Durante ato de posse, o discurso do juiz Luciano Lima, agora desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), foi de crítica a magistrados que, ao se desviarem da imparcialidade demandada pelo ofício, causam danos à classe. Lima assumiu cadeira deixada pelo desembargador Francisco Martônio Pontes de Vasconcelos no colegiado de 43 membros. A solenidade foi assistida pelo governador Camilo Santana (PT), pelo prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), e pelo presidente do Legislativo estadual, José Sarto (PDT).

"Quando juízes se deixam conduzir pelo clamor das ruas, se permitem seduzir pelo canto da sereia, pela mídia, criando efêmero papel de herói, com vantagem nenhuma para a sociedade, tendem a se colocar num triste cenário", afirmou Lima, em referência à fala de Marcelo Semer, ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia.

O desembargador não mencionou o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), sobre quem série reportagens do The Intercept Brasil mirou ao revelar diálogos do então juiz federal com procuradores da operação Lava Jato. "Não se pode aceitar existência de relações promíscuas entre magistrados e as partes", ele pontuou.

A fala de Lima também teve tom progressista. O desembargador leu trecho da letra de "O Tempo Não Para", de Cazuza (1958-1990), para qualificar os tempos atuais como "estranhos". O magistrado disse que, hoje, se verifica movimento visando a desqualificação do debate público, o desrespeito às minorias, o desencorajamento do pensamento crítico, além da censura. "Para controlar manifestações artísticas, num retrocesso inadmissível."

Ao O POVO, antes do início da solenidade de posse, ele afirmou que ocupar assento no TJCE é resultado de trabalho e representa renovação de compromisso com a Justiça. Sobre objetivo do Judiciário estadual, Lima resumiu-se a dizer que o desafio que vai enfrentar "é julgar os processos". Indagado sobre decisão da Suprema Corte, que entendeu que a aplicação da pena só pode ocorrer após o trânsito em julgado, ele se evadiu: "hoje só quero festa, só quero julgar processos."

Antes de interromper entrevista para receber o governador, o desembargador Washington Araújo, presidente da Corte estadual, disse que o Tribunal está recebendo um grande valor. "É professor, tem mestrado, doutorado, como ele é um grande magistrado."

Trajetória

Francisco Luciano Lima Rodrigues é natural de Fortaleza e nasceu em 23 de março de 1964. Ele atuava como titular da 8ª Vara da Fazenda Pública de Fortaleza e já foi juiz convocado para julgamentos das Câmaras do Tribunal e exerceu o cargo de Juiz Auxiliar da Presidência do TJCE.