Em agosto de 2025, as exportações do Ceará totalizaram US$ 152,1 milhões. Esse valor representou uma queda de 46,3% em comparação com julho de 2025.
Os dados são do Ceará em Comex, estudo de inteligência comercial produzido pelo Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Eles refletem o primeiro mês após o aumento de 50% da tarifa aplicada pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros, o chamado “tarifaço”.
No comparativo com agosto de 2024, os dados do Ceará em Comex apontam para um aumento de 100% das exportações, mas em razão de movimentação atípica no ano anterior. Isso porque o setor de ferro e aço, principal item da pauta de exportação cearense, enfrentava na época dificuldades na conclusão dos registros de exportação.
No acumulado do ano, o Ceará exportou para 144 países, ampliando sua base em 13 mercados em relação a 2024, mas com forte concentração em alguns destinos.
Os Estados Unidos foram o principal parceiro comercial, com US$ 779,06 milhões (51,7% do total), dominados por ferro e aço, pescados e calçados. O México consolidou-se na segunda posição com US$ 95,28 milhões, impulsionado por ferro e aço.
A França (US$ 64,32 milhões), a Itália (US$ 54,56 milhões, puxada por rochas ornamentais) e os Países Baixos (US$ 50,25 milhões, com frutas frescas e preparações hortícolas) também foram destinos relevantes.
A China (US$ 52,91 milhões), Argentina (US$ 42,04 milhões), Alemanha (US$ 39,82 milhões, com crescimento expressivo) e Reino Unido (US$ 36,88 milhões) completam a lista dos principais destinos, mostrando a diversificação geográfica da pauta cearense.
A Colômbia registrou um leve recuo, mas manteve-se importante para o setor calçadista. Os demais países formaram um bloco mais pulverizado, mas relevante para a diversificação das exportações estaduais.
No acumulado de janeiro até agosto de 2025, o Ceará manteve a 17ª posição no ranking nacional de exportadores (com 0,7% de participação, acima dos 0,5% de 2024) e a 13ª entre os importadores (1,0%). Regionalmente, o estado é o 4º maior exportador (9,36%) e importador (10,30%) do Nordeste.
Ferro e aço mantiveram a liderança absoluta com US$ 804,7 milhões, majoritariamente destinados aos EUA, México e França, reforçando a dependência do mercado norte-americano.
Calçados totalizaram US$ 127,7 milhões, com crescimento para EUA e Colômbia, mas retração para a Argentina, indicando a necessidade de ajuste no mix de destinos. Fruticultura teve trajetória ascendente, somando US$ 105,9 milhões, com melões frescos e castanha de caju, tendo Países Baixos, Reino Unido e EUA como principais mercados.
Gorduras, óleos e ceras (SH2 15), quase inteiramente vinculados à cera de carnaúba, atingiram US$ 75,4 milhões, com crescimento em todos os principais mercados (EUA, China, Alemanha).
Setores como sal, enxofre, terras e pedras (impulsionados por quartzitos), peixes e crustáceos (concentrados nos EUA), e preparações hortícolas e de frutas também apresentaram volumes significativos e destinos diversificados. Peles e couros registraram recuo, enquanto o algodão teve crescimento notável para mercados sul-americanos.
Entre os municípios, o levantamento mostra que as exportações cearenses continuam fortemente concentradas, com os dez maiores respondendo por 87% das vendas externas.
São Gonçalo do Amarante liderou com US$ 825,3 milhões (53,7% do total), impulsionado pela siderurgia, especialmente ferro e aço, com Estados Unidos, México e França como principais destinos. Já Fortaleza registrou US$ 192,6 milhões (12,5%), com destaque para sementes e frutos oleaginosos (China), pescados (EUA) e combustíveis minerais (Índia).
Confira os assuntos econômicos no Ceará, no Brasil e no Mundo
Siga o canal de Economia no WhatsApp para ficar bem informado
FGV-Ibre aponta estados do NE como os mais impactados
Em agosto de 2025, o primeiro retrato do "tarifaço" mostra queda nas vendas aos EUA e menor peso do mercado americano na pauta. Análise feita pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), mostra que vários estados do Nordeste foram significativamente afetados na variação mês a mês (julho a agosto de 2025).
A base são os registros do Comexstat/Mdic, portal do governo brasileiro que disponibiliza dados detalhados sobre o comércio exterior do país.
O Ceará, por exemplo, apesar de um tombo mensal de 69% nas exportações para os EUA, avançou 152,3% ano a ano, após um julho para agosto de 2024 muito fraco (-93,7%). A participação dos EUA caiu de 60% em julho para 34,6% em agosto de 2025.
De acordo com o economista Flávio Ataliba, um dos autores do artigo "Primeiras evidências regionais do tarifaço dos EUA", do FGV-Ibre, o ajuste pode decorrer de sazonalidade e antecipação de embarques para julho, e não necessariamente de uma perda estrutural de mercado para a região como um todo.
"Quando do anúncio do tarifaço, muitos produtos podem ter sido antecipados, especialmente aqueles mais perecíveis. Quando a gente compara julho de 2025 com julho de 2024, a gente percebe um cenário bem atípico", comenta Ataliba.
Segundo ele, por conta dessas antecipações de julho, é possível que somente a partir dos resultados de setembro é que se possa ter uma imagem mais clara sobre os efeitos do tarifaço na economia.
Ataliba explica que para um diagnóstico mais refinado, é recomendado confrontar os resultados com outros destinos, separar o que é preço do que é volume, e comparar a variação de julho para agosto usando uma média de vários anos recentes, além da análise anual e da participação dos EUA em outras pautas.
"Mas os sinais iniciais, contudo, já apontam para um impacto significativo no Nordeste, especialmente em termos de flutuações mensais severas", avalia Ataliba.
Município
São Gonçalo do Amarante liderou com US$ 825,3 milhões (53,7% do total), impulsionado pela siderurgia, especialmente ferro e aço, com Estados Unidos, México e França como principais destinos