O fim dos voos de Juazeiro do Norte, no Cariri, para Fortaleza e Recife, por meio da Azul, pode prejudicar a competitividade do Ceará. A análise é do professor de economia do transporte aéreo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Alessandro Oliveira.
"A ausência de voos que criem conectividade para o interior do Estado é sempre problemática do ponto de vista da competitividade estadual. Porque você está sempre imaginando que os estados competem por investimentos e turistas estrangeiros. Então, um potencial turista vai onde o preço está melhor ou tem o melhor voo."
Desde 1950, a rota é ofertada entre o Interior e a capital cearense. Porém, atualmente, a Azul era a única opção, já que, em agosto do ano passado, a Voepass, companhia que também operava um voo diário entre as duas cidades, deixou de ofertar a frequência após acidente aéreo em Vinhedo (SP).
Além disso, no Ceará, a companhia anunciou a suspensão, a partir de 10 de março, das rotas Sobral, Iguatu, Crateús e São Benedito. Em todo o Nordeste, o encerramento se dá também em Maranhão (cidades de São Luís e Barreirinhas), Piauí (Parnaíba) e Rio Grande do Norte (Mossoró).
Ou seja, depois do período, o Aeroporto de Juazeiro terá voos diretos apenas para São Paulo, sendo dois da Latam e um da Gol para Guarulhos e outro da Azul para Campinas.
Assim, Alessandro Oliveira explica que o transporte aéreo é um importante alimentador do turismo regional, por isso, afeta diretamente a conectividade, ainda mais quando se trata de localidades distantes de grandes cidades.
"Você sempre imagina que o transporte rodoviário pode ser um alimentador também, só que a distância atrapalha, uma vez que os voos são cortados, é claro que isso afeta a conectividade da cidade. Muitas vezes, quando é o único voo, a cidade fica no vácuo, isolada. Isso é um problema de integração nacional importante que o transporte aéreo ainda não resolveu."
A decisão, portanto, prejudica direta e indiretamente os negócios e o desenvolvimento da região. "Não é à toa que as prefeituras pelo interior do Brasil afora são todas muito preocupadas e interessadas em atrair voos ou fazer apostas na cidade ou atrair novos aeroportos", complementa.
No comunicado sobre Juazeiro do Norte, a empresa diz que a descontinuidade faz parte de uma reestruturação interna em que ficou decidido acabar com as duas rotas diárias e ampliar de quatro para sete voos semanais a frequência com destino ao aeroporto de Viracopos, em Campinas.
Sobre os outros destinos a justificativa se deu por causa do aumento dos custos de insumos, da alta do dólar e da baixa demanda de voos na região.
Nesse sentido, o professor de economia do transporte aéreo do ITA, Alessandro Oliveira, pontuou que o combustível e o dólar são, de fato, os principais gargalos das companhias aéreas, pois, quando o valor sobe muito, a viabilidade econômica de alguns voos é perdida.
"Mas o voo do interior, muitas vezes, o que acontece? A companhia aérea, às vezes, tem voos em que a densidade, o fator de aproveitamento, está no limite. Ela está tentando desenvolver aquele mercado e, aí, com o aumento de custos, perde-se a viabilidade. Então, assim, o grande vilão aí é o dólar e o combustível, que afetam a malha das companhias aéreas."
Durante entrevista à rádio O POVO CBN Cariri, o secretário do desenvolvimento econômico do Ceará, Domingos Filho, lamentou a decisão pelo fato da região ser um grande polo de atividades econômicas e garantiu que conversará com outros órgãos para buscar caminhos alternativos.
"Os impactos em todas as áreas são impensáveis. Tanto que pegou todo mundo de surpresa [...] Naquilo que couber ao Estado, como indutor do desenvolvimento, ele procurará promover a melhor forma de restauração desses voos."
Outro ponto salientado pelo secretário é de que os aeroportos regionais passam por um momento de crise, porém, no caso de Juazeiro do Norte, o problema não é falta de passageiros, já que há uma grande demanda.
Em nota, a Aena, operadora do Aeroporto de Juazeiro do Norte, afirmou que seguirá firme na prospecção de incremento de assentos para o Aeroporto de Juazeiro do Norte, por meio de novas rotas, mais frequências e de aeronaves maiores, junto aos principais operadores do país.
