João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Reflexões sobre as aproximações entre as linguagens do cinema e do teatro a partir do contexto de espetáculos virtuais
As linguagens teatral e audiovisual são ligadas por inúmeros pontos de contato, ao mesmo tempo em que guardam particularidades cruciais entre si. No entanto, são muitos os cruzamentos possíveis e registrados entre ambas no decorrer da história das artes. A mobilidade das fronteiras que separam (separam?) uma da outra é um ponto crucial para passar a refletir sobre as iniciativas teatrais deste período de isolamento que vêm utilizando-se do enquadramento das telas.
Como adaptar uma obra pré-existente em outra lógica e linguagem para um meio digital? E o que é uma criação que pretende-se virtual e teatral desde a gênese? Casas viram palco e também platéia, o contato deixa de ser imediato para ser mediado. Que tipo de possibilidades a experiência cênica ganha com o advento da tecnologia, sendo ele, agora, não mais uma ferramenta que agregue, mas a única possível? Como deslocar as lógicas de consumo mediadas por telas e as formas de ser espectador que elas trazem consigo?
O celular ou notebook passa a ser um dispositivo de acesso mútuo entre performers e público. A frontalidade inerente a um contato via tela esgota-se em si mesma. A tentativa de fazer com que experiências cênicas virtuais saiam de uma lógica (en)quadrada e surpreendam o olhar com sugestões outras encontra-se em diferentes propostas e a partir de diferentes métodos.
As videochamadas, naturalmente, vem sendo frequentemente mais utilizadas nesse período. São, também, uma forma de encaminhar narrativas - afinal, são o modo do encontro possível no agora. Há, no entanto, tentativas de desacostumar o olhar.
Os típicos filtros de Instagram somam à dramaturgia, o jogo de campo e extracampo sugere mais do que o que está enquadrado, a tela dividida cria novas unidades, disfarçam-se os dispositivos para depois serem revelados, apresenta-se uma experiência próxima ao real para depois assumir-se artificial.
O que é quando o experimento cênico "Expedição Planta Baixa" nos coloca no ponto de vista da máquina de lavar? Ou quando Caetano se multiplica em infinitos em "Metrópole On-line"? E quando Rita Azevedo Gomes borra fronteiras em cena a partir de jogos de iluminação no filme "A Vingança de Uma Mulher"? O que é "Vaga Carne"? Cabe o teatro dentro do cinema? E o cinema dentro do teatro? Extrapolam-se? Coexistem? Isso é cinema ou é teatro?
Texto construído a partir de impressões advindas de diálogos (reais e inventados) com Francis Wilker, Renato Abê, Jander Alcântara, Loreta Dialla, Gomes Ávilla, Chantal Akerman, Mauro Reis Albuquerque, Gyl Giffony, Silvero Pereira, Grace Passô, Ricardo Alves Jr., Noá Bonoba e Rita Azevedo Gomes.
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