Escolhida como pré-candidata do PT em Fortaleza nas eleições de 2020, a deputada federal Luizianne Lins disse ontem que "existe dificuldade objetiva na aliança com o PDT" na capital cearense.
"E não é por minha causa", continuou a parlamentar horas após a decisão que a lançou como representa da agremiação. "A causa não é o PT. Todas as vezes em que há tratativa nesse sentido, a gente é surpreendido ou golpeado com declarações estapafúrdias, com agressões, desde petista sendo chamado de babaca até o episódio o Ciro mandando petista pra PQP", criticou.
Para a ex-prefeita, ante as tensões com o grupo de Ciro Gomes (PDT), uma aliança, como deseja o governador do Estado Camilo Santana (PT), é inviável. "Nós vamos buscar uma frente das forças anti-bolsonaristas, vamos tentar dialogar, e o PT vai apresentar seu nome", declarou Luizianne. "Mas existe de fato muita queixa e dificuldade do PT nacional de todas as grosserias e ataques que o Ciro vem fazendo ao Lula, não perde a oportunidade de dar sempre um showzinho na imprensa."
O fator Ciro Gomes e as articulações para as eleições em Fortaleza
A petista foi indicada como postulante em processo interno na manhã desse domingo que reuniu os filiados à sigla. A agenda foi o ponto derradeiro do calendário do partido na definição de um candidato à sucessão do prefeito Roberto Cláudio (PDT).
Ao POVO em maio passado, Ciro Gomes defendeu a tese de uma frente de esquerda que incluísse o PT para enfrentar o bolsonarismo em Fortaleza, mas "o PT de Camilo", delimitou o pedetista, acentuando diferenças com o ex-presidente Lula.
Em entrevista ao programa "Roda Viva" semanas depois, Camilo subscreveu a avaliação cirista e pregou aliança ainda no primeiro turno entre PT e PDT, se possível - o governador chegou a exonerar dois secretários (Élcio Batista, do PSB, e Nelson Martins, do PT) em 4 de junho, como aceno à própria.
Questionada sobre como devem ser as conversas com o governador a partir de agora, a deputada federal afirmou: "O Camilo é do PT, vamos buscar conservar com ele, o Guilherme (Sampaio, vereador e presidente da executiva municipal) vai comigo conversar no sentido de chamar para poder somar nessa frente antifascista. Nós queremos todas as forças que quiserem se juntar contra Bolsonaro".
Sobre alianças com outras legendas para as eleições, Luizianne relatou que irá deflagrar um processo de discussões com siglas, uma a uma, na tentativa de formular a plataforma que será mostrada ao eleitor.
Luizianne foi ungida pré-candidata em reunião virtual do PT. Agora, seu nome segue para avaliação da executiva nacional, que deve endossá-la como concorrente no pleito, cujas datas de votação foram adiadas para 15 de novembro e 29 do mesmo mês, respectivamente primeiro e segundo turnos.
A petista já concorreu outras três vezes à Prefeitura: em 2004 e 2008, quando foi eleita e reeleita para o Paço, e em 2016, quando não chegou ao segundo turno, num ano de dificuldades do PT, desgastado pelas revelações da Operação Lava Jato.
Candidata a deputada federal em 2018, foi a terceira mais votada do Ceará, atrás apenas de Capitão Wagner (Pros) e Célio Studart (PV), ambos pré-candidatos à Prefeitura.
Em coletiva de imprensa na tarde de ontem, a primeira com o figurino de quem entrará novamente na briga pela Prefeitura, Luizianne criticou a rede de saúde da capital cearense. Segundo ela, "estamos discutindo a eleição de quem vai cuidar do povo pós-pandemia".
A deputada acrescentou: "Não adiantam fórmulas mirabolantes. A fome está voltando, o sarampo, a febre amarela. Estamos passando por momentos difíceis. Não é à toa que aceitei esse desafio da candidatura".
Líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT) explicou que, após a conclusão dessa etapa e formalização de uma pré-candidatura, a legenda abrirá rodada de diálogos com outras forças de esquerda. Essa conversa, cita Guimarães, inclui o governador.
Pré-candidato do PT em Caucaia, o deputado estadual Elmano de Freitas reiterou um pedido de "unidade" no Ceará. De acordo com ele, Luizianne é o melhor nome para disputar a Prefeitura, "constituindo um polo de esquerda na cidade contra o fascismo".
Fortaleza é uma das sete capitais que devem ter um candidato da PM nas eleições 2020
Geraldo Luciano não é mais pré-candidato
Élcio Batista e Nelson Martins deixam o governo Camilo
"Élcio poderia ser um ótimo vice do PT", diz pré-candidata
Já como pré-candidata do PT em Fortaleza, a deputada federal Luizianne Lins disse que o ex-secretário da Casa Civil de Camilo Santana, o sociólogo Élcio Batista, "poderia ser um ótimo vice do PT".
A declaração foi dada em coletiva de imprensa ontem, a primeira da petista depois da escolha do partido de apresentá-la como concorrente da legenda à sucessão do atual prefeito Roberto Cláudio (PDT).
O encontro, realizado no domingo de manhã, reuniu o ex-prefeito de São Paulo e ex-presidenciável Fernando Haddad e a deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, além de outras representações.
Luizianne recebeu a quase totalidade dos votos apresentados no encontro municipal da agremiação. Poucos se abstiveram. Foi o caso do deputado estadual Acrísio Sena, aliado do governador do Estado e contrário ao nome da ex-prefeita.
Afastado das funções na Casa Civil do Governo desde 4 de junho, quando foi exonerado juntamente com o petista Nelson Martins (ex-Relações Institucionais), Batista tem se mantido em silêncio quando o assunto é eleição. Cotado como nome do PSB para a disputa, é potencial candidato da chapa governista, seja como cabeça de chapa ou como vice. Além dele, estão no páreo os secretários municipais Samuel Dias (ex-Secretaria de Governo), Ferruccio Feitosa (ex-Regional II) e Alexandre Pereira, que ocupava a pasta do Turismo na gestão RC.
Procurado ontem à noite pela reportagem, Élcio Batista disse que não comentaria o assunto. (Henrique Araújo)
Leia mais na coluna Carlos Mazza, página 9
Decisão do PT "não abre diálogo com Camilo"
Deputado estadual, Acrísio Sena (PT) avalia que a escolha de Luizianne Lins como pré-candidata petista à Prefeitura de Fortaleza "não abre a possibilidade de um diálogo aberto e sincero com o governador Camilo Santana no sentido de envolvê-lo na busca de alternativas que possibilitem a unidade do campo democrático".
No processo de votação que chancelou a deputada federal e ex-prefeita como representante do partido na disputa em 2020, realizado ontem, Acrísio se absteve.
Em nota enviada ao O POVO sobre o posicionamento na reunião desse domingo, o parlamentar disse acreditar que "o grave momento político" da cidade "exige a busca da unidade necessária contra um inimigo comum que continua devastando conquistas sociais históricas e ameaçando o estado democrático de direito".
O petista se refere aos nomes ligados ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como os deputados federais Capitão Wagner (Pros) e Heitor Freire (PSL). Para ele, nessa tarefa de costura de um bloco "progressista", o governador tem função preponderante como aglutinador. "Somos a favor da candidatura própria do PT em Fortaleza", frisa o deputado, "mas sempre defendemos que Camilo deve ter papel importante na definição do projeto e do nome que melhor unifique esse campo".