As mulheres dedicam quase o dobro de horas para o trabalho doméstico e cuidados de pessoas em comparação a homens no Ceará. O grupo feminino a partir de 14 anos de idade concede, em média, 24,4 horas semanais a esses afazeres. O masculino, 12,6 horas.
Os dados são da terceira edição do estudo "Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil", divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na manhã desta sexta-feira, 7, referentes ao ano de 2022.
O indicativo é ainda pior entre mulheres cearenses pretas ou pardas, as quais dedicam 25 horas aos serviços mencionados, ao passo que os homens pretos ou pardos dispõem de 12,8 horas. Já as mulheres brancas fornecem 23 horas. Os homens brancos, 12,2 horas.
Os dados gerais do Ceará são um pouco piores do que a média nacional, mas em todos os Estados e regiões a questão ocorre. No Brasil, são dedicadas 21,3 horas pelas mulheres e 11,7 horas pelos homens aos trabalhos em casa e cuidados de pessoas.
Segundo o supervisor de disseminação das informações do IBGE, Helder Rocha, os números indicam uma questão cultural que acontece no Brasil. “Há um abismo que sobrecarrega as mulheres nos afazeres domésticos”, afirmou.
Entretanto, para entender melhor o contexto, Rocha detalhou que nos arranjos familiares de novas gerações, entre pessoas mais novas, essa discrepância diminui. “A gente observa muito isso por faixa etária”, disse.
“As faixas etárias menores dos arranjos familiares têm uma participação maior do sexo masculino nos afazeres domésticos”, comentou. “É algo que demanda tempo para mudar, mas já há essa tendência acontecendo.”
Na faixa etária de 14 a 29 no Ceará, as mulheres dispunham de 20,8 horas aos trabalhos domésticos e cuidados de pessoas e os homens, 11,3 horas. Entre a população de 60 anos ou mais no Estado, o grupo feminino fornecia 24,2 horas e os homens, 14 horas.
A renda mensal das mulheres é 21,1% menor que a dos homens no Brasil. Enquanto o grupo masculino ganhava R$ 2.920 em média, o feminino recebia R$ 2.303. Isso significa que as mulheres ganhavam 78,9% do total de rendimento dos homens.
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As mulheres pretas ou pardas (R$ 1.781) recebiam 79,9% da renda de homens pretos ou pardos (R$ 2.230). As brancas (R$ 2.858), 75,4% dos brancos (R$ 3.793). Apesar desta diferença de gênero entre as pessoas pretas ou pardas ser menor, a renda média da população branca foi maior.
No Nordeste, a diferença percentual foi melhor que a média nacional. As mulheres recebiam 86,4% da renda dos homens, nos valores de R$ 1.656 e R$ 1.918 respectivamente.
A região com maior discrepância foi o Centro-Oeste, com o grupo feminino (R$ 2.491) recebendo 72,7% do masculino (R$ 3.427).
Já a região Norte demonstrou a menor variação de rendimentos. As mulheres recebiam 87,5% da renda dos homens, com R$ 1.908 e R$ 2.179, nesta ordem.
As rendas femininas do Sul (R$ 2.482) e Sudeste (R$ 2.562) registraram 74,6% e 76,6%, respectivamente, do valor dado aos homens, de R$ 3.326 e R$ 3.345.
A diferença mais acentuada entre os gêneros ocorre entre os profissionais da ciência e intelectuais, com a renda das mulheres (R$ 4.600) sendo 36,7% menor que a dos homens (R$ 7.268), ou seja, 63,3% do rendimento do grupo masculino.
O único segmento pesquisado que a renda das mulheres superou a dos homens foi entre membros das forças armadas, policiais e bombeiros militares. O gênero feminino registrou R$ 6.516 e o masculino, R$ 5.976.
Já no grupo de diretores e gerentes, que recebe a maior renda média do País, os homens detinham R$ 7.948 mensais, ao passo que as mulheres somavam R$ 5.870 ou 73,9% do rendimento masculino.
“O senso comum indica que, por serem cargos executivos, as pessoas não teriam um diferencial tão expressivo no (salário por) sexo. O fato é que existe, sim. Os homens, mesmo com cargos executivos, acabam ganhando mais que mulheres”, conforme o supervisor de disseminação do IBGE, Helder Rocha.
A taxa de desocupação entre pessoas acima de 14 anos no Ceará, de 9,4%, ficou ligeiramente abaixo do Brasil, com 9,6%. De forma detalhada, as mulheres cearenses ficaram com 10,1% e os homens cearenses com 8,9%.
Já o nível de ocupação no Estado, de 62,9%, também ficou abaixo do registrado no País, de 73,7%. No grupo feminino, o percentual cearense foi de 53,3% e, no masculino, 73,3%. Os valores indicam o nível semanal entre pessoas de 25 a 54 anos de idade.
Análise
As faixas etárias menores dos arranjos familiares têm uma participação maior do sexo masculino nos afazeres domésticos"
Helder Rocha
Supervisor de disseminação de informação do IBGE
Estado e Prefeitura de Fortaleza ampliam políticas de renda, crédito e capacitação
O governo do Estado e a Prefeitura de Fortaleza anunciaram ontem, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, ampliação para o público feminino de alguns de seus principais programas de geração de renda, oferta de crédito e capacitação profissional, voltados exclusivamente ou não para mulheres.
