Embora os depoimentos prestados na CPI da Covid tenham deflagrado apenas a primeira semana de investigação do colegiado, já está claro que há uma linha-mestra de atuação dos senadores e mais: está evidente, ponto a ponto, o caminho para chegar à responsabilização do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Pelo que testemunharam os ex-ministros da Saúde Henrique Mandetta e Nelson Teich e o atual, Marcelo Queiroga, o chefe do Executivo apostou numa estratégia que combinava imunidade de rebanho e divulgação de medicamento ineficaz contra a doença. A negligência da compra de vacinas é consequência da desimportância com o que o Governo Federal tratava o assunto.
Se Bolsonaro acreditava, como de fato acreditava, que a pandemia se tratava de gripezinha curável com cloroquina e para a qual o melhor seria que todos se expusessem logo e se contaminassem, não havia motivo para gastar dinheiro com vacina. O problema: a imunidade coletiva era uma falácia e a cloroquina, um truque barato.
Disso se conclui que o presidente ignorou alertas sucessivos de seus ministros, todos documentados, para que adotasse outra postura que não a do negacionismo e investisse em resposta fundada no que recomendava a melhor ciência: isolamento social, uso de máscara e, quando já era possível, compra de imunizantes. Bolsonaro, contudo, preferiu ouvir o seu "assessor paralelo" e adeptos do terraplanismo. O resultado é o que vemos hoje: o Brasil caminhando para meio milhão de mortos. De quem é a culpa? A resposta nunca pareceu tão fácil de achar.