Que Lula vem de semanas difíceis, nisso não há qualquer novidade. IOF, INSS, IR, RP/9 - a sopa de letrinhas por trás da maré de baixas sucessivas na avaliação presidencial não esconde que algo vai mal no terceiro mandato do petista, mas o quê? Eis o ponto. Os mais ingênuos creem num "problema de comunicação", assim magicamente resumido, como se lhe faltasse a cartilha segundo a qual guiar as palavras do dia a dia, conectando-se com um eleitorado para o qual o mandatário não tem discurso.
Outros expandem a questão, localizando as dificuldades do governo para além da ineficiência de parte dos ministérios, entregues a nomes cujas bases congressuais votam contra Lula, e não seu a favor, fenômeno já diagnosticado como falência do "presidencialismo de coalização" (ver Sérgio Abranches).
Disso se segue a nova lógica que preside o parlamento (deputados e senadores), movidos mais por desejo de emendas, e não por cargos ou funções no Executivo. Ou seja, a dificuldade então passaria pela 1) defasagem de um governante habituado a transacionar apoios sob outro regime (a moeda de troca era diferente) e que 2) ainda não enxergou que a vaca está indo para o brejo, até mais rapidamente do que supunham seus adversários.
Tudo isso é verdade. Lula está menos hábil hoje do que ontem (quando fala espontaneamente, que é a receita comumente sugerida por críticos, comete gafes em série); e o Legislativo se hipertrofiou. Logo, a situação é duplamente ruim, com um quadro desafiador enfrentado com os mesmos instrumentos do passado e sem aderência social que garanta ao mandatário pressão suficiente para que encaminhe a sua agenda.
Daí a sensação de que o petista administra a rendição, isto é, o presidente entrega medidas no atacado para negociar pequenas vitórias no varejo. É o que restou. Sim, Hugo Motta age politicamente (e quem não?) e a Faria Lima exerce ingerência sobre a Câmara (e quando foi diferente?), como se notou especialmente nessa semana. A dúvida é: o que Lula pretende fazer para evitar que o Titanic vá a pique em 2026?