Entre a chamada no celular com DDD 85 no final da tarde em 7 de janeiro ao treino do dia seguinte à primeira derrota na temporada 2021, Enderson Moreira deve ter vivido os 77 dias mais intensos da carreira como técnico. O treinador de 49 anos, que lidou com internação por Covid-19, goleada, luta contra o rebaixamento, mudanças no elenco, série invicta e constante pressão da torcida, tenta amenizar as cobranças externas e manter o respaldo interno no Fortaleza, O POVO apurou.
Sucessor de Marcelo Chamusca no comando do Tricolor, Enderson chegou ao Pici no início do ano, em meio ao surto de coronavírus que atingiu 12 jogadores. O objetivo da troca era mudar o ambiente no elenco e dar nova cara ao setor ofensivo. No percurso, porém, o próprio técnico foi contaminado e precisou ser internado em um hospital da Capital.
Este período, inclusive, é visto como prova do comprometimento do profissional com o clube. O POVO apurou que Enderson Moreira teve cerca de 50% dos pulmões comprometidos e, após receber alta, realizou a preleção no dia seguinte para a partida decisiva contra o Coritiba-PR, pela Série A, ainda debilitado e foi ao estádio assistir à vitória por 3 a 1 na Arena Castelão. O retorno ao banco de reservas ocorreu no triunfo por 3 a 0 sobre o Vasco da Gama-RJ.
A equipe carioca, inclusive, foi a principal concorrente na disputa contra a queda para a Segunda Divisão — no final, a definição ficou pelo saldo de gols. A reta final com três derrotas em sequência, inclusive os 4 a 0 sofridos para o Bahia, deixou o comandante em maus lençóis na avaliação da torcida. Em paralelo, o trabalho de reformulação do elenco para as novas competições já acontecia e um voto de confiança foi dado para a continuidade da comissão técnica.
Com o vai-e-vem no grupo de jogadores, entre chegadas e saídas, o Leão conseguiu emendar três vitórias no início da temporada 2021 e manteve invencibilidade de seis jogos até a noite dessa terça-feira, 22, quando perdeu por 1 a 0 para o Santa Cruz-PE, em casa, pela Copa do Nordeste.
O revés abriu novamente a artilharia virtual dos torcedores. Sem presença de público nas arquibancadas e sem perfis nas redes sociais, Enderson sente a pressão nas entrevista coletivas, com questionamentos sobre o trabalho. Ainda assim, não escapou de criminosa fúria digital: teve o número de telefone vazado nesta semana e recebeu dezenas de ataques de torcedores.
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"Eu sou um funcionário do Fortaleza. No dia em que o presidente achar que a gente não tem competência para estar aqui... O nosso problema é que a gente vive muito de um passado recente e vocês precisam desgarrar disso. Aquilo que aconteceu, aconteceu. Agora é outro momento, outra situação. Mas eu me sinto preparado para estar aqui, claro", alertou, em coletiva guiada.
Para o treinador, o momento é um desafio a ser encarado de frente. "E quando eu vim aqui dar a cara à tapa, quando muita gente talvez não tivesse coragem, com medo de ser rebaixado, de colocar isso no currículo, eu enfrentei. Eu não tenho medo de nada. Na minha vida, saí de onde eu saí, tudo para mim é lucro demais. Não quero ser uma vítima desse processo, mas se eu cheguei onde eu cheguei é porque eu tenho condição, capacidade e estou aqui me empenhando para caramba, até a última gota", assegurou.
Nos últimos dias, o novo diretor de futebol do clube, Alex Santiago, concedeu várias entrevistas e bancou o trabalho. O presidente do clube, Marcelo Paz, também mantém a confiança. Internamente, porém, há cobrança para retomada das vitórias e melhor desempenho da equipe nos próximos confrontos.
"Isso aí eu não vou nem discutir. Se as pessoas não conseguem perceber evolução é difícil. Eu não tive uma semana depois que nós terminamos o campeonato ano passado, não tivemos uma semana sequer de trabalho, rodamos o Brasil do Sul até o Nordeste. Então, estamos aí tentando fazer o melhor possível", rebateu Enderson, após o revés para o time coral.
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