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Bolsonaro ataca pai de Michelle Bachelet, morto pela ditadura chilena
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Bolsonaro ataca pai de Michelle Bachelet, morto pela ditadura chilena

Presidente disparou contra comissária de Direitos Humanos da ONU após ela o criticar por política ambiental e aumento de mortes causadas por policiais no Brasil
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 Michelle Bachelet (Foto: FABRICE COFFRINI / AFP)
Foto: FABRICE COFFRINI / AFP Michelle Bachelet

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que a Comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, está "defendendo direitos humanos de vagabundos". Ele também atacou o pai da ex-presidente do Chile, morto durante a ditadura militar chilena em decorrência de torturas sofridas no cárcere.

Alberto Bachelet foi um brigadeiro-general da Força Aérea do Chile que se opôs ao golpe de 1973 do general Augusto Pinochet. Ele foi preso e submetido a tortura por vários meses até sua morte, em 1974.

"Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 73, entre eles o seu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Acho que não preciso falar mais nada para ela. Parece que quando tem gente que não tem o que fazer, como a senhora Michelle Bachelet, vai lá para cadeira de direitos humanos da ONU. Passar bem, dona Michelle", disse o presidente a jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, na manhã de ontem.

Bachelet criticou o ímpeto nacionalista de Bolsonaro resultante da crise dos incêndios na Amazônia, alertando que há uma "redução no espaço democrático" no Brasil. "Nos últimos meses, observamos (no Brasil) uma redução do espaço cívico e democrático, caracterizado por ataques contra defensores dos direitos humanos, restrições impostas ao trabalho da sociedade civil", disse Bachelet em entrevista coletiva em Genebra.

A ex-presidente do Chile (2006-2010 e 2014-2018) também evocou um aumento do número de pessoas mortas pela polícia no Brasil, ressaltando que esta violência afeta desproporcionalmente os negros e as pessoas que vivem em favelas. Ela lamentou o "discurso público que legitima as execuções sumárias" e a persistência da impunidade em vigor desde a chegada de Bolsonaro ao poder.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, rejeitou ontem a alusão feita por Jair Bolsonaro sobre Alberto Bachelet. "Não compartilho a alusão feita pelo presidente Bolsonaro a uma ex-presidente do Chile e, especialmente, num assunto tão doloroso quanto a morte de seu pai", disse Piñera em comunicado público no Palácio do Governo.

As declarações de Bolsonaro provocaram mal-estar no governo chileno, especialmente por coincidirem com a chegada do chanceler Teodoro Ribera ao Brasil. "É de público conhecimento meu compromisso permanente com a democracia, a liberdade e o respeito aos direitos humanos em todo tempo, lugar e circunstâncias", acrescentou o presidente chileno. "As distintas visões sobre os governos que tivemos nos anos 70 e 80 devem ser feitas com respeito."

A diplomacia chilena discutia a divulgação de um comunicado para rebater as declarações de Bolsonaro. Diante do amplo rechaço no Chile de setores de esquerda e direita às declarações do presidente brasileiro, Piñera optou por um pronunciamento.

Bolsonaro voltou a criticar o presidente francês, Emmanuel Macron, e fez comparações com a postura da comissária da ONU. Nas últimas semanas, Bolsonaro e Macron antagonizaram na questão ambiental envolvendo a região amazônica.

Nas redes sociais, Bolsonaro voltou a atacar a comissária da ONU. Pelo Twitter, ele reforçou que Bachelet está "seguindo a linha" do presidente Macron "em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira". "(Ela) investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares", publicou.

Em julho, Bolsonaro atacou o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, morto pela ditadura militar brasileira. 

Ex-exilado no Chile, Serra repudia declaração de Bolsonaro sobre Bachelet

O ex-chanceler José Serra - que foi para o exílio no Chile durante a ditadura militar brasileira e chegou a ser preso lá depois que Augusto Pinochet tomou o poder - repudiou ontem as afirmações de Bolsonaro em que ele ataca o pai da ex-presidente chilena Michelle Bachelet. "O presidente deu uma declaração que agride os direitos humanos e o povo chileno, e merece todo nosso repúdio", escreveu, em nota.

"Elogiou o covarde assassinato do general Bachelet, pai da ex-presidente do Chile Michele Bachelet, na época da ditadura militar chefiada pelo abominável general Augusto Pinochet", concluiu.

Já o atual chanceler, Ernesto Araújo, se manifestou no Twitter sobre as recentes declarações de Michelle Bachelet, acusando-a de estar "muito mal informada". De acordo com ele, a avaliação de Bachelet de que "o espaço democrático no Brasil está encolhendo muito" está equivocada pois "qualquer observador atento sabe que o Brasil vive uma democracia plena".

Araújo disse ainda que o que está encolhendo é o espaço da esquerda. "Talvez seja isso o que no fundo a preocupa", comentou o chanceler, que afirmou, ainda, que o espaço da esquerda está encolhendo porque cada vez menos brasileiros acreditam numa ideologia "que só nos deu corrupção e pobreza".

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