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Como a "corrida da vacina" antecipa 2022
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Como a "corrida da vacina" antecipa 2022

| Covid-19 | Disputa entre governadores e prefeitos por velocidade na vacinação reflete não só novo momento na vacinação do País, como estratégia eleitoral de olho no ano que vem
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Na campanha de vacinação contra a Covid-19 no Estado, 151 municípios iniciaram a vacinação do público geral, de 18 a 59 anos (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Na campanha de vacinação contra a Covid-19 no Estado, 151 municípios iniciaram a vacinação do público geral, de 18 a 59 anos

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vai ao Twitter. "Vai preparando o braço. Até 15 de setembro toda a população acima de 18 anos de São Paulo já terá recebido a 1ª dose da vacina". O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), rebate. "Você é o pai da vacina, mas eu já adotei a criança e já ganhei o coração”.

A “provocação” ganha adeptos. “Se Doria é pai da vacina e você (Paes) diz que adotou, é bom alertar que ela fez amizade forte com o guri do Rio Grande do Sul", diz o gaúcho Eduardo Leite (PSDB). Sem querer ficar de fora, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), “quebra a banca” e anuncia um arraial de vacinação, com direito até a mingau de milho de brinde. Em poucas horas, vários governadores e prefeitos entram na brincadeira.

Apelidada nas redes de “rinha das vacinas”, a troca de mensagens entre gestores não só movimentou as redes sociais na última semana, como ajudou a marcar novo momento na campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Se antes o País vivia às voltas de atrasos na imunização e dificuldades na aquisição de insumos, a chegada de novas vacinas dá novo gás ao processo e se reflete até em uso político do tema – tudo de olho em 2022.

“Quando a gente fala em politização da vacina, é algo que soa até redundante, porque é só pensar em todo o processo até agora, em tudo que se deu. Tudo que se refere à pandemia no Brasil já foi e vai ser politizado”, avalia o cientista político Cleyton Monte, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“A gente tem a visão da ciência, é claro, mas a gestão da pandemia se desenvolveu de uma forma muito politizada”, continua, apostando que o tema será "central" na disputa de 2022.

Professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), a cientista política Monalisa Soares corrobora: “O processo de algum modo sempre foi perpassado pelas disputas políticas. A própria postura do Governo Federal, inicialmente de rejeitar a compra dos imunizantes, e a corrida do governador Doria pela produção via Instituto Butantan, já selaram esse caminho”.

Nesse sentido, crescem iniciativas de prefeitos e governadores no sentido de “acelerar” e dar maior publicidade à vacinação de suas regiões. O próprio João Doria, por exemplo, anunciou no início de junho a antecipação em 15 dias do calendário de vacinação da população adulta de São Paulo. Atualmente, no entanto, a “liderança” no quesito é do Ceará, com previsão oficial de encerrar a primeira dose da vacinação de adultos em 25 de agosto.

“Todos os atores políticos usaram de alguma forma a vacinação nesse contexto político. Não só o Doria, como o próprio Bolsonaro, a maioria dos agentes políticos usaram a vacinação e estão usando como forma de contato com suas bases”, diz Cleyton Monte.

A mudança de ritmo ocorre sobretudo com a chegada de novos imunizantes no País. Até abril, quase 80% de todas as vacinas aplicadas eram da CoronaVac, que chegou a ter problemas com insumos devido à alta demanda dos estados.

De lá para cá, no entanto, foi ampliada a chegada de lotes de imunizantes como os da Astrazeneca e da Pfizer, além de outros com perspectiva de envio nas próximas semanas, como da Janssen e Sputnik V.

O “novo gás” na vacinação, no entanto, pode ter também motivações políticas. Em publicação no Twitter, o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), atribuiu aos trabalhos da comissão recente antecipação na vacinação anunciado pelo Ministério da Saúde. "Parabéns à CPI e à pressão do povo brasileiro".

Para Monalisa Soares, a "corrida" é também estratégia de governadores para demarcar diferenças de procedimento entre eles e o governo Jair Bolsonaro, que inicialmente adotou postura negacionista com as vacinas.

"Vem no sentido de manter a versão de que sempre defenderam os imunizantes e que efetivamente trabalham para que a população seja vacinada", diz. Ela destaca, no entanto, recente guinada na posição do Governo Federal a favor das vacinas, puxada sobretudo por Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde.

Neste sentido, o próprio ministro também participou da “rinha” de redes sociais, chegando a “cobrar créditos” da vacinação em uma das publicações de João Doria sobre o tema.

"Com as doses enviadas pelo Governo Federal, a população adulta do Estado de São Paulo estará imunizada até setembro", disse. Doria rebateu: “Quanto recalque, ministro". Para Soares, impactos da vacinação em 2022 dependerão dessa “disputa de versões”.

Segundo analistas, o novo ritmo também não necessariamente trará repercussões políticas para os governadores. “Só vai ter um ganho se você tiver um fato extraordinário, por exemplo se o Ceará for mesmo o primeiro estado com 100% da vacinação. Se isso ocorrer, é claro que vai trazer um resultado, até porque já existe um consenso de que a pandemia e a vacinação estarão no centro da campanha de 2022”, diz Cleyton Monte.

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