Rubens Rodrigues é jornalista, editor de Cidades do O POVO. Nesta coluna, trata de assuntos ligados a raça, diversidade e direitos humanos
Rubens Rodrigues é jornalista, editor de Cidades do O POVO. Nesta coluna, trata de assuntos ligados a raça, diversidade e direitos humanos
As mulheres pretas e pardas formam maioria entre as vítimas nas notificações de violências física, psicológica/moral e sexual nas zonas rurais do País.
A informação é resultado da pesquisa "Caracterização das notificações de violência contra as mulheres que vivem em contextos rurais no Brasil, de 2011 a 2020", publicada na Revista Brasileira de Epidemiologia, nesta sexta-feira, 13.
Conforme o estudo conduzido por pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram registradas 79.229 mil notificações de violência contra as mulheres rurais, com idade de 18 a 59 anos, no Brasil, de 2011 a 2020.
A maior parte delas (60.819, 77,6%) foi vítima de de violência física, enquanto 28.544 (36,5%) mulheres sofreram psicológica/moral e 4.873 (6,2%) sexual.
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A pesquisa mostra que as mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto representaram a maioria das notificações em todos os tipos de violência.
Além disso, mulheres jovens, de 18 a 29 anos, e mulheres na faixa dos 30 aos 39 são as que mais sofrem violência física, psicológica/moral e sexual.
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As notificações mostram que o provável autor da maioria das violências é predominantemente homem. Em caso de violência sexual, eles são 96,2%.
Os parceiros das vítimas são os principais agressores em notificações de violências física e psicológica/moral, enquanto na violência sexual, a maioria foi por parte de desconhecido, seguido de amigos/conhecidos e cônjuge ou namorado.
A maioria das ocorrências de violências registradas foram na própria residência das vítimas. Em casos de violência sexual, via pública ou outros locais também aparecem de forma expressiva.
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) mostra que, entre 2011 e 2020, a taxa anual das notificações de violência contra mulheres que vivem em contextos rurais no Ceará só aumentou.
Para se ter uma ideia, em 2011, a taxa de notificações foi de 12,1%. Em 2019, foi para 113,7%, fechando em 2020 com 111%. A taxa média na década ficou em 54,4%, segundo o Sinan.
Apesar da alta, as pesquisadoras Luciane Stochero e Liana Wernersbach Pinto revelam que, levando em consideração 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19 e as restrições sociais, "observa-se pequena redução nas taxas em 17 estados, como Amapá, Tocantins, maioria dos estados do Nordeste, todos da Região Sul e Goiás. Essa redução refletiu na taxa do País, que passou de 162,8, em 2019, para 142,6, em 2020".
"Por outro lado, essa diminuição não foi estatisticamente significativa, o que talvez indique a gravidade dos casos de violência que levaram essas mulheres, em meio a uma pandemia, a sair de casa e chegar ao setor saúde", aponta o estudo.
De acordo com as autoras, apesar do aumento da cobertura de notificação, ainda existe subnotificação de casos de violência contra a mulher.
Discussão mostra que há ficuldades em reconhecer os casos de violência e que falta capacitação dos profissionais para reconhecer as violências e notificar são algumas das limitações existentes.
"Ademais, o setor saúde ainda não é totalmente reconhecido como porta de entrada para a Rede de Atendimento à Mulher em situação de violência. Quando as mulheres buscam algum apoio, geralmente, recorrem primeiro a pessoas que confiam, e quando a violência chega a extremos, como em casos de lesões físicas ou ameaças, buscam o setor saúde ou delegacias".
Para as pesquisadoras Luciane Stochero e Liana Wernersbach Pinto, há de pesarem as especificidades do contexto rural, como a falta de informação, a ausência de telefonia e internet, o isolamento geográfico, o desprovimento de transporte público e longas distâncias entre uma possível rede de apoio.
"São necessárias intervenções no campo da saúde, como mais capacitação dos profissionais de saúde para o processo de identificação, notificação e acolhimento das mulheres rurais em situação de violência, em especial dos(as) agentes comunitários de saúde, que estão mais próximos das mulheres; integração dos serviços de saúde, assistência e segurança, pois a questão da violência requer atenção intersetorial e abrangente, que esteja inclusive presente nas áreas rurais", assinam as autoras.
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