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Minas e Energia prepara 1º leilão de baterias para abril de 2026
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Economia

Minas e Energia prepara 1º leilão de baterias para abril de 2026

As diretrizes constam em portaria publicada no Diário Oficial da União (ONU).O início do suprimento está previsto para 1º de agosto de 2028
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Adão Linhares explica que os data centers dedicados à inteligência artificial já demandam 150 MW contínuos no Ceará — equivalente ao consumo de uma metrópole de 2,9 milhões de habitantes — com projetos regionais chegando a 3 GW. (Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO)
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO Adão Linhares explica que os data centers dedicados à inteligência artificial já demandam 150 MW contínuos no Ceará — equivalente ao consumo de uma metrópole de 2,9 milhões de habitantes — com projetos regionais chegando a 3 GW.

O Ministério de Minas e Energia (MME) abriu consulta pública para a realização do primeiro leilão de baterias do país. A expectativa é de que o certame seja realizado em abril de 2026.

As diretrizes constam em portaria publicada no Diário Oficial da União (ONU).O início do suprimento está previsto para 1º de agosto de 2028.

Na prática, o Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) de 2026 – Armazenamento permitirá que empresas instalem e operem grandes sistemas de baterias capazes de armazenar energia elétrica e liberá-la quando necessário, contribuindo para a estabilidade e a segurança do fornecimento em todo o país.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou que a iniciativa é inédita e reforça o protagonismo do Brasil no planejamento energético.

"O armazenamento de energia é viável e um grande aliado na transição energética. É o caminho para reduzir perdas, estabilizar o sistema e manter a modicidade tarifária, impulsionando o setor com inovação e previsibilidade."

Na avaliação do presidente da Energo Soluções em Energia, Adão Linhares, engenheiro com vasta experiência no setor energético, a medida representa um ponto de inflexão histórico na trajetória energética do Brasil.

Ele explica que o BESS - Battery Energy Storage System, ou Sistema de Armazenamento de Energia em Bateria em português - não é mais um complemento opcional, mas uma necessidade operacional imperativa para a estabilidade e eficiência do Sistema Interligado Nacional.

“Para o Nordeste, essa mudança de paradigma assume dimensões ainda mais profundas, transformando uma região historicamente periférica no mercado de energia em epicentro da revolução energética brasileira”, diz Adão Linhares.

Impacto no Nordeste

A convergência de fatores que torna essa transição irreversível, pontua o especialista, é praticamente única na história econômica do país.

De acordo com ele, o Nordeste concentra mais de 35 GW de potência instalada em fontes renováveis — eólica e solar — representando a maior capacidade de geração limpa do Brasil. “Esse potencial extraordinário vem acompanhado, paradoxalmente, de um problema crônico: a incapacidade estrutural da infraestrutura de transmissão em escoar essa energia”, comenta Linhares.

Ele informa que o curtailment solar (redução ou interrupção deliberada da geração de eletricidade, mesmo quando há capacidade técnica para produzir) atingiu 40% na Bahia e Pernambuco em períodos de 2025, refletindo um desequilíbrio sistêmico que desperdiça bilhões de reais anuais em eletricidade limpa que não consegue chegar aos consumidores.

“Enquanto o governo implementa planos ambiciosos de expansão da transmissão — 15.000 quilômetros de novas linhas com investimentos de R$ 56 bilhões — há uma lacuna crítica de 2-3 anos até a operação efetiva dessa infraestrutura”, comenta Linhares.

“O BESS emerge precisamente para preencher essa lacuna, funcionando como ‘transmissão virtual’ que armazena energia onde é gerada e a injeta nos momentos e locais de maior demanda e preço. A tecnologia é viável: sistemas de 30 MW/120 MWh com eficiência de 85% e capacidade grid-forming — os requisitos mínimos do LRCAP 2026 — são oferecidos por fabricantes consolidados como Huawei, BYD, Sungrow e WEG”, pontua.

Segundo ele, o modelo econômico proposto pela portaria torna essa viabilidade técnica em realidade financeira concreta. “A receita fixa anual, paga em 12 parcelas mensais e ajustada pelo IPCA, fornece a previsibilidade que project finance exige”, considera Linhares.

De acordo com o especialista, combinada com a arbitragem energética — carregamento em momentos de PLD baixo e injeção durante os picos de preço, onde o Nordeste apresenta variações superiores a R$ 200/MWh — a estrutura dupla de receitas sustenta TIR’s de 14-16% ao ano, compatível com os retornos esperados por fundos de infraestrutura.

“Um BESS híbrido solar + BESS pode capturar 50-60 MWh diários de energia que seria desperdiçada por curtailment, representando receita adicional de R$ 2,7-3,3 milhões anuais apenas pela mitigação do desperdício”, destaca.

