Principal liderança de oposição no Ceará, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) anunciou voto no candidato Arthur Lira (PP-AL) à Presidência da Câmara dos Deputados.
Segundo explicou em nota enviada ao O POVO, a alternância de poder "é fundamental para a democracia, e a mudança periódica de lideranças em determinados cargos públicos é naturalmente positiva para a condução dos destinos de uma instituição que representa o nosso povo."
Na sequência, ele ainda acrescenta: "Rodrigo Maia está no poder há três mandatos, tensionando com o Governo Federal. O Brasil vive momentos que exigem união e, na Câmara Federal, é fundamental alguém com capacidade de diálogo sem ser subserviente. Por isso, voto em Arthur Lira."
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O deputado de Alagoas é o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa ao principal posto da Câmara dos Deputados. Lira é líder do agrupamento de partidos intitulado "centrão". Ele enfrenta o candidato de Rodrigo Maia (DEM-RJ), Baleia Rossi (MDB-SP), numa eleição datada para 1º de fevereiro, mas já iniciada nos bastidores de Brasília.
E não só de Brasília. Ambos os candidatos estarão quarta-feira, 13, em Fortaleza, numa incursão que visa costurar votos entre os 22 deputados federais cearenses.
Rossi lidera bloco formado por 11 partidos (MDB, PSDB, DEM, PT, PSL, Cidadania, PV, PSB, PDT, PCdoB e Rede) que possuem juntos 279 deputados. Ao lado de Rodrigo Maia, ele vai encontrar o governador Camilo Santana no Palácio Abolição.
Lira, por sua vez, representa frente com pelo menos 206 votos. Estão com ele PL, PP, Republicanos, Pros, PSC, Avante e Patriota. Dissidências podem alterar o jogo para um lado ou outro.
O candidato do centrão deve se reunir parlamentares com cearenses em jantar. "Na segunda vamos confirmar a agenda", resumiu-se a dizer AJ Albuquerque (PP-CE) em contato com O POVO. O deputado do PP é um dos articuladores da viagem de Lira ao Ceará.
Do outro lado da disputa, Rossi criou nesse domingo, 10, um princípio de atrito com Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao sinalizar, em entrevista à Folha de S. Paulo, que eventual impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não prosperaria. Para ele, a condução de um processo de deposição geraria instabilidade no País.
Disse Baleia Rossi: "Não é o caminho, não é bom para o Brasil. O impeachment é o extremo do extremo do extremo que está na nossa Constituição. Precisamos hoje de estabilidade. E reafirmo que não houve compromisso de abertura de impeachment."
A presidente nacional do PT então frisou que o emedebista pode perder votos entre os deputados federais petistas, que formam a maior bancada da Câmara com 52 assentos.
"Dar resposta a crimes do Executivo é o item 3.6 do compromisso de Baleia Rossi com a oposição", ela recordou, adicionando ainda numa rede social: "Inclui analisar denúncias de crimes do presidente da República, mesmo que não haja acordo para aprovar impeachment. Ao negar o que tratamos e fechar essa possibilidade, Baleia perderá votos no PT."
O PT é peça fundamental nos planos de Baleia Rossi de conquistar o comando da Casa. O endosso à sua candidatura, contudo, não é consenso entre petistas, que se incomodam em apoiar um nome do MDB.
A legenda do ex-presidente Michel Temer capitaneou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara e no Senado, em 2016. O outro candidato, porém, é Arthur Lira (PP-AL), do "centrão" e abertamente apoiado pelo presidente da República.
Baleia não é exatamente um candidato de oposição a Bolsonaro. O paulista comunga com a agenda econômica do Planalto, por exemplo, assim como Rodrigo Maia, o principal fiador do deputado.
O emedebista atrai essas parcelas do Parlamento antipáticas a Bolsonaro por enfatizar, como promessa central, que a Câmara será uma Casa independente.
Também promete que pautas ligadas a questões comportamentais, como flexibilização do porte de armas, um pleito dos conservadores bolsonaristas, não serão pautadas.
É portanto uma linha similar a de Maia, que dá celeridade à plataforma econômica de Paulo Guedes (ministro da Economia), sem deixar de criticar os confrontos nos quais Bolsonaro investe.
Logo após a manifestação de Gleisi, Baleia correu a amenizar o incômodo provocado. Segundo publicou nas redes sociais, os dois conversaram e ele reafirmou os compromissos firmados com a oposição. "O que inclui usar todos instrumentos constitucionais em defesa da democracia. Antecipar juízos agora não ajuda. Isso é o que disse à Folha."
Falei com a presidente @gleisi agora pouco. Ressaltei que vou honrar cada compromisso firmado com os partidos de oposição, o que inclui usar todos instrumentos constitucionais em defesa da democracia. Antecipar juízos agora não ajuda. Isso é o que disse à @folha.
— Baleia Rossi (@Baleia_Rossi) January 10, 2021