Pré-candidata do PT ao Paço Municipal pela quarta vez, a deputada federal Luizianne Lins admitiu largar os planos de nova postulação se, em diálogo com o governador Camilo Santana (PT), os dois chegarem ao entendimento de que o ex-secretário Nelson Martins (PT) representará o partido na disputa. A condição colocada por ela, porém, dificulta a execução do plano: Martins teria de representar o partido na corrida dentro de uma lógica de oposição à gestão Roberto Cláudio (PDT).
Diferentemente de Camilo, Luizianne é opositora da legenda trabalhista no Ceará, comandada pelos irmãos Ciro e Cid Gomes. Camilo exonerou Nelson Martins em 4 de junho, data limite para secretários com pretensões se desincompatibilizarem. Com isso, o governador pretendeu criar condições para que um petista ligado a ele, que é aliado do PDT, colaborasse na construção das bases sobre as quais o agora distante acordo com brizolistas se firmaria.
"Se o Camilo conversar comigo e disser que o candidato é o Nelson, que o PT vai voltar a ser protagonista e que ele vai criar uma grande frente de esquerda eu abriria essa discussão com ele", considerou Luizianne em entrevista exclusiva à rádio O POVO/CBN, ontem. Para a ex-prefeita, a dificuldade de entendimento com o PDT é resultado do tom de Ciro em relação ao PT, em constante escalada. "Então, infelizmente, enquanto eu falo das frentes antibolsonaristas, nós estamos excluindo, especificamente, o PDT", ela disse.
O dirigente do PDT no Ceará, André Figueiredo, interpreta que a petista quis criar um "fato político" com a afirmação, dada a impossibilidade de celebração de um acordo nos termos colocados pela ex-gestora. "Eu sempre trabalhei na perspectiva de que o PT não vai estar conosco no primeiro turno", registrou.
Figueiredo afirma ser "desrespeitosa", inclusive, a construção de um arco político com o PDT fora da cabeça. "Era a mesma coisa se pudéssemos propor o retorno do Cid ao Governo do Estado (em 2018), com o Camilo sendo governador. O PT lançou a Luizianne em 2016, mesmo o RC sendo o candidato à reeleição", argumenta. Para este ano, RC não poderá se reeleger, já que conclui segundo mandato. Diferentemente da esfera estadual, em que petistas e pedetistas congregam no entorno de Camilo, o plano municipal tem sido marcado por disputas entre as agremiações.
O vereador Guilherme Sampaio (PT), opositor de RC e presidente da executiva do PT de Fortaleza, frisa que o nome de Luizianne foi aprovado internamente durante encontro realizado no último domingo. "Ao tomar essa deliberação, o PT Fortaleza reafirma a diretriz nacional de apresentação de candidatura própria nas principais cidades, especialmente em nossa Capital."
Ele pondera que Camilo será ouvido e terá "sua opinião considerada". Sobre o PDT, pontua que "nossa queixa não é ao partido, que nacionalmente tem resistido conosco, mas aos ataques gratuitos e injustificados de Ciro." (colaborou Carlos Holanda)