Corpo desinchado, músculos definidos e disposição elevada. Esses são os benefícios relatados na internet por algumas pessoas após cortarem o consumo de açúcar durante 20 dias. O desafio vem sendo adotado após um vídeo do influenciador Vini Vecchi viralizar no Tik Tok, no último dia 31 de maio. Foram mais de seis milhões de visualizações ao mostrar o resultado do seu corpo após a retirada dos doces.
O conteúdo levantou discussões sobre o teor verídico do hábito. As pessoas comentaram sobre a vontade de testar a suposta dieta, enquanto outros usuários falaram sobre a mudança de expressão do influencer. "Ficou até mais triste", escreveu uma seguidora no post, que tem mais de 720 mil curtidas.
Alguns usuários questionaram Vini sobre outros fatores para a mudança corporal, como a musculação. O influenciador respondeu os comentários com um vídeo explicando sua dieta, acompanhada por nutricionista. "Se você não treina e não faz dieta, cortar o açúcar já vai fazer uma grande diferença porque você desincha e perde gordura mais rápido."
A endocrinologista Karina Sodré explica que a retirada do açúcar pode levar, sim, à diminuição de calorias ingeridas em um dia e refletir na perda de peso. "Agora se a pessoa tirar o açúcar mas compensar aumentando em outros tipos de alimentos ricos em carboidratos, pode não haver mudança de peso nem de gordura corporal, e sim efeito contrário", alerta.
Em contrapartida, a psicóloga clínica Ana Paula Sales explica que de início o cérebro pode passar a produzir serotonina em níveis mais baixos, ocasionando alguns sintomas. "Mau humor, dificuldade para dormir, tristeza, isolação, dificuldade de sentir satisfação e prazer, maior tendência a problemas emocionais como ansiedade e depressão", enumera Paula.
Os especialistas ressaltam que o ideal é equilíbrio no consumo. Uma sugestão é recorrer ao açúcar em alimentos naturais. "Qualquer mudança no plano alimentar deve ser acompanhada por um profissional da área, que será elaborado considerando as necessidades individuais e os objetivos desejados", diz Ana Paula.
Após o vídeo de Vini Vecchi alcançar um grande público, alguns outros criadores de conteúdo começaram a mostrar a nova dieta sem consumo de açúcar por 15, 20 e até 45 dias. O assunto foi também bastante comentado na rede social X, onde os usuários relataram suas impressões sobre a nova tendência.
Com o assunto em alta, alguns usuários levantaram a discussão sobre a responsabilidade de propagar conteúdos relacionados à alimentação. Segundo a médica endocrinologista Karina Sodré, doutora em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP), há a diferença entre uma dieta sem açúcar branco e uma dieta sem carboidrato, classificados em simples e complexos. "Os carboidratos simples são moléculas pequenas que fornecem energia rapidamente e fazem a glicemia (nível de açúcar do sangue) subir na mesma velocidade. Esse é o açúcar de mesa."
Os carboidratos complexos são moléculas maiores, e a probabilidade de serem convertidos em gordura é menor. "Eles também aumentam os níveis de açúcar no sangue mais lentamente e em níveis menores por um período mais longo. Os carboidratos complexos incluem amidos e fibras, cereais (como cevada e milho), feijões e tubérculos (por exemplo, batata e batata-doce). Logo, uma pessoa pode ficar sem comer açúcar branco", ressalta Karina.
Pedro Guilherme, educador físico, ressalta que os açúcares são importantes fontes de energia, e sem nenhum tipo de açúcar o indivíduo pode se sentir cansado. "Todo carboidrato vira açúcar, então seria muito difícil o ser humano ficar sem consumir nenhuma fonte de açúcar."
A escolha por uma dieta sem açúcar refinado, segundo a psicóloga Ana Paula, requer um período de adaptação, pois ao restringir o hábito pode-se perceber inicialmente mudanças de humor, comportamentos compulsivos e ansiedade. Contudo, esse estado de adaptação é temporário e transitório: "Daí a importância de compreender que qualquer processo de mudança precisa ser realizado de forma gradativa para que se torne sustentável. Após o período de adaptação, o cérebro, abastecido por outras fontes de serotonina, como atividades físicas e outras fontes de carboidratos, tende a não sentir mais a necessidade do açúcar".
Para um adulto saudável, a porcentagem de carboidratos, em média, deve ser equivalente a 45 a 65% da dieta diária. Porém, a endocrinologista Karina Sodré explica que a quantidade pode variar de acordo com o tipo de carboidrato consumido, se é composto de fibras e amido ou apenas açúcares, e de fatores como idade, gênero e comorbidades já existentes."Se em seguida a pessoa voltar a comer excesso de carboidratos simples, como doces e massas, o peso voltará a aumentar", lembra.
As redes sociais são uma forte ferramenta de influência na vida das pessoas. Quanto aos conteúdos relacionados à alimentação, a psicóloga Ana Paula Sales reconhece que essa influência pode ser desastrosa, pois generaliza uma conduta que possivelmente levará a uma condição de frustração. "Cada um de nós vive num contexto diferente, diante de condições, necessidades singulares e de uma história de saúde familiar que precisa ser considerada. Então, é imprescindível uma orientação profissional especializada."
A endocrinologista Karina Sodré ressalta o que deve ser cada vez mais difundido: "Não existe mudança permanente na composição corporal, no peso e na saúde com medidas mágicas, tratamentos mágicos, com remédios mágicos".