"A empresa dispõe de programas de incentivo que premiam as companhias aéreas que aumentam o número de embarques em seus aeroportos. A atual medida tem impacto, mas o aeroporto ainda assim tem perspectiva de crescer em 2025 em linha com o crescimento de 2024."
Também destacaram que entendem "que a sociedade do Cariri vai interagir, por meio de suas prefeituras, com o Governo do Estado do Ceará. Qualquer ajuste ao programa de incentivos do Governo que possa auxiliar no desenvolvimento da malha aérea do interior será bem-vindo."
O prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), declarou, durante entrevista à rádio O POVO CBN Cariri, que encerramento dos voos é "preocupante para a economia e o desenvolvimento da cidade e da região".
"Eu recebo essa notícia com muita tristeza e profunda preocupação (...) Existe esse voo para a Capital (Fortaleza) desde a década de 1950. E, a essa altura do campeonato, quando estamos vivenciando o período de beatificação do Padre Cícero e as visitas estão cada vez mais constantes, ficarmos sem essa conexão é preocupante."
Além disso, o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, destacou que não são apenas romeiros e turistas que vêm ao município, mas também pessoas para fazer negócios, visto que o local é polo universitário e de desenvolvimento.
"Precisamos resolver essa situação e garantir o retorno dos voos. Nosso trabalho deve ser para ampliar a conectividade, e não retroceder, como está acontecendo agora."
Por isso, afirmou que está se reunindo com o setor produtivo e secretários municipais e estaduais. Além de buscar um encontro com o Governo do Estado para encaminhar reivindicações junto à bancada na Câmara dos Deputados.
"É necessário um esforço conjunto para que essa situação seja revertida. Tenho muita esperança e fé de que, em breve, isso será resolvido. Inclusive, acredito que a Aena, por todo o investimento que fez e pelo gerenciamento do aeroporto, está ciente do prejuízo que essa situação também pode causar."
Ante a perda de voos, a Secretaria do Turismo do Estado do Ceará (Setur) se manifestou por meio de nota. No comunicado, frisa que está acompanhando a redução das operações da companhia aérea Azul no Aeroporto de Juazeiro do Norte, "mantendo diálogo constante" com a empresa e com as demais companhias aéreas.
Porém, no texto enviado, reconhece que a Azul está reestruturando a malha aérea em todo o País, devido ao novo cenário e a desafios operacionais.
"O Governo do Estado, por meio de incentivos fiscais e da Lei de Subvenção já aprovada, está empenhado na ampliação da conectividade aérea no Ceará, com foco na expansão de voos domésticos e internacionais", complementou.
Os deputados federais do Ceará, José Guimarães (PT) e Eunício Oliveira (MDB), afirmaram nesta terça, 21, por meio de suas redes sociais, que vão se articular para retomar os voos de Juazeiro do Norte.
A declaração vem depois da Azul anunciar o fim das operações, a partir do dia 10 de março, com Fortaleza e Recife.
Além disso, no Ceará, a companhia anunciou a suspensão, a partir de 10 de março, das rotas Sobral, Iguatu, Crateús e São Benedito. Em todo o Nordeste, o encerramento se dá também em Maranhão (cidades de São Luís e Barreirinhas), Piauí (Parnaíba) e Rio Grande do Norte (Mossoró).
"É inaceitável o cancelamento do voo Juazeiro do Norte-Fortaleza. Já estou em Brasília, conversando com o Ministério do Turismo e o de Portos e Aeroportos para reverter essa situação. O Cariri é uma região com uma economia forte e não merece esse retrocesso. Na realidade, a região precisa de mais voos, e vamos trabalhar também para isso", afirmou José Guimarães.
Já Eunício Oliveira destacou que considera retrocesso econômico a perda dos voos diretos de Juazeiro do Norte para Fortaleza e Recife, comprometendo o turismo, a logística de negócios e a atração de novos investimentos.
"Como presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU) da Câmara me comprometo em atuar numa articulação para revertermos essa ação, inclusive com a possibilidade de inclusão de novas opções de voos que atendam o nosso Cariri."