Com infraestrutura fortalecida e recuperação pós-pandemia, o Ceará se destaca como polo de eventos no Nordeste, mas ainda enfrenta entraves ligados à mão de obra, à hotelaria e à malha aérea.
A avaliação é de Stella Pavan, reeleita presidente do Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos e Afins do Estado do Ceará (Sindieventos CE).
Segundo ela, a falta de mão de obra é hoje o maior gargalo do setor, principalmente nas áreas ligadas à estrutura dos eventos.
Para enfrentar esse problema, o sindicato articula uma iniciativa inédita, prevista para começar a partir de fevereiro de 2026, em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), por meio do projeto “Soldado Cidadão”.
A proposta consiste em capacitar soldados que deixam o Exército e não seguem carreira militar para atuarem no mercado de eventos.
“Vamos começar com cursos de montadores, de estruturas e de vários segmentos, trazendo esse soldado que não engaja no Exército para o setor de eventos”, explica Stella.
Segundo ela, a expectativa é que a iniciativa se torne “a grande sacada da década”.
“Estamos pegando profissionais jovens, disciplinados e que estão em busca de uma carreira. O setor de eventos abraça isso”, afirma.
A presidente do Sindieventos ressalta ainda que a parceria surge em um momento crítico de escassez de profissionais e pode ajudar a reduzir a carência estrutural enfrentada pelo setor.
Outro entrave apontado por Stella é a redução da rede hoteleira do Estado. Segundo ela, o fechamento de hotéis, sobretudo na orla da Beira-Mar, resultou em uma perda significativa de leitos, já que muitos empreendimentos foram convertidos em flats e residenciais.
“Isso é um fator que não deixa de ser negativo”, reconhece. Apesar disso, a presidente pondera haver um movimento de reequilíbrio, com a ampliação do olhar para a Região Metropolitana de Fortaleza e áreas do litoral próximas à Capital, além da expectativa de novos investimentos no setor.
A malha aérea também aparece como um ponto sensível para o crescimento do mercado de eventos.
O hub aéreo de Fortaleza, consolidado a partir de 2016 no Aeroporto Internacional Pinto Martins e que atingiu seu auge em 2018, com 12 conexões internacionais, sofreu retração nos últimos anos.
Em janeiro de 2024, o terminal contava com apenas quatro ligações internacionais: Buenos Aires, Lisboa, Miami e Paris.
Stella destaca que, sob a articulação da Secretaria do Turismo do Ceará (Setur-CE), comandada por Eduardo Bismarck, o Estado tem trabalhado para recuperar conexões perdidas no pós-pandemia.
“A gente perdeu a Azul, mas há muitas promessas para o próximo ano. A expectativa é sempre de crescimento”, afirma.
Sobre isso, Fortaleza terá duas novas rotas de voos diretos, uma nacional para Foz do Iguaçu (PR) e outra internacional para Montevidéu, no Uruguai, anunciadas recentemente pelo governador Elmano de Freitas (PT).
Apesar dos desafios, o Centro de Eventos do Ceará segue como um dos principais ativos do Estado.
Considerado pelo setor como um divisor de águas, o equipamento elevou o Ceará a outro patamar na disputa por feiras e congressos de grande porte.
“Colocou o Centro de Eventos em outro status. Hoje é um dos maiores da América Latina. Em termos de Norte e Nordeste, eu acredito que seja a melhor estrutura ainda”, destaca Stella.
O desempenho recente reforça esse cenário positivo. Em 2025, o setor de eventos superou, pela primeira vez, os números registrados em 2019, com forte crescimento no segmento corporativo.
A agenda para 2026 já sinaliza essa retomada, com grandes eventos confirmados. “No primeiro trimestre, teremos um grande evento da indústria ocupando todo o Centro de Eventos”, comenta.
Também já estão confirmadas o Seminário Nordestino do Agro (PecNordeste) e a Feira da Indústria, que irão utilizar simultaneamente os pavilhões Oeste e Leste.
“Além deles, o Ceará receberá o [Congresso] COCAL, evento internacional que reunirá formadores de opinião de mais de 32 países, entre os dias 1º e 3 de julho, captado pela Abeoc e pelo Visite Ceará”, afirma.
Segundo Stella, as empresas voltaram a investir no setor, impulsionadas por uma mudança no perfil do público. “Hoje, as pessoas querem experiências memoráveis, não apenas eventos comuns”, explica.
Sustentabilidade, inovação, acessibilidade e impacto social deixaram de ser diferenciais e passaram a ser exigências, assim como o uso de estruturas reutilizáveis e a gestão de resíduos.
“Isso tudo aponta para um novo momento do setor, mais maduro e mais exigente”, conclui.