O Ceará registrou um aumento de 120% no número de unidades imobiliárias lançadas entre 2020 e 2024. No Nordeste, o crescimento foi de 88,07%, acima da média brasileira, de 50,81% no período.
As vendas de unidades habitacionais também subiram na região ao longo desses cinco anos: foram 56,31% a mais, ante o aumento nacional de 39,98%.
Os dados serão detalhados nesta quarta-feira, 19, pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), durante o evento que percorre o País para apresentar um panorama atualizado do setor, o "CBIC Indicadores Regionais".
Segundo o presidente do órgão, Renato Correia, essa alta proporcional do Nordeste se deve a uma combinação de fatores estratégicos e estruturais.
"Após um longo período de incertezas, a forte presença do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) impulsionou os lançamentos e garantiu um fluxo importante de vendas, enquanto as incorporadoras adaptaram seus produtos à demanda regional. Além disso, o custo mais acessível dos terrenos permitiu preços mais competitivos, favorecendo a expansão do setor, entre outros fatores."
Também explica que a construção civil e o mercado imobiliário sempre avançam acima da média da economia nacional em momentos de expansão econômica e, no Nordeste, esse avanço foi ainda mais intenso, impulsionado pela valorização imobiliária em diversas cidades.
"O resultado é um mercado dinâmico, com maior oferta, vendas em alta e forte geração de empregos, consolidando a região como um dos principais polos de desenvolvimento do setor no Brasil”, ressalta o presidente da CBIC.
Para Patriolino Dias de Sousa, presidente da Sinduscon-CE, os resultados reforçam o protagonismo do Ceará e do Nordeste no setor imobiliário nacional. "Esse é um resultado significativo para a região e para a construção civil do Ceará, que teve uma participação expressiva nesse último volume de lançamentos. O crescimento de 120% no estado entre 2020 e 2024 reflete o dinamismo do setor e o impacto positivo dos investimentos no mercado imobiliário", concluiu.
De acordo com o CEO da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Tadeu Araújo, o crescimento no número de lançamentos e vendas também se manifestou no Valor Geral de Lançamentos (VGL), ou seja, a soma do valor das unidades lançadas em um determinado período no mercado imobiliário.
"O VGL de 2024 foi 217,84% maior que o de 2020 no Nordeste e de 153% no Brasil. Já o VGV regional cresceu 114,18% nesse mesmo intervalo e o nacional, 126%”, diz.
Será apresentado ainda o estudo ‘Mercado Imobiliário da Região Nordeste’, realizado pela Brain em parceria com a CBIC a partir de dados coletados de 73 dos principais municípios dos nove estados, incluindo as capitais, sobre imóveis residenciais verticais novos que foram colocados no mercado e comercializados.
Ele antecipa que ao longo desses cinco anos as incorporadoras ampliaram os investimentos em unidades compactas, como estúdios e apartamentos de um dormitório, atendendo à crescente demanda de investidores que adquirem imóveis para locação em plataformas, especialmente em cidades turísticas.
"Além disso, houve uma forte valorização do mercado de alto padrão e luxo, com um aumento expressivo no número de unidades acima de R$ 2 milhões, elevando o VGL”, argumenta.
Para o CEO, a participação do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) no Nordeste nos últimos dois anos garantiu uma base sólida de vendas no segmento econômico. Os números de vendas do programa avançaram 118,88% no Nordeste nesses cinco anos e 14,95% no Brasil, e os lançamentos cresceram 49,22% na região e 43,03% no país.
Outro fator determinante apontado pelo especialista é o custo de produção mais acessível no Nordeste – com um tíquete médio inferior ao restante do país e terrenos mais baratos, foi possível criar uma oferta maior de imóveis.
"Cidades como Aracaju, João Pessoa e Maceió se destacaram ainda pela forte valorização do metro quadrado, consolidando o Nordeste como um dos mercados imobiliários mais dinâmicos do Brasil nos últimos cinco anos", pontua.
Além disso, Ieda Vasconcelos, economista-chefe da CBIC, o bom desempenho do mercado imobiliário reflete diretamente na empregabilidade.
"Nos últimos 24 meses a construção civil gerou mais de 46 mil novos empregos com carteira assinada na Região Nordeste. Cerca de 60% desse total foi no segmento de construção de edifícios”, diz.
Nesse sentido, será apresentado o estudo ‘Panorama da construção civil na região Nordeste e perspectivas’ no qual destacou que o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil no País cresceu 4,3%, mais que o PIB total do País.
“Isso significa que o setor está com o seu nível de atividades superior ao da economia nacional. Além disso, a construção está com o ritmo de atividades superior ao período pré-pandemia”, acrescenta.
Outro ponto levantado é que a construção civil, junto a outros setores, tem contribuído para fortalecer o mercado de trabalho e ampliar a capacidade de consumo da população.
"As empresas nordestinas geraram mais empregos formais que a média nacional, com um aumento de 3,67% no número de trabalhadores em 2024. O crescimento foi puxado pelo segmento de edificações e pelos serviços especializados para a construção”, frisa a economista-chefe da CBIC.
Embora o custo da construção tenha aumentado acima da inflação em diversos estados nordestinos, a competitividade do setor foi mantida, permitindo que novos empreendimentos fossem viabilizados, disse Ieda. “Entretanto, fatores como a alta da taxa Selic e a redução da captação da poupança podem representar desafios futuros para o crédito imobiliário”, alerta Ieda.
Ainda de acordo com os dados apresentados por Ieda Vasconcelos, o Nordeste abriga 19,78% dos estabelecimentos da construção civil do Brasil, com destaque para Bahia e Ceará, que juntos respondem por quase 40% do total da região.
Além disso, a construção civil nordestina representa 16,5% do PIB nacional do setor, com a Bahia liderando a participação (5,4%), seguida por Pernambuco (2,5%) e Ceará (2,3%).
(Colaborou Mariah Salvatore)