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Mário Miranda de Albuquerque: Seu Raimundo e o 'Processus' Cultural
Opinião

Mário Miranda de Albuquerque: Seu Raimundo e o 'Processus' Cultural

O ato da ressurreição foi uma autêntica festa popular, das mais vigorosas, com feliz participação do povão e de personalidades da cultura e da política na cidade, realizado no já consagrado beco do Seu Raimundo
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Mário Miranda (Foto: Arquivo pessoal )
Foto: Arquivo pessoal Mário Miranda

A universidade, pesquisadores e estudiosos da cultura são chamados a acompanhar, compreender e decifrar o fenômeno sociocultural que está se desenrolando em tempo real e na arena pública em nossa cidade. Trata-se do episódio que envolve a figura do Seu Raimundo do Queijo. É muito provável que se esteja presenciando a construção de um pequeno mito. E, na linguagem da academia, o fato certamente irá se transformar em um "objeto de estudo".

É fenômeno originado do mesmo cadinho de onde brotaram um Bode Ioiô, em Fortaleza, e um Bacalhau do Batata, em Olinda, e tantos outros casos no Nordeste afora, pra falar do que lembramos de momento.

Trata-se de fenômenos que extrapolam os próprios personagens, quiçá até os assustando e trazendo-lhes incômodos na vida pessoal, como relatou Seu Raimundo, tal a dimensão que adquirem à sua própria revelia.

A partir do equívoco involuntário do vereador, que já se desculpou, Seu Raimundo galgou um patamar público na casa do "sem jeito". Não tem volta.

É aquela situação em que o sujeito deixa de pertencer a si próprio, não determina mais sua autoprodução. Apropriado pelo público, alça outros voos e significados, sob o domínio do imaginário. No nosso caso, já caiu no maquinário antropofágico da conhecida "molecagem cearense", que não perdeu tempo e já convocou ato por sua "ressurreição", equivalente à canonização, correndo o risco de passar a constar do calendário anual. Foi entronizado no Panteão de personagens da cultura popular (ao lado de Quintino Cunha e outros).

O ato da ressurreição foi uma autêntica festa popular, das mais vigorosas, com feliz participação do povão e de personalidades da cultura e da política na cidade, realizado no já consagrado beco do Seu Raimundo, que dá vistas para a solene Catedral, palco também apropriado para cerimônias relativas ao divino.

Em tempo recorde, virou figura de dois bonitos cordéis produzidos na capital, além de muitas outras manifestações em poesia e prosa que estão surgindo em Fortaleza e no vasto interior alencarino. São os primeiros sinais da elaboração de uma pequena lenda do imaginário popular.

Pra virar boneco e bloco é um passo (de frevo, forró e samba+).

(Colaborou com o texto Francisco Eugênio Machado Arcanjo)

 

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