A morte de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, há exatamente um ano, marcou o cenário esportivo e político mundial. Considerado o maior atleta de futebol da história, o ex-camisa 10 do Santos e da seleção brasileira, vítima de complicações de um câncer no cólon, ocasionando falência múltipla de órgãos, recebeu diversas homenagens durante o ano.
Eleito pela Fifa, ao lado do argentino Diego Armando Maradona, como o maior atleta do século XX, o Rei do Futebol conquistou inúmeros troféus com o Santos e a seleção ao longo da carreira. Reverenciado pela genialidade com a bola no pé, faturou o tricampeonato da Copa do Mundo — único jogador da história a conquistar o feito — o bicampeonato da Libertadores da América e do Mundial de Clubes e o hexacampeonato do Brasileirão.
Edson Arantes do Nascimento ainda é reconhecido pela revista France Football como detentor de sete Bolas de Ouro, troféu concedido ao melhor jogador do mundo. O brasileiro é o segundo maior vencedor da premiação, atrás do argentino Lionel Messi. No âmbito pessoal, mas atrelado aos feitos esportivos, Pelé ainda recebeu a Cruz da Ordem da República da Hungria, em 1994, e a Excelentíssima Ordem do Império Britânico, em 1997.
"Pelé é uma dessas personalidades míticas cuja obra e legado impactaram nos rumos da humanidade, naquilo que nos tornamos. Jogadores extraordinários sempre vão existir. Daqui a 50 anos falaremos de Messi, Cristiano Ronaldo e vamos compará-los com gente que ainda vamos conhecer. As comparações são sempre um desastre. O diferencial de Pelé, entretanto, é que pensando na importância dele para o jogo de futebol, o Rei bate bola no time de Albert Einstein, Leonardo da Vinci, Michelangelo e tantos outros gênios que moldaram suas áreas de atuação", apontou o comentarista esportivo Paulo Calçade, do Grupo Disney.
O legado vai muito além do futebol. Em 1984, Pelé posou para a revista Placar com camisa das Diretas Já, movimento político realizado entre 1983 e 1984 visando o retorno das eleições diretas ao cargo de presidente do Brasil. Além disso, conforme citado pelo jornalista Marcos Luca Valentim, o Rei do Futebol ainda teve importância para a valorização dos negros e das crianças no país.
“Ele foi um militante, sim, à maneira dele. Não era um militante de ir para a rua, protestar. É ser um corpo negro em seu estágio máximo de excelência, jogando holofote onde tinha que jogar. Onde? Nas crianças. Em quem poderia e pode garantir nosso futuro, que é o nosso legado, a base. E, geralmente, essas imagens do Pelé com crianças… foram vários filmes com temática infantil, propagandas, como do ABC, ABC… para alfabetizar crianças. O discurso dele no milésimo gol, preocupado com crianças, a maioria eram crianças pretas. Se está falando de alfabetização, de precariedade, de falta de acesso, está falando de quem? De preto pobre, a maioria do país. Então, ele estava atento, sim”, disse o co-líder do grupo étnico-racial das Organizações Globo em entrevista ao Canal Preto, no YouTube.
Das homenagens para Pelé em 2023, a mais recente veio no último dia 20, com a aprovação do projeto de lei na Câmara dos Deputados para decretar 19 de novembro como Dia Nacional do Rei Pelé. O documento, agora, seguirá para validação do Senado. A PL é de autoria dos deputados Luciano Ducci (PSB-PR) e Felipe Carreras (PSB-PE).
Para além do âmbito político, o eterno camisa 10 recebeu homenagens durante os campeonatos realizados no Brasil em 2023. O troféu do Campeonato Paulista, conquistado pelo Palmeiras, recebeu o incremento da coroa. Na Série A, que ganhou a alcunha de Brasileirão Rei, foi criado o "minuto 10" como formar de reverenciar o Atleta do Século.
O ano, no entanto, não foi de conquistas para o Santos, clube que Pelé popularizou mundialmente. Rebaixado à Série B de 2024 ao perder para o Fortaleza na Vila Belmiro, a equipe paulista decidiu aposentar a camisa 10 em competições nacionais até o retorno à elite nacional. De acordo com o presidente eleito Marcelo Teixeira, “no Campeonato Brasileiro, enquanto não subir, não atuaremos com a camisa 10, em memória e honra”.
O Rei ainda recebeu uma homenagem para além do futebol. Pelé se tornou verbete do Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, como sinônimo de quem é “fora do comum” ou alguém que “não pode ser igualado”. A campanha para o apelido de Edson Arantes do Nascimento figurar no documento contou com o apoio da Fundação Pelé, do SporTV, do Santos e Memorabíblia do Esporte.