Uma das lideranças do motim de policiais militares do Ceará no último mês, o ex-deputado federal Cabo Sabino incitou dirigentes de associações de agentes de segurança pública a promoverem a parada. O POVO teve acesso à série de áudios e vídeos gravados por Sabino. Neles, o ex-parlamentar fala, dentre outras coisas, em possibilidade de "greve branca", caso o movimento se encerre sem ter as pautas atendidas.
Em um dos áudios, Sabino declara que "greve é para quem tem coragem" e completa: "Não importa se o Ministério Público vai fechar (as associações). Associação foi aberta por quem? Pelos policiais. Fecha uma, abrem dez. Se o cara estiver com medo de comandar, não se candidate. Renuncia e deixa para quem tem coragem".
De acordo com Sabino, os áudios são de 15 dias antes e não têm relação com o movimento dos policiais. "No momento, estão querendo colocar gasolina onde deveriam colocar água. Acho que o mais importante agora é fazer avaliações do que aconteceu e seguir com as pautas", afirmou o ex-deputado a O POVO.
Em um dos vídeos, Sabino diz que se a paralisação encerrar sem as pautas atendidas "o movimento termina, mas a greve não acaba". A liderança dos PMs amotinados, destaca que o sentimento, em tal cenário, seria de revolta. "Sabe o que vai acontecer? Os PMs vão trabalhar na rua e não vão atender à sociedade. Se for chamado para uma ocorrência, ao invés de ir direto ele vai rodar quatro ou cinco quarteirões a mais para chegar", disse no vídeo.
Sabino alega que naquele momento o governo insistia na narrativa de que o movimento era mais uma questão política do que de valorização da categoria. Ao O POVO, ele declarou que "o movimento acabou" e que aquilo que precisa ser feito agora é honrar o acordo firmado com transparência e lucidez.
Sabino apresentou-se à Justiça na última quinta-feira, 5, e teve o mandado de prisão preventiva revogado pelo juiz Roberto Bulcão. Ele cumpre apenas medida cautelar que o impede de "frequentar unidade da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros durante o período de seis meses, exceto em caso de intimação".
O governador Camilo Santana (PT) criticou a decisão da Justiça. Nas redes sociais, Camilo disse também na quinta-feira que estava indignado com o relaxamento da prisão de um "foragido que liderou um motim que causou pavor à população cearense e provocou dezenas de mortes no Estado".
O governador considera "inaceitável que alguém promova todo tipo de desordem, cometa crimes, desafie a própria Justiça, Ministério Público, Governo e sociedade, e seja mandado para casa, como se nada tivesse ocorrido. Esse acusado terá que responder pelos seus gravíssimos atos, pelo bem do Estado de Direito", escreveu.
Acusações
Antes de ter o pedido de prisão revogado, Sabino era acusado de autoria, em tese, de crimes de motim e/ou revolta, conspiração e ainda o incitamento e aliciamento, tipificados nos artigos 149 a 155 do Código Penal Militar"
Fim do motim
No último domingo, 1º, logo após o acordo que pôs fim à suspensão dos trabalhos dos PMS, que já durava 13 dias, Sabino disse à assembleia de militares: "Vocês acabaram de assinar a minha demissão"