O mercado imobiliário brasileiro segue aquecido, com perspectivas de valorização de imóveis e aumento nos preços dos aluguéis em 2025. Especialistas apontam que, apesar dos desafios econômicos, como os juros elevados, o setor deve manter força, impulsionado pela alta demanda e pela recuperação pós-pandemia de covid-19.
O diretor de assuntos econômicos da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Renato Lomonaco, destacou que a valorização dos imóveis tem sido constante nos últimos anos. "As pessoas têm uma intenção grande de comprar imóvel, o mercado está bem aquecido, e acho que o único fator negativo hoje são os juros altos".
Ele ressaltou que, mesmo com a Taxa Selic em patamares elevados – em 14,25% ao ano –, quem investiu em imóveis conseguiu superar a rentabilidade da taxa básica de juros. A valorização dos aluguéis também tem sido pujante. Segundo Renato, os preços caíram durante a pandemia, mas estão em recuperação desde 2022.
"As pessoas querem voltar a morar em regiões centrais. Durante a pandemia, houve uma maior aceitação de morar em locais mais afastados, mas, agora, há uma busca crescente por áreas centrais, o que valoriza ainda mais os imóveis nessas regiões", explicou. No fim de 2024, a alta no aluguel foi de 13,5% e a inflação, de 4,8%, explanou a Abrainc.
O especialista acredita que a tendência de alta nos aluguéis deve continuar, o que pode levar mais pessoas a optarem por financiamentos imobiliários, mesmo com taxas de juros elevadas. Atualmente, a taxa de financiamento imobiliário está em torno de Taxa Referencial (TR) + 12%, e o ideal seria uma taxa de um dígito, na visão do diretor.
"Hoje, é possível fazer a portabilidade do financiamento, ou seja, trocar de instituição financeira ao longo do tempo. Dessa forma, mesmo começando com uma taxa alta, o comprador pode refinanciar em condições melhores no futuro", afirmou. A Abrainc detalhou, ainda, que o índice de valorização dos imóveis estava em 12,7% em 2024, enquanto o de custos, em 6,3%.
No Nordeste, Fortaleza tem se destacado no cenário imobiliário em todos os segmentos imobiliários. Dados da Abrainc mostram que o preço médio vendido do metro quadrado na capital cearense aumentou 8% entre 2023 e 2024, saindo de R$ 9.926 para R$ 10.754. A expectativa é que a valorização continue no mesmo patamar em 2025.
Comparada a outras capitais da região, Fortaleza está um pouco acima de Recife e Salvador em termos de preços de imóveis, mas os dados detalhados não foram divulgados. O crescimento populacional e o desenvolvimento econômico têm contribuído para esse cenário. João Pessoa também vêm se destacando, conforme Renato.
O presidente do Sindicato da Construção no Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, destacou que 2024 foi o melhor ano para o mercado imobiliário nos últimos oito anos. “Todos os segmentos estão bem, principalmente o Minha Casa, Minha Vida, tanto pelos subsídios do governo federal quanto pelo programa Entrada Moradia Ceará.”
Ele ressaltou alguns impulsionadores como a volta da classe média ao mercado, após um período de retração durante a pandemia, e o aumento na procura pela segunda moradia, especialmente em praias como Porto das Dunas, Aquiraz e Cumbuco. O mercado de imóveis de alto padrão também registrou alta demanda.
Patriolino expressou, no entanto, preocupação com os juros. “Embora ainda não tenha impactado diretamente, a alta da Selic pode trazer desafios. Entramos em 2025 muito fortes, mas temos essa preocupação e esperamos que a macroeconomia consiga se estabilizar para que a taxa de juros caia e o mercado continue aquecido.”
Para 2025, a expectativa é de manutenção do patamar de valorização, impulsionada pelo aumento nos custos de materiais e mão de obra. “Estamos enfrentando dificuldades para encontrar profissionais qualificados e, quando encontramos, precisamos pagar mais. Isso reflete na valorização dos terrenos, dos materiais e do mercado como um todo”, explicou.
Já o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, defendeu que o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) não seja usado na modalidade de saque-aniversário, pois retira recursos para habitação e infraestrutura.
Os profissionais participaram de palestras no Summit CBIC Norte e Nordeste 2025, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em Fortaleza, ontem, 21.
Mudanças com reforma tributária preocupam setor imobiliário
A reforma tributária começa a ganhar forma com a regulamentação em andamento, mas ainda não impactou diretamente o mercado imobiliário. Especialistas do setor avaliam com preocupação as mudanças, porém a espera é que, a longo prazo, ela contribua para um sistema mais eficiente, embora o caminho até lá seja marcado por incertezas.
Um dos principais desafios será a adaptação das empresas ao novo modelo. A reforma também pode influenciar os preços dos imóveis, especialmente nos segmentos de alto padrão. Todavia, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, vê que o impacto nos preços não deve ser expressivo.
O advogado e membro do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Rodrigo Dias, explicou que a tendência da reforma é de que haja uma redução da carga tributária para a indústria e um aumento para setores baseados em mão de obra, como o imobiliário. "A indústria pode aproveitar para recompor margens, o que pode manter ou até aumentar os preços".
Um dos focos do setor é garantir que a reforma não prejudique a habitação popular. Renato destacou que a luta contra o déficit habitacional, que hoje chega a sete milhões de unidades, é uma prioridade. "Defendemos que não haja um ônus adicional sobre a habitação popular. Pelo contrário, apoiamos a ampliação dos subsídios estaduais e municipais."
Além disso, a fase de regulamentação da reforma tributária é vista como crucial para o setor. "Agora, o foco está nas instruções normativas, que detalharão como a reforma será aplicada no dia a dia das empresas", disse Renato. Ele ressaltou que o diálogo com a Receita Federal tem sido fundamental para garantir que as novas regras respeitem os princípios da lei.
Rodrigo acrescentou que o acompanhamento contínuo será essencial. "Ainda não sabemos como os tribunais vão interpretar e aplicar essas novas normas. Só com o tempo teremos clareza sobre os impactos reais". Ele citou que, a longo prazo, a premissa da reforma pode trazer benefícios, como maior segurança jurídica e simplificação do sistema.
Transição
A reforma tributária começa a ser implantada a partir de 2026 com previsão de valer integralmente em 2033
Procura
De acordo com o Sinduscon-CE, há também um aumento na procura por imóveis de alto padrão e aqueles com foco na segunda moradia, especialmente em praias como Porto das Dunas, Aquiraz e Cumbuco