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Cor da pele é o principal fator de discriminação no Brasil
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Cor da pele é o principal fator de discriminação no Brasil

Mulheres pretas reportaram mais razões para experiências de discriminação. Em segundo lugar, vêm os homens pretos
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COR da pele é o principal fator de discriminação no Brasi (Foto: Adobestock)
Foto: Adobestock COR da pele é o principal fator de discriminação no Brasi

Um estudo divulgado nesta terça-feira, 20, mostra que 84% dos pretos já sofreram discriminação racial no País. Além disso, quem enfrenta a desigualdade de forma desproporcional são as mulheres negras, com 72% delas relatando múltiplos episódios de discriminação com diferentes razões.

A pesquisa realizada pela organização global de saúde Vital Strategies e pela associação civil Umane, que pela primeira vez aplicou em esfera nacional a Escala de Discriminação Cotidiana Ferramenta desenvolvida para medir a percepção da discriminação vivenciada por indivíduos no dia a dia. , mostra que a cor da pele é o principal fator de discriminação no Brasil.

A diferença do tratamento a partir da cor da pele fica evidente nas respostas. Mais da metade da população preta (51,2%) relata ser tratada com menos gentileza, enquanto 44,9% dos pardos e apenas 13,9% dos brancos reportam ter vivenciado a mesma situação.

"O mesmo padrão se repete em outras experiências: 49,5% dos pretos afirmam ser tratados com menos respeito, percepção compartilhada por 32,1% dos pardos e 9,7% dos brancos", aponta o relatório. "A discriminação também impacta o atendimento recebido no dia a dia: 57% dos pretos afirmam ser mais mal atendidos, enquanto isso é relatado por 28,6% dos pardos e 7,7% dos brancos".

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Os resultados trazem ainda que 16,8% dos pretos e 20,2% dos pardos relatam que as pessoas agem como se tivessem medo deles, enquanto esse tipo de resposta foi ouvida por 5,1% dos brancos.

"Da mesma forma, 16,6% dos pretos e 20,2% dos pardos afirmam ser vistos como desonestos, situação reportada por 5,9% da população branca. O comércio também reflete essa desigualdade no tratamento: 21,3% dos pretos relatam ser seguidos em lojas, enquanto 8,5% dos pardos e 8,5% dos brancos relatam essa situação", destaca o estudo.

Mulheres pretas enfrentam desigualdade de forma desproporcional

Outros fatores além da raça se somam nessa percepção sobre as razões para discriminação, ao considerar aspectos como raça, gênero, aparência e posição socioeconômica.

A análise indica que pessoas pretas relatam mais razões para a percepção de discriminação, com cerca de 70,9% do grupo de raça/cor preta atribuindo duas ou mais razões para as ocorrências.

As mulheres pretas são o grupo que mais reportou duas ou mais razões (72%) para suas experiências de discriminação, seguidas pelos homens pretos (62,1%).

“É fundamental que também seja considerado o fato de que os indivíduos frequentemente ocupam mais de uma posição socialmente desfavorecida e que essas podem interagir para moldar suas experiências", explica Janaína Calu, consultora em equidade racial e saúde da Vital Strategies. "Por isso, a abordagem da interseccionalidade se faz central no processo de compreensão das dinâmicas de discriminação”.

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Discriminação é fator estruturante de desvantagens econômicas, sociais e de saúde no Brasil

De acordo com Janaína Calu, um número crescente de pesquisas ao redor do mundo sugere que experiências de discriminação são uma forma de "estresse psicossocial que afeta negativamente a saúde mental e física em diferentes grupos raciais e étnicos".

Ela destaca que, no Brasil, a discriminação é reconhecidamente um dos fatores estruturantes das desvantagens econômicas, sociais e de saúde enfrentadas por grupos raciais socialmente vulnerabilizados.

"A aplicação da escala pela primeira vez em esfera nacional tem como objetivo gerar evidências e documentar a magnitude da discriminação sofrida no dia a dia pela população e informar ações de combate à sua ocorrência e de mitigação dos efeitos negativos na vida das pessoas negras, grupo mais afetado”, pontua ainda a consultora em equidade racial Janaína Calu.

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Metodologia do estudo

Para chegar a esse resultado, foram ouvidas 2.458 pessoas de todas as regiões do País, entre agosto e setembro de 2024, por meio da internet. A ponderação estatística é baseada no Censo 2022 e na Pesquisa Nacional de Saúde de 2019. 

No estudo, os entrevistados avaliaram, entre outras coisas: se são tratados com menos respeito ou gentileza; se recebem atendimento pior; se são vistos como desonestos; se são xingados com palavrões e insultos; se sofrem ameaças.

Experiências de discriminação foram mais prevalentes na população preta ao considerar apenas as respostas "frequentemente" e "sempre". O estudo aponta que cerca de metade dos respondentes indicaram ter vivenciado três situações: "recebo um atendimento pior"; "sou tratado com menos gentileza" e "sou tratado com menos respeito". O estudo foi realizado a partir de dados do programa Mais Dados Mais Saúde Realizado pela organização global de saúde Vital Strategies e pela associação civil Umane, com parceria técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), apoio do Instituto Devive e colaboração do Ministério da Igualdade Racial. .

Para a diretora de Políticas de Ações Afirmativas do Ministério da Igualdade Racial, Layla Pedreira Carvalho, os resultados reforçam que não há solução única para enfrentar o racismo institucional. Ela destaca que esse enfrentamento depende de esforços entre governo, profissionais de saúde, sociedade civil e instituições privadas para promover mudanças significativas no atendimento da população negra.

"A pesquisa evidencia a importância de fortalecer o monitoramento de práticas discriminatórias em diferentes dimensões da sociedade — inclusive no acesso e na qualidade das políticas públicas de saúde —, mapeando suas desigualdades e entendendo como elas são produzidas e reproduzidas na sociedade e no acesso às políticas públicas'', afirma.

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