O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve suas contas banidas das plataformas Facebook e Instagram até, pelo menos, a posse do presidente eleito Joe Biden, em 20 de janeiro deste ano.
O banimento, iniciado ainda nessa quarta-feira, 6, pode ser prolongado indefinidamente, segundo informou o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, alegando que "os riscos de permitir que o presidente use a plataforma são simplesmente grandes demais".
"Nos últimos anos, permitimos que o presidente Trump usasse nossa plataforma de forma consistente com as nossas regras, às vezes removendo conteúdos e marcando seus posts quando eles violavam nossas políticas. Fizemos isso porque acreditamos que o público tem o direito ao espectro mais amplo de discurso político possível, mesmo quando esse discurso é controverso", complementou Zuckerberg em nota.
A ação dos radicais de extrema-direita culminou em caos, violência e morte de pelo menos quatro pessoas, dentre elas uma mulher baleada nas dependências do Legislativo. Além disso, congressistas tiveram que ser evacuados emergencialmente por conta dos radicais pró-Trump.
O presidente eleito dos EUA, o democrata Joe Biden, condenou os atos contra as instituições americanas e disse que "aqueles que estiveram no Capitólio (os radicais pró-Trump) não eram manifestantes, mas terroristas domésticos”.
Esta foi a primeira vez que o Capitólio foi violado desde que os britânicos atacaram e queimaram o prédio em 1814, durante a Guerra de 1812.
Ainda na quinta-feira, 7, o Congresso confirmou a vitória de Biden em sessão que adentrou na madrugada. Pela manhã, Trump declarou, em publicação no perfil do porta-voz da Casa Branca, Dan Scavino, que "haverá uma transição ordenada no dia 20 de janeiro”, mas manteve posição de contestar o resultado da eleição.
Evandro Carvalho, professor de Direito Internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que os fatos ocorridos esta semana no Capitólio dos EUA denotam a fragilidade das democracias não apenas nos EUA, mas no mundo.
“Hoje elas (as democracias) estão criando sociedades divididas onde os processos tecnológicos estão sendo usados para erodir o processo democrático, tendo como referência a possibilidade de ignorar os fatos e transformar a realidade num discurso fictício que pode ser vendido como verdade”.
No Twitter, rede social na qual Trump possui o maior número de seguidores (88,7 milhões), sua conta foi suspensa por 12 horas ou até a exclusão de publicações consideradas “incitação à violência” pela plataforma.
O Twitter chegou a apagar pelo menos três postagens de Trump e informou que ele poderá ser banido caso volte a postar conteúdos similares.
Para Cleyton Monte, cientista político vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC), os acontecimentos mais recentes são o ápice de uma “onda populista da direita e da extrema direita” que inundou vários locais do mundo nos últimos anos.
“Esses grupos nacionalistas e ultranacionalistas chegaram ao poder com discursos antidemocráticos, antipolítica e antissistema. O que vimos é uma marca desses segmentos sem apreço pelos princípios da democracia, como a eleição, a crítica e a oposição”, explica.
Segundo Monte, movimentos como trumpismo e o bolsonarismo aproveitam-se de de “constantes crises, políticas, econômicas e sociais” pelo mundo. “Nesses cenários há espaço para posições mais radicais e não é algo novo ou de agora. Nos anos 1930, o fascismo e o nazismo surgiram em terrenos de insatisfação e crise”, encerra.