A nomeação do irmão do deputado federal Heitor Freire (PSL), o arquiteto Leonardo Freire, para a Secretaria Regional 10, na gestão de José Sarto (PDT), aprofundou o "racha" que já havia entre o parlamentar e o grupo do deputado estadual André Fernandes (Republicanos), ligado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Fortemente criticado por Freire na disputa à Prefeitura de Fortaleza em 2020, já que ambos disputavam a preferência do voto conservador, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) também se somou ao bolsonarista no sentido de sugerir incoerência política da parte do colega de Câmara dos Deputados.
"Bem que o candidato Heitor Freire disse na campanha: 'são tudo farinha do mesmo saco'. As pessoas perguntavam: por que ele está batendo no Capitão? Taí a resposta: uma boquinha para o irmão ter a Regional 10. Quem paga a conta, @andrefernm? O povo que acreditou na conversa fiada", escreveu Wagner no Twitter, mencionando André.
Ao O POVO por meio da assessoria, sem citar o pesselista, Wagner adicionou que "existiam algumas pessoas que se diziam de oposição quando, na verdade, a gente viu que só queria a primeira oportunidade para estar no logo do poder."
Fernandes também usou as redes para atacar o desafeto. "Adivinha quem vai ter uma boquinha na Regional 10 do prefeito Sarto, dos Ferreira Gomes? O irmão do deputado Federal Heitor Freire, o ex 'federal do Bolsonaro'. Desde o começo da legislatura falei que Heitor estava a serviço dos Ferreira Gomes... A verdade veio à tona."
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Em nota enviada ao O POVO, Freire comentou as críticas dos parlamentares: "Com relação aos ataques na internet, são orquestrados por um pequeno grupo que adora criar factoides em torno do meu nome, já estou acostumado com isso e prefiro dedicar meu tempo a trabalhar pelo Ceará", disse.
Nessa quinta-feira, 7, Freire alegou não possuir relação com a escolha do irmão para a Regional que compreende bairros como Aracapé, Mondubim e Parque São José. "Ele é presidente do PRTB (em Fortaleza) e foi indicado pelo partido", disse.
Freire ainda elogiou o perfil do irmão, mas enfatizou que continuará fazendo oposição à gestão Sarto e aos Ferreira Gomes no Estado. "Leonardo tem preparo técnico para assumir a função e eu desejo que faça um bom trabalho", concluiu.
O pesselista emergiu para a política a partir dos movimentos de rua alinhados a Jair Bolsonaro e às pautas ultraconservadoras, tais como a liberação do armamento para a população e a defesa da tese de que havia em marcha no País um plano de dominação comunista a ser combatido.
Assim, conseguiu um assento na Câmara dos Deputados na esteira da onda bolsonarista. E perdeu o apoio do presidente no contexto da troca de liderança do PSL na Câmara, que colocou Bolsonaro ao lado do filho, Eduardo, e uma ala do PSL no apoio a Delegado Waldir, com a qual Freire ficou.
Àquele período, inclusive, o presidente acusou o parlamentar de vazar áudio no qual os dois discutiam o tema e, durante a campanha de 2020, o chamou de "cara de pau". Freire, por sua vez, prega independência em relação ao chefe do Executivo, mas se diz identificado com os valores que Bolsonaro representa.
Procurado, o secretario nomeado Leonardo foi questionado por O POVO sobre se acredita no projeto do PDT para Fortaleza, em vigor há oito anos, já que no primeiro turno apoiou a candidatura do irmão.
"Naturalmente apoiei meu irmão no 1º turno, já no 2º turno apoiei o Sarto juntamente com o PRTB", ele disse em conversa pelo Instagram. E adicionou: "Acredito na pessoa do prefeito e vou ajudá-lo a fazer uma excelente gestão em Fortaleza. A hora é de construir saídas para os problemas da Cidade."
O secretário da Regional 10 ainda frisou que Freire não possui qualquer participação na escolha pelo nome dele, já que o deputado não possui interlocução com o grupo governista local.
"Como meu currículo é qualificado para questões relativas à cidade, fui apontado pelo presidente Estadual do meu partido, Júnior Aguiar. Minha indicação é portanto uma opção técnica."
Com Vitor Magalhães e Filipe Pereira