O sábado passado foi de longas reuniões para o governador Camilo Santana (PT). Ao menos três antes do anúncio formal de que prorrogaria o decreto que determina a quarentena no Estado e suspende as atividades do comércio.
Entre os encontros, Camilo sentou-se à mesa com parte da equipe da Secretaria da Saúde (Sesa), que recomendou a continuidade da medida de isolamento como principal ação contra o novo coronavírus.
Em seguida, fez nova rodada no Palácio da Abolição, desta vez com grupo mais restrito de secretários - a cúpula do Governo. Ali nasceu a proposta de flexibilização do decreto, permitindo a volta ao trabalho de alguns setores da indústria e comércio, depois revogado pelo próprio governador.
A intenção, segundo fonte do Palácio da Abolição, era ampliar gradualmente o raio de serviços considerados essenciais, salvaguardando a produção de itens necessários à manutenção da população e amenizando as perdas financeiras. Na prática, no entanto, a brecha se alargou além do pretendido.
No fim da tarde daquele mesmo sábado, o petista informou pelas redes sociais que estenderia a medida de segurança até 20 de abril, quando o Ceará completará um mês inteiro sob quarentena. Camilo reiterou também a importância da privação de contato e a adoção de soluções lastreadas em ciência.
Vinte e quatro horas e mais algumas reuniões depois, o decreto foi publicado. Textualmente, o documento liberava para funcionamento feiras livres de gêneros alimentícios e segmentos da cadeia produtiva, como a produção e comercialização de flores e produtos hortifrutigranjeiros, materiais de construção e produtos naturais.
Dois fatores pesaram para que o governador desfizesse o que havia feito momentos antes. Primeiro, a reação política, encabeçada sobretudo pelo senador Tasso Jereissati (PSDB), que se manifestou em termos duros contra o relaxamento da quarentena e enfatizou que estava em desacordo com o mandatário (o tucano depois elogiaria o recuo de Camilo).
Depois, a resistência do titular da Saúde, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Cabeto, cuja posição tem sido a de defesa rigorosa dos protocolos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Após a publicação no domingo, Camilo foi às redes para negar que o decreto recém-editado autorizava a retomada de atividades comerciais. "Não é verdadeira a informação de liberação do comércio. Continua fechado pelos próximos 15 dias", escreveu no Twitter.
Mas logo foi convencido por membros da Sesa, Cabeto à frente, de que não era o momento adequado para retroceder na prevenção à doença. Ainda na madrugada de ontem, o governador manifestou-se novamente: "Se houve um erro nessa proposta de flexibilização, que seja imediatamente corrigido".
Nessa segunda, Camilo voltou a comentar o tema, agora sem falar em erro. "Ontem (domingo) foi publicado decreto com algumas flexibilizações, a partir de entendimento de que algumas atividades eram importantes", disse em transmissão ao vivo.
E concluiu: "Revoguei o decreto porque, desde o início, tenho tomado todas as minhas decisões a partir de orientações dos especialistas e da OMS".