A Segunda Guerra Mundial é repleta de começos e fins. Para grande parte do mundo, o conflito teve início em 1939, com a invasão da Polônia pela Alemanha nazista. Já os russos consideram o ano de 1941 como o do início da "grande guerra patriótica" com a invasão alemã à União Soviética. Entre os alemães há os que defendem que a Segunda Guerra é uma continuação da Primeira, devido ao acúmulo de problemas sociais que geraram humilhação e revanchismo após 1918. Fato é que um dos finais mais importantes registrados no período ocorreu em 8 de maio de 1945 na Europa - há exatos 75 anos -, após a assinatura de documentos de rendição por parte da Alemanha.
O caminho até o "Dia da Vitória", como ficou conhecida a data, custou mais de 50 milhões de vidas humanas ao longo de quase seis anos (estima-se que entre 60 e 70 milhões morreram até o fim da guerra em setembro de 1945), mostrando ao mundo que processos civilizadores e colapsantes ocorrem simultaneamente na sociedade, inclusive nas mais sofisticadas. A Alemanha, pressionada pela desorganização social e problemas gerados a partir da 1ª Guerra, sucumbiu a um sistema ideológico racista e discriminatório, baseado na concentração de poder e no totalitarismo.
Em abril de 1945, o Exército Vermelho começou a ofensiva final contra Berlim, deixando os alemães acuados. As forças soviéticas contavam com 2,5 milhões de soldados para enfrentar menos de 100 mil alemães recrutados às pressas. No fim, percebeu-se que o drama e a violência do embate não valiam tantos danos. Apesar disso, EUA e URSS já ensaiavam a dualidade da Guerra Fria, sinalizando que apesar da preferência pela paz, nações não abririam mão da tentativa de exercer soberania umas sobre as outras.
Para os países que formaram a coalizão antinazista, o Dia da Vitória é motivo de celebração. Atualmente, para os alemães também. Mas nem sempre foi assim.
Quando invadiu a Polônia, desencadeando a barbárie, incluindo o extermínio de mais de seis milhões de judeus no episódio conhecido anos mais tarde como Holocausto, a Alemanha havia feito uma escolha que não mudaria da noite para o dia. De início, parte dos alemães entendeu o acontecimento muito mais como uma nova derrota militar, do que como uma "libertação".
O pesquisador Eleazar de Castro, autor de publicações sobre o período e estudioso do tema há 40 anos, destaca que quando uma ideia é comprada por alguém, a pessoa torna-se ferramenta de manutenção do poder do grupo dominante.
"Não podemos nos tornar reféns de sistemas ideológicos. Se o povo alemão tivesse se rebelado contra Hitler, no início, a guerra não teria acontecido. Não se deve acreditar em figuras únicas que se vendem como salvadores da pátria", afirma, explicando que a guerra, hoje, ocorre de maneiras diferentes, mais velozes e constantes.
"São guerras comerciais, econômicas e, às vezes, étnicas em alguns lugares. O mundo aprendeu que o conflito global armado não é interessante e que se houver uma 3ª guerra mundial, a humanidade se autodestruirá", finaliza.