Além da Zona de Processamento de Exportação (ZPE), os municípios de Quixadá, Quixeramobim, Iguatu e Tauá estão sendo analisados para receber um abatedouro de caprinos do Grupo Vicunha, com capacidade média de 300 mil abates por ano e 1 mil por dia.
O local, a ser definido pela própria empresa, deverá ficar próximo à ferrovia Transnordestina, a fim de facilitar o deslocamento ao Porto do Pecém e de viabilizar exportações ao mercado árabe.
As informações foram fornecidas pelo secretário-executivo do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), Sílvio Carlos, o qual detalhou que a companhia tem tido reuniões para discutir o tema com o governo estadual.
Apesar de outros estados estarem no páreo para receber o empreendimento, Sílvio disse que a Vicunha já demonstrou o interesse de escolher o Ceará e que, agora, o que falta é a empresa definir o local do abatedouro entre os municípios cearenses.
Isso porque o grupo já possui outros investimentos no Estado, como indústrias têxteis e fazendas de manga. "O grupo acredita bastante no Ceará, tem uma boa interlocução com o governo e por isso acreditamos que a escolha já está quase certa para ser aqui", comentou.
O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), destacou que os processos ainda estão em negociação e que o Estado deve prosseguir com as conversas junto à Vicunha, no intuito de viabilizar que o investimento, de fato, ocorra no Ceará.
Elmano afirmou que isso pode ajudar a criar um mercado consumidor para os produtores locais de ovinos e caprinos, desenvolver o setor primário e a própria cadeia produtiva.
"Já há algum tempo a gente vem conversando a possibilidade de ter. O próprio setor agropecuário do Ceará solicita que a gente faça atuações para trazer para o Ceará frigoríficos. Essa é uma possibilidade, tem outras, outros grupos interessados em ter frigorífico aqui no Estado", detalhou.
O secretário-executivo da SDE explicou, ainda, que a Vicunha tem realizado estudos para entender o mercado de abate e o mercado consumidor, avaliando a capacidade do abatedouro e de exportação, pois a viabilidade econômica será um fator decisivo para o investimento.
Sobre o impacto no setor de caprinocultura, Sílvio vê que este é um segmento bem atuante no Estado, mas ainda pouco organizado em termos de produção e de mercado.
O abatedouro da Vicunha, neste sentido, ajudaria a incentivar a produção de caprinos, pois, muitas vezes, os produtores criam os animais, mas não têm para quem vender.
"Acreditamos que isso estimularia o aumento da produção, pois temos capacidade para aumentar a criação de caprinos e gerar empregos e renda no interior, melhorando também a balança comercial", acrescentou Sílvio Carlos.
Os animais do abatedouro deverão vir tanto do Ceará quanto de outros estados nordestinos, e a Transnordestina poderia facilitar essa logística no futuro, segundo Sílvio, que não descarta o uso de rodovias também.
Além disso, este projeto poderia atrair outras empresas a se instalarem no Ceará, desde indústrias de ração até o setor de logística. Algo que beneficiaria o apoio ao campo com veterinários e projetos agropecuários, na visão do secretário-executivo.
O POVO entrou em contato com o Grupo Vicunha para obter detalhes sobre o empreendimento, mas foi informado de que a empresa não irá se pronunciar no momento.
Abatedouros podem causar danos ambientais, apontam especialistas
Além dos aspectos em torno da geração de emprego e de renda de um empreendimento como um abatedouro de animais, alguns pontos negativos geram atenção, no que tange aos danos ambientais, de acordo com especialistas consultados pelo O POVO.
O engenheiro agrícola e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Antônio Delfino, detalhou que um abatedouro pode ocasionar danos relacionados à geração de resíduos sólidos, contaminação de efluentes, proliferação de insetos e animais vetores de doenças, aumento da poluição sonora e sobrecarga da infraestrutura viária.
O geógrafo e PhD em planejamento ambiental, Marcos Pedlowski, destacou a alta demanda por água em abatedouros, chegando a usar de 100 a 300 litros por animal abatido. "Temos essa preocupação com a pegada hídrica, que se estende além do abate. Se você pensar em mil cabeças por dia, isso se torna ainda mais significativo".
"O Ceará já não é um estado que pode dizer que não vive sob permanente risco de estresse hídrico. E você vai colocar uma planta que pode consumir a mesma água que uma cidade de 700 mil habitantes. Então, você vê que não é pouca água em um Estado que já tem dificuldades de gerenciamento", acrescentou Marcos.
Todavia, os abatedouros precisam seguir normas de conformidade para instalação. No Ceará, é necessário um licenciamento ambiental da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). O órgão verifica o tipo de infraestrutura, o local de instalação e se este é adequado para receber a atividade.
Quanto à parte social, a análise governamental mira, ainda, se haverá algum impacto negativo para a comunidade local. Caso haja algum tipo de dano, são vistas quais medidas mitigadoras poderiam ser implementadas para minimizar esse impacto, de acordo com o especialista em licenciamento ambiental da Semace, Iury Mourão.
"Se um empreendimento não for instalado de forma correta, não receberá a licença, pois a Semace não vai liberar a operação até que esteja em conformidade."
A Semace também realiza um acompanhamento pós-licenciamento, com um monitoramento contínuo dos negócios de forma trimestral, semestral ou anual, a depender do porte do empreendimento.
Empresa
O POVO entrou em contato com o Grupo Vicunha para obter detalhes sobre o empreendimento, mas foi informado de que a empresa não irá se pronunciar no momento