Francisco partiu sem alardes na manhã que sucedeu a data mais importante do calendário litúrgico da Igreja Católica: a Páscoa de Jesus Cristo. Não haveria momento mais simbólico para subida à casa do Pai. Sereno e atrevido, diante do quadro que encarava, despediu-se dos fiéis ali, naquela tão solene celebração. Se pregou misericórdia, certamente a recebeu ao protagonizar esse roteiro.
O jesuíta que escolheu o nome do santo que guia os franciscanos já prenunciava, nesse rebatismo, a simplicidade que pretendia imprimir em seu pontificado. A revolução que promoveu ao conduzir uma instituição tradicionalista, alicerçada em dogmas, conquistou ao redor de todo o mundo até quem não era adepto ao cristianismo.
Clamou por uma igreja em saída, aproximou religiões, direcionou os refletores globais para temas emergentes. Debruçou-se sobre mudança climática, rogou pela paz diante de conflitos humanitários, permitiu bênção a casais homoafetivos e orientou o acolhimento a casais de segunda união. Desagradou conservadores, mas também o foi. Condenou o aborto e, assim, a luta pela garantia de direitos reprodutivos das mulheres.
É neste espaço paradoxal que o primeiro Sumo Pontífice latino-americano deixa o trono de São Pedro para o seu sucessor. Um legado forte e controverso. Ampliou os espaços geográficos e culturais da eleição de um líder religioso, mas também de um chefe de Estado, ao indicar 108 dos 135 cardeais aptos a participarem do conclave. O grupo, todavia, é composto por nomes ligados aos antecessores Bento XVI e João Paulo II.
O Brasil foi seu primeiro destino internacional, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em 2013. No papamóvel, a poucos metros de mim, acenou aos fiéis. Com sua trajetória, acenou para como deseja ser conduzida a Igreja Católica. Aplainou o caminho, mas já não repousam em suas mãos os rumos. Se pertence a Deus, o futuro também depende da influência que o catolicismo está disposto a exercer nos próximos anos.