O presidente boliviano Evo Morales renunciou ontem ao cargo após perder o apoio das Forças Armadas e da Polícia, depois de três semanas protestos contra uma polêmica reeleição.
"Renuncio a meu cargo de presidente para que (Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho não continuem perseguindo dirigentes sociais", disse Morales em discurso televisionado, referindo-se aos líderes opositores que convocaram protestos contra ele, desde o dia seguinte às eleições de 20 de outubro.
O agora ex-presidente disse que se confirmou "o golpe de Estado que temos denunciado desde 21 de outubro". Morales afirmou que era sua "obrigação" como primeiro presidente indígena do país buscar a pacificação, após semanas de protestos.
PLÍNIO BORTOLOTTI: O "pecado original" de Evo Morales
Evo enfrentou ontem uma avalanche de renúncias de altos funcionários, em alguns casos depois de terem tido suas casas incendiadas, e pela pressão decisiva dos militares e da Polícia, que pediram sua renúncia.
Os resultados de uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA), que detectou "sérias irregularidades" nas eleições, consideradas fraudulentas pela oposição, desencadearam os acontecimentos que resultaram na renúncia.
Pela manhã, a OEA emitiu em comunicado: "O primeiro turno das eleições realizado em 20 de outubro deve ser anulado e o processo eleitoral deve começar novamente (...) assim que houver novas condições que deem novas garantias para sua realização, entre elas uma nova composição do órgão eleitoral".
"A comissão da auditoria da OEA tomou uma decisão política" ao exigir novas eleições na Bolívia, declarou Evo pela televisão pouco depois de anunciar a renúncia. "Alguns técnicos da OEA estão a serviço de grupos de poder", acrescentou.
Morales, no poder desde 2006, conquistou o quarto mandato até 2025 em primeiro turno ao obter 47,08% dos votos e superar por mais de dez pontos percentuais o centrista Mesa (36,51%), mas a oposição denunciou uma fraude e foi às ruas exigir sua renúncia.
Os protestos começaram na região oriental de Santa Cruz, a mais rica da Bolívia, e foram se estendendo a outras cidades, incluindo La Paz.
Horas após a renúncia, o México ofereceu asilo político a Evo, depois que a embaixada mexicana na Bolívia deu abrigo a funcionários e parlamentares alinhados ao governo de Morales, informou o chanceler mexicano Marcelo Ebrard.
"O México, conforme sua tradição de asilo e não intervenção, recebeu 20 personalidades do Executivo e do legislativo da Bolívia na residência oficial em La Paz, de modo que ofereceríamos asilo também a Evo Morales", escreveu Ebrard via Twitter.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, elogiou Morales no Twitter por ter renunciado para apaziguar a conturbada situação na Bolívia, abalada por manifestações opositoras, um motim de policiais e o pedido de militares para que renunciasse. (AFP)
OEA
O governo da Colômbia pediu ontem uma "reunião urgente" do conselho permanente da OEA pela renúncia de Evo Morales. para que se assegure que "os cidadãos bolivianos possam se expressar livremente nas urnas e eleger um novo governo com plenas garantias para sua participação".