Reforço dará maior segurança para operações futuras

Adão Linhares explica que complementando essa oportunidade energética estão as novas cargas estruturais que emergem no Nordeste. Segundo ele, data centers dedicados à inteligência artificial já demandam 150 MW contínuos no Ceará — equivalente ao consumo de uma metrópole de 2,9 milhões de habitantes — com projetos regionais chegando a 3 GW.

“A indústria de hidrogênio verde, ainda mais intensiva em energia, projeta 23 GW de demanda até 2030, concentrados em polos como o Porto do Pecém, que necessitará de 9,9 GW em 2032. Essas demandas estruturais não apenas absorvem a geração renovável hoje desperdiçada, mas criam mercados seguros e previsíveis para BESS, tanto em modelos de autonomia energética quanto de arbitragem de curtailment”, pontua Linhares.

Segundo ele, os custos caíram decisivamente. Linhares explica que a bateria, historicamente o maior componente de custo, viu seu preço reduzido 40% entre 2024 e 2025, chegando a US$ 100-120/kWh.
“Um sistema completo de 30 MW/120 MWh, com inversores grid-forming, transformadores, subestação e instalação, custa atualmente entre US$ 24-36 milhões. Com a receita fixa do LRCAP, mais a arbitragem de energia, esses investimentos se amortizam em períodos compatíveis com o mercado de infraestrutura”, considera.

Outro ponto destacado por Adão Linhares é que o Banco do Nordeste amplificou essa oportunidade ao dedicar aproximadamente R$ 360 milhões em linhas de crédito específicas para BESS, hidrogênio, redes inteligentes e transmissão, sinalizando que o setor público reconhece e financia a transição.“A janela de oportunidade está aberta num momento preciso”, avalia Linhares.

O calendário para o LRCAP 2026 envolve consulta pública até dezembro de 2025, edital em janeiro/fevereiro de 2026, cadastro de projetos em fevereiro/março, leilão em abril, e início de suprimento em 1º de agosto de 2028.

“Esse cronograma de 2,75 anos é absolutamente viável para sistemas containerizados de BESS, especialmente aqueles acoplados a usinas solares já licenciadas e operacionais no Nordeste”, considera.

Segundo ele, o que torna essa transição verdadeiramente sem volta não é apenas o regulatório ou o econômico, mas a confluência de imperativos técnicos, financeiros, ambientais e macroeconômicos que convergiram num único ponto do tempo.

“O Nordeste, historicamente um periférico no mercado de energia brasileiro, transformou-se no laboratório vivo onde a transição energética do país será de fato testada”, diz Linhares. Segundo ele, nenhuma outra região do país reúne o que ele definiu como “constelação de fatores”, tais como: abundância de geração renovável (35+ GW), restrições crônicas de transmissão (20-40% de curtailment), custos de BESS em queda acelerada (-40% em 12 meses), estrutura de receita dupla viabilizando project finance, novas demandas estruturais (data centers, H2V), e suporte público financeiro (BNB, BNDES).

Entusiasta, Adão Linhares afirma que para empreendedores, investidores institucionais, e governos estaduais nordestinos, a mensagem é inequívoca: a próxima década será definida pelas decisões tomadas nos próximos 12-18 meses.

“Aqueles que capitalizarem sobre o LRCAP 2026 – Armazenamento não apenas resolverão um problema estrutural do sistema elétrico nacional, mas participarão de um dos maiores ciclos de investimento em infraestrutura energética do Brasil desde a construção das usinas hidrelétricas nos anos 1980. Esta não é uma oportunidade de mercado entre muitas outras. É a transição energética do Nordeste — e a do país — finalmente se tornando realidade”, avalia.

 

Consulta pública

A consulta pública vai reunir contribuições até 01 de dezembro para a portaria que definirá as diretrizes do leilão. Esta rodada de contribuições retoma as discussões da Consulta Pública nº 176, realizada em 2024, com aprimoramentos na portaria de diretrizes e sistemática do certame, incorporando inovações tecnológicas desses equipamentos.

Os sistemas de armazenamento de energia por meio de baterias têm se destacado como soluções promissoras para diversas aplicações no setor elétrico brasileiro, incluindo o fornecimento de capacidade de ponta, em complemento a fontes de geração como as termelétricas.

Além disso, com a expressiva redução de custos nos últimos anos, o uso de baterias para armazenamento de energia elétrica tem se expandido globalmente, sendo amplamente adotado para diferentes finalidades, como a oferta de serviços ao sistema, o aumento da estabilidade e a melhoria da qualidade do fornecimento de energia.

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