O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) assegurou R$ 10 bilhões com instituições de fomento internacionais para ampliar a oferta de recursos da instituição (fundings), além do já previsto anualmente no Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). A expectativa, disse Paulo Câmara, presidente do BNB, é de que o processo de integralização desse recurso termine até outubro deste ano.
“Os recursos já chegaram, mas tem um trâmite ainda. Até o fim do ano, a gente regulariza isso e começa as operações”, afirmou em entrevista exclusiva ao O POVO durante a 54ª reunião anual da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), que aconteceu na sede do BNB e terminou ontem.
Na prática, de acordo com o presidente do BNB, a maior parte das operações de captação do recurso deve acontecer em 2025. Mas, com a entrada de R$ 10 bilhões no caixa, o banco vai poder ampliar em torno de 20% sobre o que vem sendo usado. Em 2023, detalhou, foram cerca de R$ 40 bilhões do FNE e mais R$ 15 bilhões de recursos próprios.
Atualmente, explicou o BNB, a instituição está “cumprindo etapas previstas na legislação, passará ainda por assembleia de acionistas e homologação junto ao Bacen (Banco Central do Brasil).”
“Nós estamos conversando muito com os organismos bilaterais, como Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Agência Francesa de Desenvolvimento, Banco Europeu e todos esses que têm recursos mais baratos para ver quais as melhores condições e os melhores focos”, afirmou.
Sobre a escolha de quais parceiros podem selar contratos com o Banco do Nordeste para a entrada desse capital internacional nas operações da instituição, Câmara afirmou que “o critério vai ser custo e o mais barato é que vai ter prioridade.”
Já a respeito do destino dos fundings, ele disse que vai depender de uma negociação com as organizações multilaterais, observando o alvo delas e os do BNB, uma vez que microcrédito, sustentabilidade, energia renovável e saneamento possuem linhas específicas da instituição.
“Tudo é negociável. Nós temos autonomia também”, ressaltou, observando ainda que “o recurso precisa ser muito bem utilizado porque o organismo internacional não quer só mandar dinheiro.”
Ao mesmo tempo, dentro do planejamento estratégico, o Banco do Nordeste está formando um Fundo de Sustentabilidade. A medida vai ao encontro do defendido nos debates que aconteceram ao longo da reunião anual da Alide sediada pela instituição. O orçamento inicial aprovado foi de R$ 10 milhões para aplicar ainda em 2024.
Na mesma perspectiva, acrescenta, o BNB “aprovou ainda o orçamento de R$ 42,6 milhões para aplicação por meio do Fundeci (Fundo de Desenvolvimento Econômico, Científico, Tecnológico e de Inovação) em projetos sustentáveis relacionados com pesquisa, difusão e inovação em benefício do setor produtivo da Região.”
Bancos de fomento reforçam compromissos com sustentabilidade e social
Ao término da 54ª Reunião Anual da Associação Latino-Americana de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (Alide), os bancos de fomento lançaram a Declaração de Fortaleza e reafirmam compromisso com inclusão produtiva e apoio a projetos de prevenção de riscos ambientais.
Com uma declaração de apoio e solidariedade ao Estado do Rio Grande do Sul, as instituições reafirmaram a importância no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e dos compromissos nacionais no âmbito de cúpulas ou acordos globais, além do financiamento inclusivo com perspectiva de gênero.
Selaram ainda a participação de todos na contínua promoção de mecanismos de cooperação internacional e fortalecendo os laços com parceiros globais.
"O Banco do Nordeste e as demais instituições vinculadas à Alide reforçaram seus objetivos de desenvolvimento social e econômico para cada país e região. Temos grandes desafios, mas estamos investindo para levar crédito de qualidade a todos os setores, gerando empregos e renda para a população", discursou o presidente do BNB, Paulo Câmara, anfitrião do evento. (Armando de Oliveira Lima)
Crédito chegará a mais de 200 mil mulheres do CadÚnico
Com os R$ 500 milhões disponibilizados pelo Governo Federal para este ano, o Banco do Nordeste (BNB) prevê financiamentos para mais de 200 mil mulheres que estejam inseridas no Cadastro Único (CadÚnico) do Governo Federal, como as que recebem o Bolsa Família.
Mas também mira estender aos mais vulneráveis que não estão no âmbito do programa e que se encontram na área de atuação da instituição: Nordeste, Norte de Minas Gerais e Espírito Santo.
Ao O POVO, Paulo Câmara, presidente do BNB, detalha que a operação faz parte do Programa Acredita, lançado pelo governo Lula (PT), alcançando na instituição o Crediamigo, voltado para o microcrédito, e que hoje já engloba mais de 2 milhões de clientes.
No banco, há especificamente o Crediamigo Delas, voltado a financiar atividades produtivas de empreendedoras formais e informais, mediante a concessão de empréstimos, cujo montante poderá ser utilizado para operações de investimento fixo e capital de giro.
A ideia é iniciar em no máximo 60 dias com essas operações. "A gente já tem um percentual expressivo de quem tem acesso ao Crediamigo pelo Cadúnico que chega a 60%. Então a gente vai atrás também das pessoas que não estão. Outro recorte é o de gênero, em que 70% do que opera com a gente é de mulheres." (Beatriz Cavalcante e Armando de Oliveira Lima)
Desenrola Pequenos Negócios terá desconto de 90% no BNB
O Desenrola para Microempreendedores Individuais (MEI), micro e pequenas empresas (MPEs), com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões, ou cerca de R$ 400 mil por mês, vai chegar a até 90% de desconto na dívida, no Banco do Nordeste (BNB), segundo Paulo Câmara, presidente da instituição.
A iniciativa faz parte da nova etapa do programa federal de combate à inadimplência e estímulo ao crédito, intitulada Desenrola Pequenos Negócios.
Segundo Câmara, o banco está em fase de ajuste para começar a fazer as operações, e que no máximo em 30 dias as renegociações de dívidas vão estar rodando.
Ele acrescenta que, atualmente, a inadimplência no banco, em uma média geral, gira em torno de 4%, e que a categoria de MPEs também se encontra neste patamar.
Porém, Câmara detalha que há muitas pessoas jurídicas que deixaram de existir e ainda possuem débitos com o BNB. Ou seja, esse percentual de 4% a ser alcançado é maior. Pois o CPF que estava atrelado àquela micro ou pequena empresa ainda tem o que renegociar.
"Então é um universo até bem maior do que o simples 4%. Os 4% são quem está devendo e ainda está na ativa." (Beatriz Cavalcante e Armando de Oliveira Lima)