A vice-governadora do Ceará, Jade Romero (MDB), anunciou, por exemplo, a ampliação do valor destinado ao Ceará Credi para estimular os negócios liderados por mulheres cearenses. A quantia, que foi R$ 20 milhões em 2023, chegará a R$ 40 milhões neste ano.
“O empreendedorismo feminino é um dos eixos do Programa Ceará Por Elas. Seja com a criação da sala da mulher empreendedora, seja com a qualificação profissional sem a divisão de gênero, seja com a orientação para o microcrédito, que tem sido uma estratégia fundamental para a autonomia econômica”.
O programa Ceará Por Elas foi criado em novembro do ano passado e consiste em uma parceria entre Estado e municípios, articulado pela Secretaria das Mulheres, Pasta que tem justamente Jade Romero como titular. A iniciativa é dividida em três eixos: Mulher Segura, Mulher Protagonista e Mulher Empreendedora. Estima-se que 52,3% da população cearense seja do sexo feminino.
Por sua vez, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), informou em suas redes sociais a expansão de 5 mil vagas em dois programas voltados para as mulheres, o Nossas Guerreiras e o Fortaleza + Futuro, além de três novas unidades do programa Costurando o Futuro.
No caso do Nossas Guerreiras, são 4 mil novas vagas para o programa de microcrédito que oferta linhas de crédito de até R$ 3 mil ofertadas às mulheres de baixa renda que desejem empreender, desde que tenham mais de 18 anos e sejam chefes de família.
Já o programa de capacitação Fortaleza + Futuro vai abrir 1 mil vagas para mulheres, em parceria da Fundação Demócrito Rocha (FDR), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). (Colaborou Fabiana Melo)
Diferença salarial entre homens e mulheres caiu 1,9 ponto no Ceará, diz estudo
O Ceará apresentou uma pequena queda de 1,9 ponto percentual na diferença salarial entre mulheres e homens de 2018 a 2023. Em 2018, o rendimento bruto das mulheres era de R$ 1.791,9 e o dos homens era de R$ 2.185,6. Já em 2023, o valor para as mulheres passou para R$ 1.844,1 e R$ 2.111, para os homens.
Os dados foram apresentados pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), divulgados ontem, 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Conforme o estudo, o rendimento bruto médio real das mulheres em relação ao dos homens é superior no Ceará, quando comparado ao Brasil, cuja média no período 2012-2023 foi de 78,3%, e ligeiramente superior no Nordeste (86,9%), no mesmo período.
Já no pós-pandemia da Covid-19, nos anos de 2022 e 2023, houve um crescimento de 7,49% para as mulheres e 4,84% para os homens no Ceará.
O autor do estudo, Victor Hugo de Oliveira, analista de Políticas Públicas, explica que o percentual do rendimento bruto real das mulheres com relação ao dos homens por cor e raça é historicamente mais elevado para as mulheres negras quando comparadas às mulheres brancas no Ceará.
"Esse percentual se manteve crescente para as mulheres negras, mas decrescente para as mulheres brancas. Entre 2013 e 2023, o rendimento bruto médio real das mulheres brancas caiu 2% em relação ao dos homens (saindo de 83% para 81%), enquanto houve aumento de 2% para as mulheres negras (saindo de 87% para 89%)”, explica.
A menor desigualdade de renda entre gêneros para a população negra em relação a branca pode ser
explicada pelo maior achatamento de rendimentos recebido pela população negra em relação à população branca, analisa o Ipece.
Já para as mulheres indígenas e asiáticas, o percentual flutuou no período, mas se manteve acima do cenário observado para as mulheres brancas.
O levantamento ressalta que a pequena representatividade das pessoas autodeclaradas indígenas ou asiáticas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnadc) pode aumentar a imprecisão dos percentuais observados para o grupo demográfico.
No cenário dos setores formal e informal no Ceará, o estudo constata que no formal o rendimento bruto médio real das mulheres alcança cerca 90% do rendimento bruto médio real dos homens.
O percentual cresceu 1% entre 2013 e 2023, saindo de 92% para 93%.
Em contrapartida, o rendimento bruto médio real das mulheres no setor informal diminuiu 5% em relação ao dos homens. Entre 2013 e 2023, o percentual variou de 86% para 81%.
A Ipece analisa, que apesar do aumento da participação feminina no mercado de trabalho, as desigualdades de rendimento entre gênero são persistentes ao longo dos anos no Brasil.
Segundo o estudo, as diferenças salariais podem estar associadas às diferenças de produtividade, em geral relacionadas às diferenças de capital humano.
"O estudo do Ipece busca apresentar as diferenças de rendimento bruto médio real de todos os trabalhos entre gêneros no Ceará para o período de 2012 a 2023".
A análise teve como base os dados trimestrais da Pnadc do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As informações são baseadas na população residente do Ceará na faixa etária de 15 a 65 anos de idade.