Com fala marcada na Cúpula do Clima de hoje, Jair Bolsonaro (sem partido) deve ter dificuldade em equilibrar ações do governo na área ambiental com o discurso de sustentabilidade esperado pela comunidade internacional, analisam cientistas políticos ouvidos pelo O POVO.
Segundo interlocutores do governo, é esperada postura mais “amena” do Planalto, seguindo carta enviada por Bolsonaro ao presidente americano, Joe Biden, que reforçava trabalho do País na preservação ambiental, além de cobranças por maior investimento internacional na área. O discurso, no entanto, pode ser colocado em xeque pela prática.
“Provavelmente ele virá com um script mais moderado”, diz a cientista política Monalisa Soares, do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia da UFC (Lepem-UFC).
“A questão é que vão se expressar também ruídos, como a própria liderança indígena que irá falar, e a carta que os governadores também enviaram ao Biden, tudo em contraponto a ele. Tudo isso, além da imagem que vem sendo criada, expõe discordâncias com o discurso”.
Ela destaca, por exemplo, almoço que Bolsonaro organizou ontem para o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), ocorrido no mesmo dia em que ele era alvo de protestos nas redes. “Ainda que se modere um discurso para a cúpula, o gesto mais expressivo é que Salles, que é o mais identificado com o desmatamento, continua no governo”.
O cientista político Felipe Albuquerque, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), faz avaliação semelhante. “Vai ser difícil demonstrar que sua administração valoriza a preservação ambiental com as diversas notícias de desmantelamento das políticas de combate ao desmatamento ilegal. Também terão que modular o discurso com o centro de sua base, que acha que tudo vai muito bem, obrigado”, diz.
“Faltará credibilidade nas promessas. Afinal, o que significa zerar o desmatamento ilegal até 2030? Combater efetivamente aqueles que põem a floresta abaixo, ou legalizar todo tipo de desmatamento e exploração?”, afirma. “Não acho que haverá surpresas no discurso, mais apaziguador e moderado. Surpreso mesmo só fico se ele cumprir o que prometer”.