O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), foi afastado ontem do cargo por determinação do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Benedito Gonçalves. A decisão ordena o afastamento do governador por 180 dias e atendeu a pedido do Ministério Público Federal.
Witzel foi denunciado pelos crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro. A subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araujo, que assina a acusação formal, solicitou também a prisão do governador, o que não foi acolhido pelo ministro do STJ.
Além de Witzel, a primeira-dama Helena Witzel, o vice-governador Cláudio Castro (PSC) e o presidente na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano (PT), foram alvos da Operação Tris in Idem, um desdobramento da Operação Placebo, que investiga corrupção em contratos públicos do Executivo fluminense. O presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, foi preso temporariamente.
Eleito em 2018 tendo como um dos pilares de campanha o discurso contra a corrupção, Witzel - um ex-juiz federal que estreava na política - foi acusado de obter vantagens indevidas em compras fraudadas na área de saúde durante a pandemia do novo coronavírus. A Polícia Federal cumpriu mandados no Palácio Laranjeiras (residência oficial), no Palácio Guanabara (sede do governo) e na residência do vice-governador.
A acusação e o afastamento de Witzel do cargo reforça o contexto policial em que ficou envolvido o Executivo fluminense nos últimos anos. Cinco governadores eleitos foram presos em diferentes investigações - Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Moreira Franco, Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho. Condenado a mais de 200 anos de prisão, Cabral continua cumprindo pena em regime fechado. Os outros respondem em liberdade.
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Ao pedir o afastamento do governador, a investigação argumentou que o escritório da primeira-dama "foi utilizado para escamotear o pagamento de vantagens indevidas ao governador, por meio de contratos firmados com pelo menos quatro entidades da saúde ligadas a membros da organização criminosa" para o recebimento de R$ 554,2 mil entre agosto de 2019 e maio de 2020.
Segundo os procuradores, o escritório de Helena Witzel foi "contratado para operacionalizar a prática de corrupção e posterior lavagem de capitais, mediante a perene atuação de Lucas Tristão (ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio) e Gothardo Lopes (empresário e ex-prefeito de Volta Redonda)", que foram presos preventivamente.
A PGR aponta que a partir da eleição de Witzel para o governo do Rio "estruturou-se uma organização criminosa, dividida em três grupos que disputavam o poder mediante o pagamento de propinas a agentes públicos". Segundo os investigadores, tais grupos eram liderados por empresários e teriam loteado secretarias - entre elas a da Saúde. Para levantar os recursos, foi instituída uma "caixinha da propina".
Witzel negou atos ilícitos em pronunciamento no Palácio Laranjeiras e se disse "vítima de perseguição política". Ele acusou Lindôra Maria Araújo de perseguição e ligação com a família Bolsonaro, de quem se tornou desafeto.
O governo do Rio será ocupado no período do afastamento de Witzel pelo vice Cláudio Castro. O governador afastado é alvo de um processo de impeachment na Assembleia do Estado. Ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, revogou a decisão do presidente da Corte, Dias Toffoli, e manteve a comissão especial formada no Legislativo para a análise do caso.
Castro assumiu como governador em exercício e se reuniu ontem à tarde com a cúpula da segurança pública do Estado, no Palácio Guanabara. Ele não deu declarações à imprensa. (Agência Estado)
Operação
Segundo a PGR, Tris in Idem, nome da operação deflagrada ontem, é uma referência ao fato de Witzel ser o terceiro governador do Rio a utilizar esquemas ilícitos semelhantes para obter vantagens ilícitas