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Aqui chegamos, e agora?
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Aqui chegamos, e agora?

Tipo Opinião
À esquerda, a cineasta Chloé Zhao, que é uma das favoritas ao Oscar com o drama
Foto: Fox Searchlight Pictures / divulgação À esquerda, a cineasta Chloé Zhao, que é uma das favoritas ao Oscar com o drama "Nomadland". No meio, o diretor de fotografia Joshua Richardson e, à direita, a atriz Frances McDormand

O texto de estreia desta coluna nas edições de domingo do V&A, publicado em 8 de março de 2020, olhava para frente. "E agora, aonde vamos?" era o título - e, vendo de hoje, também uma pergunta simbólica. Pouco sabíamos o que viria, decerto. O questionamento, porém, se destinava a refletir sobre os movimentos de discussão e cobrança por mais diversidades e espaços de segurança na indústria do cinema. À época, o prognóstico apontava que 2020 seria ano de "virada" para a presença de mulheres na direção.

Essa virada se dava, de forma inédita, em espaços marcados por hegemonias masculinas. O primeiro deles era o de blockbusters: o site estadunidense IndieWire listou, no início do ano, 22 aguardados lançamentos de grandes estúdios dirigidos por mulheres. Os mais esperados eram "Mulan", de Niki Caro, e "Mulher Maravilha 1984", de Patty Jenkins.

As estreias dos dois - e de centenas de outros filmes pelo mundo - foram canceladas e somente meses depois eles chegaram ao público; "Mulan" chegou à plataforma Disney + no Brasil no começo do mês, enquanto a sequência de "Mulher Maravilha" estreou na última quinta no País.

Outro espaço conquistado por diretoras destacado no texto era o dos festivais de cinema. Em fevereiro, o drama "Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre", de Eliza Hittman, havia sido premiado como o segundo melhor filme do Festival de Berlim, que ficou marcado por outros elogiados filmes dirigidos por mulheres. A espera pelo Festival de Cannes, em maio, foi frustrada pelo inédito cancelamento do evento.

O retorno dos grandes eventos foi marcado pela realização do Festival de Veneza, em setembro. A participação de diretoras foi de peso e o longa "Nomadland", de Chloé Zhao, saiu consagrado com o Leão de Ouro.

As vitórias dos filmes de Eliza e Chloé colocaram ambos os elogiados longas nas apostas prévias da temporada de premiações. Se no começo do ano o filme da primeira era considerado um possível candidato ao Oscar, o adiamento do principal prêmio da indústria cinematográfica dos EUA, que só será realizada em abril de 2021, arrefeceu as discussões em torno dele.

O favoritismo fica, hoje, com "Nomadland". Junto dele, outro filme que circulou recentemente e que segue bem falado é "One Night in Miami", estreia da atriz Regina King em direção de longas. Não só as obras estão cotadas para prêmios principais, mas as próprias diretoras também.

A lista de previsões da revista Variety, tradicional publicação de entretenimento dos EUA, inclui as duas entre as cinco apostas de indicações para Melhor Direção. A dupla indicação de Chloé, nascida na China, e Regina, mulher negra, seria histórica não só por ser a primeira vez que duas diretoras apareceriam na lista. Veremos a história sendo feita?

Além de ainda ser possível que o longa de Eliza Hittman siga com alguma força na temporada de prêmios - caso encontre apoio e fôlego para seguir comentado -, filmes como "First Cow", de Kelly Reichardt, e "A Assistente", de Kitty Green, também podem ser considerados competitivos. Essas possibilidades inúmeras, enfim, respondem de certa forma ao questionamento posto aqui há mais de nove meses. Ao mesmo tempo, abre-se espaço para replicá-lo. Chegamos aqui; mas e agora, aonde vamos?

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