Com mais de 2,3 milhões de pessoas com 50 anos ou mais, o Ceará vê crescer o protagonismo de um grupo que, até pouco tempo atrás, passava despercebido pelas políticas de fomento aos pequenos negócios: os empreendedores seniores.
Representando hoje 12% dos donos de negócios o Estado, esse público passa a integrar as estratégias do Sebrae Ceará, que promove ações voltadas exclusivamente para essa faixa etária e para a economia prateada. Uma delas é o evento Visão 50+, que chega à segunda edição no dia 31 de julho, em Fortaleza.
O perfil dos empreendedores seniores no Ceará revela tanto potencial quanto desafios. Segundo o Sebrae, cerca de 71% deles atuam na informalidade, sem registro de CNPJ, e apenas 30,6% contribuem para a Previdência. O rendimento médio habitual gira em torno de R$ 3.500, valor semelhante ao de faixas etárias mais jovens na mesma atividade, mesmo com uma carga horária semanal menor — cerca de 35 horas.
Outro dado que chama atenção é a desigualdade de gênero. Entre os empreendedores seniores, 70,1% são homens e apenas 29,9% são mulheres. “É uma diferença bastante discrepante que reflete uma desigualdade estrutural, e que precisa ser enfrentada com ações específicas”, afirma Jefferson Cavalcante, gestor estadual do Programa Sebrae Sênior.
A maior parte desses negócios está concentrada no setor de serviços (35%), seguido por comércio, agropecuária, indústria e construção. Muitos desses empreendedores têm uma longa trajetória no mercado formal e, ao se aposentarem ou serem desligados, optam por recomeçar — muitas vezes impulsionados pela necessidade de renda complementar ou pela vontade de realizar um antigo sonho.
“É como se voltassem à adolescência, repensando o que querem fazer do futuro. Só que agora com repertório, experiência e mais clareza do que realmente importa”, explica o Jefferson.
Para atender esse público com um recorte etário específico, o Sebrae Ceará lançou em 2024 o programa Sebrae Sênior, iniciativa pioneira no Brasil. O programa estadual articula parcerias com entidades da chamada economia prateada, além de promover cursos, mentorias, oficinas e workshops em diversas regiões do estado. A atuação se dá através das 12 regionais da instituição.
Além do Visão 50+, que será realizado na Fábrica de Negócios do Hotel Praia Centro, o Sebrae prepara para agosto a 1ª Semana Sênior, com programação voltada à formalização, finanças, autoestima e redes de conexão.
De acordo com o gestor, muitos seniores têm dificuldade de construir networking e acessar o ecossistema de negócios. "Estamos criando essas pontes”, reforça ele.
A experiência é o maior ativo dos 50+. Conforme Jefferson, empreendedores seniores se diferenciam por terem mais calma diante de desafios, menor propensão ao risco e maior capacidade de resolver problemas complexos. “Eles investem com mais prudência, têm um olhar menos imediatista e trazem um repertório de vida que os torna mais centrados”, destaca.
Esse amadurecimento, no entanto, não elimina os obstáculos. Transição de carreira, domínio de tecnologias e preconceito etário — o chamado etarismo — ainda são barreiras recorrentes. Por isso, o Sebrae defende uma abordagem que vai além da técnica: é preciso falar de propósito, bem-estar e legado.
A programação do Visão 50+ aposta justamente nessa dimensão emocional. Entre os nomes confirmados estão Maria Cândida — jornalista, criadora de conteúdo e autora do livro Menopausa como Jornada — e o ator Raul Gazolla, que traz a palestra O Show Não Pode Parar. Ambos compartilham histórias de reinvenção após os 50 anos.
“A gente percebe que esse público responde melhor a temas inspiracionais. Eles querem se sentir acolhidos, escutados. Não é só sobre abrir uma empresa, é sobre reencontrar sentido”, resume.