Um dos presos sob suspeita de ter hackeado telefones celulares de autoridades, Walter Delgatti Neto, conhecido como Vermelho, disse em depoimento à Polícia Federal que fez contato com o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, por meio da ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS).
Em nota, Manuela disse que, em maio, seu aplicativo Telegram foi invadido e confirmou que repassou ao "invasor" do seu celular o contato de Greenwald. Delgatti Neto prestou depoimento à PF na terça-feira passada. O conteúdo foi revelado ontem pela GloboNews.
O The Intercept Brasil tem divulgado desde 9 de junho mensagens trocadas entre o ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-juiz, Sergio Moro, com procuradores da Operação Lava Jato. Na última quinta-feira, 25, foi revelado que Delgatti Neto disse em depoimento ter dado a Greenwald acesso às informações capturadas do Telegram.
No depoimento à PF, Delgatti Neto detalhou o caminho para chegar aos dados das autoridades. Ele declarou que não editou o conteúdo das contas de Telegram a que teve acesso e que compartilhou as informações ao The Intercept de forma não remunerada. Ele disse que resolveu procurar Greenwald "por saber de sua atuação nas reportagens relacionadas ao vazamento de informações do governo dos EUA, conhecido como caso Snowden".
Delgatti afirmou que conseguiu o telefone do jornalista por meio de Manuela D' Ávila — que foi candidata a vice de Fernando Haddad (PT) na disputa presidencial do ano passado. Ele disse também que obteve o telefone da ex-deputada ao acessar os contatos do Telegram da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em seu depoimento, Delgatti Neto declarou que ligou para Manuela no Dia das Mães e relatou que "possuía o acervo de conversas do MPF contendo irregularidades". O hacker disse à PF que a ex-deputada não estava acreditando e ele, então, decidiu enviar a ela um áudio entre os procuradores Orlando Martello Júnior e Januário Paludo, da força-tarefa da Lava Jato.
À PF, o hacker disse que dez minutos após enviar o áudio a Manuela, recebeu mensagem de Greenwald no Telegram. Segundo ele, o jornalista disse ter interesse no material. Delgatti Neto narrou que repassou a Greenwald os conteúdos das contas de Telegram que havia acessado. Ele disse que o acervo era muito grande e, por isso, resolveu criar uma conta no Dropbox para enviar o material e repassou a senha para Glenn.
De acordo com o hacker, ele nunca passou seus dados pessoais para Glenn e não o conhece. Afirmou não ter recebido qualquer valor ou vantagem em contrapartida pelo material disponibilizado.
À PF, ele disse que a partir da agenda do Telegram do procurador Deltan Dallagnol teve acesso aos números telefônicos de Moro, e de outros juízes e desembargadores federais. Delgatti Neto afirmou que não acessou o conteúdo do Telegram do ministro da Justiça e dos magistrados.
Ontem, Greenwald relatou ter entregue à revista Veja suposto diálogo que manteve com a fonte que repassou as mensagens vazadas a ele. O jornalista afirmou que um dos primeiros contatos com a fonte aconteceu no início de maio deste ano e que foi apresentado a ela por um intermediário. Todos os contatos, afirmou, foram virtuais. (Agência Estado)
Como ele invadiu
No seu relato à PF, Delgatti Neto disse que descobriu em março de 2019 a maneira com a qual chegaria aos dados de autoridades. Ele afirmou ter invadido o aplicativo Telegram de um promotor de Araraquara que o denunciou por tráfico, envolvendo apreensão de remédios em sua casa.
A partir da conta do promotor, acessou um grupo de procuradores da República. Em seguida, disse ter acessado mensagens do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, e, em seguida, de três procuradores da Lava Jato, entre eles Deltan Dallagnol.
Spoofing
Ontem, o juiz Vallisney de Souza Oliveira prorrogou por mais cinco dias a prisão temporária dos quatro suspeitos de hackear os telefones celulares de autoridades.