Manifestantes foram às ruas de Fortaleza ontem pedindo "fora Bolsonaro" e mais vacinas contra a Covid-19, que já matou mais de 460 mil pessoas no Brasil. Na capital cearense, os atos se concentraram no entorno da Arena Castelão, de onde partiu uma carreata por volta das 16 horas, e na Praça da Gentilândia, no Benfica.
Da praça, os manifestantes saíram em caminhada pela avenida 13 de Maio. De máscaras, tentando resguardar distanciamento social e muitos portando o próprio álcool em gel, dirigiram-se ao logradouro em frente à Igreja de Fátima, no bairro vizinho, onde o protesto se encerrou com ato ecumênico.
A manifestação em Fortaleza fez parte de uma agenda de mobilizações pelo país, com eventos em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e outros estados.
Professor de turmas do Ensino Fundamental, Henrique Rodrigues explica por que foi à carreata de ontem. "Estava ansioso por uma forma de protesto concreta. Vir, para mim, é dizer que não estou satisfeito com o presidente que foi eleito, eu preciso que as coisas mudem, que todos se vacinem e vencer a pandemia".
Alexandre Marcos, técnico em saúde bucal, acompanhou a marcha dos manifestantes do Benfica à praça. "Estou aqui para lutar porque não dá mais para ficar em casa. Sei que não é correto, mas chegou o momento em que esgotou. É preciso ir pra rua pra lutar", defende. "Porque ou você morre de fome", conclui Marcos, "ou morre do vírus, ou morre de violência".
Entre os que estavam na 13 de Maio, mensagens nos cartazes lembravam os mortos pela Covid e a postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Muitas faixas chamavam o chefe do Executivo de "genocida" e pediam a sua saída do governo.
O ato ocupou umas das faixas da avenida, enquanto a outra estava liberada para o trânsito. No fim, a organização da manifestação solicitou que os presentes respeitassem as regras sanitárias. Aglomerações, contudo, foram inevitáveis.
Professor de Direito da Universidade Regional do Cariri (Urca) e um dos que foram à passeata, Fernando Castelo Branco afirma que "ninguém estava ali porque gosta ou porque quer, simplesmente".
"Estávamos porque percebemos a necessidade de estar. Estávamos porque temos a consciência de que Bolsonaro potencializa as mortes causadas pelo vírus", aponta o docente.
Para ele, "não podemos esperar até 2022 para derrotar Bolsonaro. Até lá, sua política terá destruído mais empregos, empobrecido mais gente, matado muito mais pessoas".
Castelo Branco avalia que a CPI da Covid tem desgastado o presidente, mas não se pode aguardar o desfecho dos trabalhos da comissão.
"Do ponto de vista jurídico", continua o professor, "a CPI produzirá um relatório a ser encaminhado ao Ministério Público para eventual oferecimento de ação contra responsáveis por crimes. Ora, isso já está sendo feito em investigações da polícia e do próprio MP".
24 estados e DF têm manifestações contra Bolsonaro e por 'vacina já'
Dezenas de milhares de pessoas protestaram em várias cidades brasileiras contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), especialmente por sua gestão caótica da pandemia, que deixa mais de 461 mil mortos e ameaça se intensificar de novo. Os atos foram registrados em 24 estados e no Distrito Federal. Segundo organizadores, pelo menos 170 municípios participaram das mobilizações.
No centro do Rio de Janeiro, cerca de 10 mil pessoas protegidas com máscaras compareceram à manifestação convocada por várias organizações de esquerda e movimentos estudantis e desfilaram aos gritos de "Fora Bolsonaro", "Bolsonaro genocida", "Vacina já" ou "Fora Bolsovírus". Em São Paulo, à tarde, após uma chuva forte, outros milhares lotaram a Avenida Paulista, icônica via da capital econômica da América Latina.
"Ninguém queria testar na rua no meio de uma pandemia. Bolsonaro não deixa outra alternativa. Estamos na rua para defender vidas. Nós não vamos esperar sentados (pelas eleições presidenciais de) 2022. É só o começo", disse Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), e candidato do Psol à Presidência em 2018 e à prefeitura de São Paulo em 2020.
As passeatas ocorreram após dois fins de semana com manifestações de apoio ao governo convocadas pelo próprio Bolsonaro, em resposta à sua perda de popularidade, que caiu para o mínimo histórico de 24%, de acordo com a última pesquisa do Datafolha.
A pesquisa revela, ainda, que 49% dos brasileiros são a favor do impeachment, enquanto 46% são contra, e aponta o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), grande rival de Bolsonaro, como o favorito para vencer as eleições de 2022.
"Nós precisamos deter esse governo, precisamos dar uma basta. Esse Bolsonaro é um genocida. Ele é um assassino, ele é um psicopata, ele não tem sentimentos, ele não sente como a gente. Ele não é capaz de perceber o desastre que ele esta fazendo", disse o empresário Omar Silveira.
Os manifestantes também fizeram outras críticas ao presidente, a quem acusam de promover o desmatamento da Amazônia, a violência dos invasores de terras indígenas e o racismo.
Os protestos se repetiram em dezenas de capitais brasileiras, como Salvador, Recife, Brasília e Belo Horizonte, onde um manifestante se fantasiou de esqueleto levando em uma mão uma foice e na outra, um frasco de cloroquina - sugerida por Bolsonaro apesar de sua ineficácia para tratar a Covid.
A capital federal teve o maior protesto de rua contra o Bolsonaro desde o início da pandemia. Os manifestantes caminharam em direção ao Congresso, onde a CPI da Covid no Senado investiga há semanas possíveis "omissões" de Bolsonaro na pandemia. Na Câmara acumulam-se, também, dezenas de pedidos de impeachment contra o presidente.
Os organizadores das passeatas pediram aos presentes que respeitassem as medidas de proteção contra o coronavírus, e até distribuíram máscaras e álcool gel em várias delas.
No Recife, a manifestação com centenas de pessoas terminou com forte repressão da Polícia Militar de Pernambuco, que disparou com balas de borracha e usou spray de pimenta e bombas de efeito moral em manifestantes. A ação da PM foi realizada já no fim do ato político, entre a avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, e a ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, por volta do meio-dia.
Governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) repudiou a violência policial durante ato. Câmara também disse, em vídeo publicado nas redes sociais, que determinou a imediata apuração de responsabilidade. (com Agência Estado)
Coletivos
Na manhã de ontem, o grupo de médicos Coletivo Rebento e a organização de mulheres Ser Ponte estenderam faixas nos semáforos de vários pontos de Fortaleza, chamando atenção para a luta em defesa da vida e da vacinação ampla e rápida