia a dia das empresas com o capital de giro escasso", analisa.
Os dados da Serasa Experian ao O POVO ainda demonstram que a situação ainda pode piorar, já que, em agosto, mais três empresas fizeram o requerimento de falência, que é o último passo antes do decreto.
Além das falências, ainda há informações sobre recuperações judiciais. No Ceará, o número subiu de nove para dez no período analisado. Esse é um movimento observado nacionalmente.
Nos primeiros oito meses do ano houve 662 pedidos de recuperação judicial deferidos no País, um aumento de 59,6% em relação ao igual período de 2022.
Dentre esses pedidos, destaque para casos que geraram grande repercussão, como de Americanas, Livraria Saraiva e 123Milhas. Mas, para o advogado e especialista em recuperação judicial, Rafael Abreu, esse instituto jurídico pode ser um "remédio" para impedir mais falências.
"Apesar de ser um momento delicado para a empresa, uma recuperação judicial bem feita, pode fazer com que a empresa não apenas se restabeleça, como volte a crescer", afirma, citando o caso da empresa Aço Cearense.
Após passar por esse processo, a Aço Cearense celebrou 44 anos de atuação. Segundo dados divulgados ao mercado, a empresa possui capacidade produtiva de 1 milhão de toneladas/ano de aço e faturamento anual em 2022 de R$ 6,5 bilhões, além de gerar mais de 4.300 empregos diretos.
O especialista avalia ainda que o aumento do número se deve ao fato das empresas terem mais conhecimento de como funciona esse recurso. “Melhor passar por uma recuperação judicial que sucumbir às dificuldades financeiras e fiscais”, finaliza.
Veja o cenário do mercado sobre falências e recuperações judiciais
2022
Janeiro: 0
Fevereiro: 0
Março: 5
Abril: 1
Maio: 1
Junho: 3
Julho: 0
Agosto: 0
TOTAL: 10
2023
Janeiro: 0
Fevereiro: 0
Março: 7
Abril: 1
Maio: 2
Junho: 2
Julho: 3
Agosto: 3
TOTAL: 18
2022
Janeiro: 0
Fevereiro: 0
Março: 0
Abril: 2
Maio: 0
Junho: 1
Julho: 5
Agosto: 1
TOTAL: 9
2023
Janeiro: 0
Fevereiro: 1
Março: 4
Abril: 2
Maio: 0
Junho: 1
Julho: 1
Agosto: 1
TOTAL: 10
Fonte: Serasa Experian